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29 março 2017

espírito cibernético do Natal passado

Tem um episódio de Aquateen com esse título, decidi catar pra ilustrar o post. Sou horrível com títulos desde 1986.

Duas desculpas esfarrapadas para esse post!
1) deixar esse link pros episódios de Aquateen Hunger Force;
2) relatar algo bem interessante que ocorreu dias atrás.

Sacam aquele conto do Charles Dickens sobre o velho sovina que recebe a visita de fantasmas que falam alguma lição de moral pra ele ser bom, gentil, generoso e socialmente aceitável?

Bem, esses dias eu me vi com 61 anos, empolgada com livros de anatomia, deixando estagiarie aqui boquiaberte com a quantidade de termos técnicos e a avidez de querer entender o sistema esquelético. Havia a parte de discutir ética sobre algumas partes da ciência (embriões e sua anatomia nos livros mais acessíveis), mas eu me vi nessa senhora de nome bacana, manézinha que só ela e dando um show de quanto estava interessada em aprender mais sobre o nosso corpo.

Ao vasculharmos um livro com fotos de células que fazem parte dos sistemas, comparamos juntas em como pareciam com sorvete, salsicha, repolho e variados. Tivemos essa viagem intelectual juntas, eu me vi daqui há 30 anos como ela.

O tempo passou absurdamente rápido, o atendimento que faço no máximo 5 minutos, foi se meia hora, nem vi. E achei incrivelmente legal de saber que ela estava empenhada em fazer o trabalho mais interessante. E iria falar lá na frente também na apresentação.

Eu observo bastante as pessoas que entram e saem, vejo algumas nuances e rotinas, adoro quando encontro esses cúmplices de rotina, flanando sobre o balcão, rolando no tapete do setor infanto-juvenil. Sendo eles mesmos nessa inversão de valores biblioteconomísticos.

Eu me vi em relance daqui há 30 anos e tou feliz, acho que todo mundo deveria ter esse momento na vida pra começar a questionar algumas prioridades da vida.
Espero que tenham.

25 março 2017

vivências maternas

Uma das vivências que gosto de ouvir de minha mãe é sobre como ela sobreviveu na época da ditadura, em plena juventude, no Rio de Janeiro, com DOPS fungando no cangote dos universitários e coleguinha de sala de aula sumindo a cada semana pra fazer um passeio sem volta.

Ela fala com certo orgulho que no local onde ela trabalhava - uma companhia de seguros conhecida até hoje - um dos chefes a elogiava sobre a organização informacional que ela conseguia ter com os funcionários de um setor inteiro e como tratar tudo de uma forma que todos pudessem resgatar depois. Numa dessas conversas que temos ela soltou que o mesmo chefe pediu para ela fazer um teste vocacional e o resultado foi bibliotecária (!!!), ela polidamente recusou, pois naquela época ser aproximado de Humanas era pra pedir pra estampar um adesivo de alvo ambulante pro governo militarista.

Minha mãe quase se formou em Economia, quase. Faltou 1 semestre para ela formar e os motivos para sair foram diversos - ironicamente os mesmos motivos que fazem muitos de meus colegas da biblio desistirem também - mas a falta de ter uma estabilidade política era um dos mais fortes. Ela não tinha certeza se continuaria no emprego até o final do mês, ela não sabia se o salário ia aumentar, diminuir, inflacionar, ir pro limbo cósmico, ser convertido em dólar, em dinares ou pesares, a incerteza econômica era certa. E ela estava se formando para isso.

Ela tinha seus 20 e poucos e mais anos, solteira, recém-saída de um relacionamento duradouro, morando sozinha há anos, sem apoio dos pais ou irmãos, se sustentando como dava em um emprego que de certa forma dava um pouco de certeza para ela (como pessoa, ela fala muito bem dos tempos nesse lugar), mas não de estabilidade emocional, psicológica ou financeira. Ela fazia o que gostava - chefiar um setor todo de controle de qualidade e depois subiu para alguma coisa no departamento pessoal e ordeira como era, fazia com que tudo saísse nos trinques pra não dar ruim depois.

E isso ela participava ativamente de reuniões, de CIPA, de conselho de sei lá o quê, da atlética da faculdade, mas o medo de travar conhecimento com militar era constante. Não era fácil ser mulher naquela época e muito menos hoje, as práticas de exclusão e repreensão são as mesmas, só muda os cenários.

Ela faz 66 anos hoje, bem vividos, sem muitas pendências, criou as filhas como dava, sobreviveu a casamento sem amor assim oooooh nossa vai ser pra sempre que romântico. Pela vivência dela me deu muitos exemplos do que fazer e não fazer, a principal referência profissional que tive dentro de casa foi ela, e agradeço bastante o apoio que ela tem me dado quando escolhi a Biblioteconomia como minha paixão. Creio que a lucidez dela me trouxe muitos caminhos para trilhar, mas também muitas dúvidas (aquela dependência nociva de achar que sempre estará no colo da mãe? Yep, me livrando aos poucos para meu bem e o dela), a força dela em batalhar todos os dias pra se superar perante uma porção de dificuldades também.

Então desejo a Karolent, a Entesposa um belo dia de Lite (Quem é nerd demais para decorar datas comemorativas na Terra-média, sabe do que tou falando), e que ela possa continuara florescer nesse mundo. Eu não sei o que faria sem uma mãe dessas.

23 março 2017

[conto] a cidadezinha

Esquina da Bourbon Street no French Quarter - Nova Orleans
Título: a cidadezinha (por BRMorgado)
Cenário: Original/Cotidiano - Nova Orleans.
Classificação: 18 anos. (linguagem forte, violência, morte, abuso de drogas).
Tamanho: 4.789 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Diálogos quebrados entre os anos de Sarah Irina ingressar na Marinha e a volta forçada para casa.
Disclaimer: Como não largo as vibes de Nova Orleans e aproveitei o cenário que já tenho (Felicidade Adormecida, em breve um link prestável) para colocar essa pequena peça de diálogo. Faz parte desse cenário aqui também [x] - Escrevi esse pedaço em forma de diálogo, então bora tentar deixar desse jeito e ver se flui a história.
Trilha sonora: Sem trilha dessa vez, mas bota tudo que for dos anos 80 aí nessa mistura e um bocado de música country da sofrência mais pra frente.

 - Música boa!
 - Arram...
 - Pensei que o DJ ia só tocar paiera.
 - Oi? Parceira?
 - Paiera! É tipo, música tosca!
 - Mas é música tosca tocando!
 - Quê?
 - Trash dos anos 80 é música de qualidade pra ti?
 - É classicão da porra!
 - Nossa, nunca pensei que você tinha a capacidade de xingar... Estou impressionada.
 - Tem umas coisas que cê precisa saber de mim antes né?
 - Qual tipo de coisas?
 - Cê sabe, essas coisas que só gente como a gente costuma trocar...
 - Acho tão fofo esse teu jeito de confiar sem antes de saber as intenções da pessoa...
 - Uai, não rola isso a esse ponto não?
 - Dividimos a cama uma vez...
 - E outra vez sem a cama... E mais outra sem ter divisão alguma... Eu diria... NOSSINHORA DEPECHE MODE!!
 - Uau, meu ouvido?
 - Foi mal, mas!!!
 - É, eu sei... É a nossa música...
 - Se chegamos ao ponto de ter uma música só nossa, por que não poder contar segredos?
 - Sei lá, a gente tava meio que...
 - Dividindo cama?
 - Isso.
 - Trocando DNA?
 - Okay.
 - Dando uns pegas?
 - Certo, já colocou seu ponto de vista bem nítido sobre esse assunto.
 - Se te incomoda, tudo bem. Deixo baixo que é melhor, né?
 - Música tocando, bico fechado.
 - "Nossa" música tocando.
 - Nossa...
 - Deviam tocar uns punk...
 - Aí cê tá pedindo demais... Vou ali com a turma.
 - Beleza. Te vejo depois?
 - Urrum... Nada de ir pra roda punk, maluquinha...
 - Mas nem vai tocar punk.
 - Quem disse?
 - Você acabou de dizer?
 - Não acredite em tudo que digo, pode ser bem perigoso...
 - Beleza.

os filtros de culpabilidade para o sistema limbico foram atualizados

Clica cá [x] pra entender o que um filtro de sonho faz energeticamente na sua vida.
Assim como esse instrumento de origem mística para manutenção de desejos do subconsciente (culpa o chato do Freud, ele que veio com essa dos sonhos), a vida de adulto - chata por sinal - precisa de alguns cuidados com sonhos acordados. Como por exemplo, manter a sanidade em ocasiões em que o senso geral das pessoas em volta estão fora do padrão - sóbrio, comportado, agindo de forma polida e sem atrito argumentativo. O sistema límbico agradece.

O que ando tendo mais dificuldade por conta de um ser miserável alojado entre o manipura e o svadhisthana que insiste em responder perguntas externas com divagações nada adequadas para a normalidade. Às vezes uma pergunta inocente pode nem passar pelo meu eu tradicional, boboca e contido, ir direto pra caixa de mensagens do bendito e a resposta resultar uma falha vocal ou um atropelo de palavras apressadas pra disfarçar o nervosismo. Em tese era pra dar uma resposta correta e socialmente aceitável né? É o protocolo. Mas aí quero responder algo indevido, insinuante e com terceiras intenções.

Mas não pode, porque status quo é uma ferramenta castradora tão bacana que você mistura com a culpa de sentir aquilo (sim aquilo mesmo) e não poder transparecer sua opinião verdadeira sobre...

A pergunta básica e trivial: "Como vai passar o feriado?" - poderia ser muito bem dialogada com algo igualmente trivial. Vou dormir, vou estudar, vou ser responsável academicamente porque é isso que paga o meu feijão na mesa. Mas não, o ponto de intersecção quer responder: "Na cama, com você de preferência, de conchinha, sem roupas" - mas não pode. Óbvio que não pode. Quem em sã consciência iria dizer isso situação dada? Você responderia isso no meio da rua? No ponto de ônibus? Na fila do supermercado?

Que assunto óbvio, pelamoooooor!! Alguém indaga indignado por estar tratando de uma apresentação mais direta sobre como uma pessoa extremamente tímida, sem prática nas artes de sutileza e sedução (pelo que já ouvi, precisa de expertise e altas skills pra chegar em um ponto aceitável socialmente) precisa parar e se auto questionar de vez em quando. Pode não parecer, mas a vida aqui atrás do muro de concreto firmado pra não sofrer dano por diversos tipos de humilhação, admoestação, acusação, distorção de fala, costuma ser uma guerra civil.

Ser sutil nessas horas é impossível, eu já nem sei mais como fazer isso sem querer planejar falas e as saídas de emergência pra algum tipo de furo. Plus, pessoas ditas socialmente normais, aceitáveis, conforme a padronização não estão acostumadas a ouvir esse tipo de resposta e ter uma reação boa. Na verdade, elas não querem ouvir isso dessa forma. O que é uma pena, porque não encontrei outra forma em que me deixasse confortável para me expressar.

Convidar para um café? Um passeio? Ouvir música alta? Estudar e discutir sobre algum autor maluco? Não pode ser mais simples? Na minha cabeça de melão sim, ter a coragem de falar é que não, por conta desses fatores todos ali descritos.

Ainda mais quando há diferenças de hierarquia, geracional, os idealismos de como introduzir uma conversa direta sobre essa situação. Por Odin de saias, tem a problemática da não aceitação em estar com alguém trans+. E tem a culpa. Essa maldição herdada da sociedade patriarcal ocupa um espaço enorme nessa hora.

Culpa de querer desejar, de se querer ser desejade, uma culpa extra por deixar o corpo (consequentemente as emoções) controlar o racional e bota mais uma pitada da culpa capital pela luxúria acima do socialmente aceitável que já fui repreendide algumas vezes. Tem culpa em tudo aí, dilema barroquista do pecado versus redenção. 
(mesmo eu já sabendo que tenho carteirinha VIP em qualquer opção de inferno ou tormento eterno pregado por alguma crença aí - construtos ideológicos para sufocarmos essa sensação de que se reproduzir sem a expectativa de produzir descendentes e apenas em busca de prazer)

Os golfinhos sabem bem o que estou falando
(E eles serão os primeiros a irem embora da Terra, cês sabem)

Então, o que vou fazer no feriado mesmo? 
Negando mais um pouco desejos reprimidos e oportunidades de novas experiências com quem gostaria de mapear o corpo com os meus lábios. 
(E não pode. Não pode.)

Oh! Artigos! Tenho uma montoeira deles pra ler e escrever um!

(A repetição da frase "aceitável socialmente" para fins educativos. É pra grudar na cachola e não sair, tá?)

14 março 2017

poema número 20 de pablo neruda

Queria escrever altos textos reflexivos aqui, mas aí lembrei que Pablo Neruda já fez isso no idioma que não consigo compreender muito bem e o Sixpence None the Richer traduziu em música só para finalizar com tudo.
(Mas na hora da sofrência, camarada, até meus neurônios ligam a parte linguística ignorada para o idioma latino derivado da árvore ibérica)


Poema nº 20 por Pablo Neruda.

PUEDO escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos
árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis
brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

13 março 2017

[rosenrot: o colégio carmim] pequenos fatos

[esses são alguns rascunhos na fila sobre o meu cenário de RPG para Mundo das Trevas Clássico - Rosenrot: o colégio carmim. Tava ativo entre 2003 a 2006, mas acabei não escrevendo mais. Peguei alguns contos que já tava na cachola e coloquei alguns elementos do cenário. É praticamente ressuscitar plot já morto *no pun intented*]

É uma cadeira simples, madeira, escurecida pelo tempo e pelo o que seja que já passou por ela. Disseram que seria indolor, duraria por alguns segundos. 
Pareceu uma eternidade.


Os gritos estridentes, o ruído da tempestade, os grilhões, o calor escaldante, a areia. 
Areia em tudo quanto é canto. 
E de repente essa memória que me persegue desde criança, uma masmorra escura, fria, congelante, mãos para cima, braços doloridos e esfolados, pés mal tocando o chão, apenas um breve aliviar dos dedões do pé encostando para manter um ponto de apoio. O cheiro é horrível, invade meu nariz e me faz querer vomitar, mas aí percebo que não há comida em minha barriga há muito tempo.

Tudo é quieto e assustador. Estou com medo, muito medo. Tremendo e evitando não gritar para fazer esse silêncio maldito ir embora. A areia está em alguns cantos, mas está ali, cobrindo meus pés, salgando parte do meu corpo, ferindo meus olhos com alguns grãos. O tilintar dos grilhões é de minhas mãos, correntes presas no teto da cela e me pendurando como um pedaço de carne em açougue.
É isso que sou para ele.

A noção de tempo aqui não existe mais e se o inferno cristão é verdade, não poderiam ser mais criativos. Eu sei bem quem é meu captor, quem é meu inimigo particular, meu demônio sangrento que irá me atormentar para resto de minha existência. Até ele morrer de verdade, não terei paz. 

Não quero paz, não aprovo a paz. Se o sangue é a vida, é isso que ele apenas terá. Sangue dos que ama nas suas mãos e nas minhas. Principalmente nas minhas.


Passos no silêncio, arrastados, sem coordenação, não é ele, é um dos outros. Tento desesperadamente puxar os grilhões para fora da armação de correntes no teto, nada além de mais dor e feridas em meus punhos. Preciso sair daqui, preciso sair daqui, preciso...
 - Oh minha criança... Tão aflita e fraca... - a voz me atinge como uma faca de lâmina fria, descendo do peito para meu estômago, vagarosamente. Não é um deles, é pior. Era a minha amada até a desgraça atingir nossa família.

===
A rotina é a mesma aqui em Rosenrot
A escola pode ter ido pro chão uns anos atrás, mas não há nada que os Corvinus não façam pra manter a mamata deles. Desvio, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, falsificação ideológica e de propriedade. Tudo que for para manter o verdadeiro motivo desse lugar funcionar será feito.

Por isso tou aqui. Observando. 
Vendo se está tudo nos conformes, vendo se não quebram as regras. 
Por mais nobre que seja a missão da Irmandade, não quer dizer que não sejam capazes de cometer pecados. A pedra fundamental dessa construção está impregnada de sangue dos inocentes e a corrupção é a opção que temos.
Minima de malis.

Pelo menos mantemos essas aberrações longe do convívio dos inocentes. 
Aquele moleque do terceiro ano, por exemplo. Vai virar um psicopata com aquele fetiche de ficar seguindo os professores. E aquela turminha que acha que não sei que usam o banheiro em reforma pra fumar? Todos uns delinquentes que se saírem daqui vão causar muito estrago lá fora. As novas aquisições também não estão sendo as melhores, muito pirralho do interior, cheio de manias esquisitas, se comportando como animais nos intervalos e antes de irem pra cama. Vi um deles com outro no portão dos fundos fazendo você sabe o quê. 
Não tem noção alguma de decência.

A maioria não comparece a missa de domingo, não respeita o Evangelho, não dá a mínima pra palavra do Senhor. Todos condenados. E essa Irmandade também é. 

Última vez que tentaram invadir o prédio pra pegar um dos guris do interior na porrada (algo a ver com ter mordido o traseiro de algum traficante aí), o povo da biblioteca botou eles pra correr. Aí que os boatos começaram.
E boatos aqui não costumam ser meras fofocas.

11 março 2017

[interlúdio] pune e ação

A semana foi estafante. 
Engolindo vários anfíbios. 
Tensão de coisas não resolvidas. 
Expectativas de coisas realizadas. 
Ansiedade, minha amiga, sempre presente.


Vim dormir no sofá. O desconfortável sofá. 
Ação punitiva para delito menor meu, pensar demais, culpando o corpo demais, achando que a redenção é amargar o tecido vivo pro intelectual calar a boca.
Uma atitude bem barroca nos moldes do "peco o dia inteiro pra de noite rezar fervorosamente pra ter redenção".


O sofá é rude. 
Minha cama, meu lugar favorito por vários motivos, fica em terceiro plano.

Aqui no sofá deito, sem pestanejar quanto ao envolvimento em querer punir meu corpo ativo. 
Deixar essa máquina inquieta virar submissa. 
Ter controle de novo, através da dor, nem que seja mínima, da torturinha de dormir em local inadequado (hello busão my old friend) e sofrer por alguns dias de desconjuntamento dos ossos e músculos.

No sofá tenho pesadelos.

Não é novidade que os tenho (na cama ou não), estão comigo desde sempre, mas no sofá é o novo elemento. O pesadelo que deveria ser o aprendizado, me alerta de uma coisa: ao me punir para diminuir minha ação, estou literalmente fazendo o que mais morro de medo - me apagar.


O pesadelo é um recorrente, encontros aleatórios com pessoas que não devo ter mais contato pelo bem de minha Sanidade. Tudo ocorre como num script de cinema, as falas encaixadas, as situações corretas, a não ser por essa inquietante aflição que me acomete e me faz fazer o oposto do que eu faria no mundo tangível. Eu choro, esperneio, imploro, me arrasto, perco meus medos, destruo meu orgulho, me entrego sem problemas. Eu não tenho medo de sentir.

Esse é o pesadelo recorrente. 

O se deixar sentir - seja raiva, tristeza, paixão, decepção - maximiza a sensação nos sonhos. 
Lá me sinto menos culpa que aqui. 
Uma culpa que nem deveria existir. 
Uma vontade louca de escapismo que não posso fazer aqui. 
Os sonhos são coisinhas inconstantes fabricadas por anjos, certa banda folk já cantou. 

De anjos já me cansei e não os legitimo como meus protetores.
(Tem panteão melhor, sério. Mais qualificado e de confiabilidade comprovada)


A dor? 
Essa sim é real aqui também (e nos sonhos), ela me resguarda de muitas coisas. 
Ela me ensina mais. 
Ela gera inquietação que me movimenta mais. 
É a dor. Não outra coisa.

Queria parar de sonhar com você. Queria convencer meu cérebro que as lembranças contigo são uma ilusão delirante que tive em momento específico da vida. As expectativas do futuro eram só fabricadas. Não lembro mais da sua voz. Ou da cor dos teus olhos. Não me recordo mais se você tem o toque quente, as mãos suaves, o sorriso esmagador. 
Eu. 
Não. 
Me. 
Lembro.


E acordar com a dor pune e ativa no sofá me lembra que isso era quem eu era e não quem deveria ser. Hoje fico com a dor nas costas, a sonolência, mas com mais certeza de que tudo que era pra ser foi em vão. Ou não era para acontecer mesmo. Nada dura pra sempre mesmo.
Isso me anima. 

Mas ter pesadelos no sofá não.

07 março 2017

[interlúdio] entre o lacre e o jarro de picles

Comecei a escrever esse texto uma semana atrás, aí veio esse artigo na minha timeline do Facebook e isso no meu dashboard do Tumblr aaaaand, bem... caiu como uma luvinha.


(Florentina é deusa d@s desamparad@s nessas horas cruciais...)

Cê vai ficando coroca e não prevê mais as "cousa" direito.

Tenho essa mãe, meio me fez passar raiva quando mais novilhe, com todo um arsenal de cuidados e quadrados, tudo pra me encaixar em algum lugar. Ela massageava demais um ego que tinha tendência em inflar e sabotar uns feelings de vez em quando pra ajudar.

Não foi legal.

A gente via isso acontecer com os primos, a mesma neurose rolando, a mesma desculpa sendo repetida (nunca recebi amor dos meus pais), o sufocamento era o mesmo. Tardios na saída de casa, sedados por medo de crescer. Fracassados em algum lugar no lugar dos nossos pais.

A atenção era desmedida, no que tinha de "supermãe" para os outros, tinha era uma jarra de conserva sendo mantida. A vida dentro da redoma vai riscando algumas coisinhas da nossa vida, uma personalidade ali, uma opinião concreta aqui, às vezes moldava coisa que não devia, como seu verdadeiro eu, aquele que você procura tanto depois que perde quando criança, mas tá lá em algum fundilho rasgado do bolso de alguém. Nunca o seu.

A dependência, essa vai criando uns tentáculos bem oscilantes, traçando espirais de fuligem e tinta escura, obscurecendo aquilo que era pra ser naturalmente colorido. Dá pra entender: eles só querem o nosso bem. Apenas isso. Mas não compreendem que entre o bem e o mal tem um caminho bem tortuoso com um pedra gigantesca no meio e um horizonte que a gente não vê. 

É assustador.


01 março 2017

operação carnaval 2017 - parte 2

Queria ter feito uma trilogia, mas não deu tempo e lugar para fazer. 5 dias de feriado, 5 dias brigando com o Major Tom (PC capenga famigerado aqui) a voltar a funcionar. 

Primeira tarefa: ver se ele continuava a funcionar mesmo com a fonte ferrada - mal contato de fios e o cabo que não encaixava de jeito nenhum. Solução: Muita fita isolante, superbonder3000 e chinelo com solado de borracha (Porque ser eletrocutade pelo meu próprio PC não está na minha lista de mortes possíveis e imagináveis).

Segunda tarefa: ver o que o UBUNTU tava dando de errado. Apesar de ser mais rápido e responder melhor aos comandos, ele não instalava nenhum programa que eu queria nem a pau. Foi nessa:
  • AMD/ATI Catalyst: ferrou com a configuração de resolução de tela por 2 dias.
  • Battle.net: Porque O CRACK NÃO SAIU DA MINHA VIDA e eu precisava urgentemente jogar Diablo III
  • Diablo III: não instalou, nem quis pegar direito. FUI PRO CRACK E FUNCIONOU!! VADE RETRO! Aí desinstalei e pronto, o momento de deslize foi de poucos minutos.
Com as configurações de vídeo ferradas, não dava para ver vídeos, logo perdi o episódio de segunda de Supergirl (Tive que assistir no celular de madrugada e não pegar spoiler no Tumblr), não dava pra entrar no Youtube porque o FlashPlayer dava biziu, não dava para fazer NADA absolutamente. Logo veio a ideiazinha de jerico: tentar bootar com Windows 7 e ver no que acontecia.

Aí mais 1 dia de passar tudo que tava no Ubuntu para HD lerdo e minha paciência virou pudim, as bad vibe já estavam pressionando também, então resolvi descansar o corpo e cérebro por umas horas. Como hora-extra em Morfeu resulta em alguns contratempos, foi:
  • Pesadelos bem vívidos
  • Cansaço extremo de drenagem energética
  • Recusar a sair da cama até mesmo em situações em que o corpo pedia
  • All the fucking angst? Yep, teve o pacote todo de "como se sentir a pior criatura na face da Terra sem precisar muito esforço para isso". Patada nas fuça da Bete enquanto dormia me fez lembrar que preciso me manter em pé pra ir pro outro dia.
  • Pessoas felizes na timeline!!
  • Dormir babando no teclado às 03h, acordar do nada às 06h e pouca e passar o resto do dia fazendo exercícios para não capotar no sofá (Polichinelo funciona realmente)
No terceiro dia, começou a enxurrada de demandas para se fazer com um computador funcionando. Mais pressão, mais pensamentos nada bons, menos vontade de sair da cama, aí entre um cochilo nada tranquilo vem aquela lâmpadazinha bacana de alumiação! Bootei a powha do Windows, esperei pacientemente o Seven fazer update, já tasquei opção de migrar pro 10 na hora. Mais meio dia nessa, até madrugada estar com tudo preparado para a pior parte: achar os drivers.

Por mais técnico que tenha sido, com erros no percalço e vontade de ter uma DR *arrepios* com o dito computador, devo extrair uma lição desse feriado prolongado: paciência é preciosa nessas horas de mindfuck bode amarrado na perna.

Pra melhorar a situação?
  • Muita gatoterapia
  • Comer menos carne, me concentrar nos legumes
  • Ouvir o Blackstar na imersão da obra, não do fato da situação ali envolvida na feitura do álbum


26 fevereiro 2017

os paralelepípedos


Quando a constante no teu mundo é de "Sorrie e acene" quando não entende como lidar com a situação, é importante sempre manter algumas cartas na manga. E elas são amarguinhas. Então os constantes paralelepípedos que me atingem nas costas quando penso em fazer algo da minha vida romântica (nula btw), deveria ser por falta de oportunidade, não de coragem. Porque coragem não tenho alguma.

Essa postagem é criptografada, as usual, e regada de jazz choroso de Nova Orleans...
(Debaixo do link, aqueles trem que não gosto de teorizar, mas preciso já que terapia não é mais uma opção - mas escrever é uma boa...)