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08 julho 2021

[estudo de personagens] Jordana Margaret Raelsin - a bibliotecária

Eu tenho ideias de perosnagens, eu escrevo.
Usá-los em alguma campanha?
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.

Pobres mortais, até parece.

Cenário de Múmia, a Ressurreição, com vocês Marga, a bibliotecária.

Status:  Viva.
(Update 19/12/2020)

Personificação de Deus Quenúbis - o Modelador

ATRIBUTOS:
Nome Completo:
Jordana Margaret Raelsin  - nome registrado.
Marga - apelido de todos que trabalham com ela.
Idade:
2020: 11 anos (aparenta)
Nasceu em 1952 - 68 anos
Escolaridade e Profissão:
Professora primária (magistério antigo)
Bibliotecária de referência da Biblioteca Pública de algum bairro de periferia de Nova Orleans
Atualmente Bibliotecária-chefe do Lugar-Entidade chamado "A Biblioteca"
Situação:
Como este personagem entra na sua história?
Marga morreu ao ser atingida por um tamanco enfeitado em um Mardi Gras em Nova Orleans. Ela conheceu o seu novo propósito ao conhecer os Bibliotecários d'A Biblioteca e receber sua missão terrena: supervisionar os Amenti que apareciam. O único problema é que ela voltou como uma criança de 9 anos. Atualmente tem 11 anos e não cresceu, nem envelheceu.
Motivação:
O que este personagem quer?
Marga quer voltar a ser adulta novamente, em seus 68 anos de vida física. Ela também quer organizar A Biblioteca e ajudar seus "estagiários", como ela chama carinhosamente os Amenti que aparecem na Entidade para se prepararem para suas missões.



Aparência
Altura
1,47m (68 anos) - 1,10m (9 para 11 anos)
Tipo físico
Baixa, atarracada, ombros largos, pernas curtas.
Tom de pele
Pele negra.
Cabelo (estilo e cor)
Curto, bem rente à cabeça e cor preto.
Olhos
Olhos castanhos escuros.
Descrição facial
Rosto redondo, queixo mais para frente, nariz largo na base, olhos pequenos, bochechas ossudas e lábio inferior mais acentuado. Tem traços hispânicos e afro-americanos.
Características marcantes ou marcas diferenciadoras
Cabelos muito rente à cabeça, como se fosse uma peruca.
Em sua forma animística tem a cabeça de carneiro na pelagem preta como seus cabelos e olhos vermelhos.
Estilo de vestimenta
Aos 68 anos - roupas formais demais, com cardigã de cor neutra, saias fechadas e abaixo dos joelhos, meias escuras, sapatos fechados e sem salto.
Aos 9 e 11 anos - vestidos de cores escuras com um tema 1920.
Maneirismos ou gestos
Gesticula demais para se expressar como senhorinha, como criança e como sua versão anímica.



Fala
Tom de voz
(alto, silencioso, forte, etc.)
Fala calma, serena e bem soletrada.
Idioma ou sotaque
Idioma natal: inglês e espanhol.
Idiomas adquiridos acadêmicamente: nenhum.
Frases preferidas
"Hey calma, está tudo bem. A Bibliotecária chegou, eu cuido disso."



Comportamento
Personalidade
Quando mais velha era uma senhorinha com muita paciência no balcão da biblioteca pública onde trabalhava. Era gentil e carinhosa com as crianças, atenciosa e prestativa com as pessoas de idade como ela e paciente com os adolescentes.
Como criança de 11 anos é irritadiça, apressada, energética e costuma querer agir com impulsividade, mas algo dentro de si dos 68 anos vividos não a deixam realizar tais atos impulsivos. Como criança e adulta, Marga continua curiosa por conhecimento e sempre disposta a ajudar as pessoas que precisam de informações.
Hábitos
Não olha as pessoas diretamente, fica encarando as mãos, a camiseta e às vezes finge que quer tirar uma poeirinha da roupa delas.
Ambição
Seguir os Propósitos d'A Biblioteca.
Ser uma bibliotecária boa.
Ajudar as pessoas a terem informações.
Maior medo
Ficar para sempre no corpo de uma criança de 11 anos.
Maior segredo
Tem a desconfiança que é além de uma senhorinha de 68 anos de Nova Orleans e uma criança atemporal. Já pesquisou demais os arquivos sobre Quenúbis e deuses egípcios da 1ª dinastia e encontrou algumas coisas que não gostaria de saber.
Como esse personagem se relaciona com demais personagens?
A cuidadora e tia bibliotecária do rolê.



Pano de Fundo
Interesses ou hobbies
Tudo que tem a ver com bibliotecas, livros e a sua cidade amada Nova Orleans.
Eventos passados importantes
Idealizadora e principal mantenedora de um dos projetos de longa-data no bairro onde sua biblioteca fica - ajuda maternidade, crianças e idosos a se alfabetizarem e terem atendimento em saúde através de um coletivo autônomo de jovens estudantes negros e hispânicos - o "Asas do Saber".
Família
Sem família e sem filhos. Seus estagiários são seus filhos e família, a comunidade do bairro também.
Casa atual
Saguão principal d'A Biblioteca, nas ruas ao redor da Metrópole acompanhando os Amenti que chegam para buscarem informações.
Situação financeira
Guardou uma poupança média dos tempos que trabalhava na biblioteca pública, mas havia um testamento seu que se morresse ou algo parecido o dinheiro iria para reconstruir a sede do Centro Comunitário que o projeto "Asas do Saber" era mantido.
Saúde
Como senhorinha de 68 anos tinha dores musculares e uma hérnia na coluna na altura dos omoplatas.
Como criança de 11 anos tem a saúde perfeita (Até demais!)
Religião
A Antiga Religião dos Escribas do Egito na 1ª Dinastia, panteão Egípcio.
Fiel à Ísis, Osíris e seu filho Hórus. Protetora e mantenedora das Múmias que chegam ou partem para Duat.

14 outubro 2018

[contos] Cuidado com a Biblioteca

Resolvi seguir meu coraçãozinho rude e escrever mais sobre bibliotecas bizarras e sobrenaturais e seus habitantes esquisitos. Então entre 30k de palavras para o TCC tem pausas para o plot costurado dessas 2 estórias que gostaria de contar.

Fandom: Original Work
Rating: Teen And Up Audiences
Warnings: No Archive Warnings Apply
Additional Tags: Libraries, Librarians, Alternate Universe - Magic
Summary: Biblioteca ciente que existe há milênios. Ela julga seus frequentadores com mudanças de estantes, sumiços de livros, ataques ocasionais com enciclopédias pesadas e demonstra sentimentos aleatórios. Quem a 'controla' é uma pessoa qualquer que está eternamente e literalmente ligada a estrutura física da biblioteca.

Teve as adições da linda pandoca Guiga com:

1 - Tem q ter um gato... que fala... e que seja mto sarcástico....
2 - O ser q "controla" pode ser uma múmia, que não aguenta mais o seu trabalho e "odeia tudo isso", mas pra se livrar da "maldição " e poder morrer em paz precisa de um substituto. Daí chega o novo bibliotecário super empolgado, mas pra assumir a posição a pessoa precisa morrer, e a múmia fica o tempo todo tentando matar o novato.
3 - E a biblioteca pode "falar" através de mensagens subliminares nos títulos dos livros que ela atira no pessoal
4 - Ela até pode falar de verdade, mas perdeu o interesse a séculos e prefere atirar coisas. Eu penso na múmia comentando "pare de atirar livros, você sabe falar!!" e recebendo uma porrada na cabeça "NO!" uashuahsuhas


---xxx---
E a continuação paralela é essa que já tinha começado com a premissa de "bibliotecária velha guarda, já pra aposentar, é atingida por um tamanco cheio de glitter, paetê e brilhinho no Mardi Gras de Nova Orleans e volta como uma criança."

Fandom: Original Work
Rating: Teen And Up Audiences
Warnings: Creator Chose Not To Use Archive Warnings
Characters: Jordana "Marga" Margaret, Original Characters, Timothy, Gloria, Reginaldo "Regis"
Additional Tags: sobrenatural, Past Lives, Librarians, Library
Series: Part 2 of Cuidado com a Biblioteca
Summary:
Uma bibliotecária senhorinha, Jordana "Marga" Raelsin - com seus tiques e afazeres infinitos na biblioteca infanto-juvenil do bairro onde nasceu e morou desde sempre - é atingida na cabeça com um sapato enfeitado de um dos desfiles do Mardi Gras em Nova Orleans e acorda no meio da multidão como uma criança de 10 anos. Muitos mistérios, achados e perdidos, piadinhas de bibliotecários, serviços de referência e processamento técnico, além daquele plot sobrenatural que todo residente em Nova Orleans deve ter para contar nos dias de Carnaval.

Mais sobre o plot desses trem, aqui debaixo do link...

23 março 2018

[contos] Felicidade Adormecida



Essa história foi feita sob desafio de uma pessoa muito especial que fez parte da minha vida literária láááá do começo de 2006-2008.
Depois de quase 10 anos enfurnando as páginas na minha gaveta, resolvi mostrar.
A pessoa queria que eu escrevesse sobre alguém que tem uma bisneta, então... elevei a loucura até a máxima potência!
Vamos aos disclaimers básicos:
História fala sobre distorção de leis e convenções morais.
Sim, tem trigger para várias coisas como violência doméstica, uso abusivo de drogas pesadas, doenças crônicas, problemas de saúde mental, transtorno pós-traumático, sinestesia, esquizofrenia, negligência infantil e outras situações nada delicadas. Se você não tem muito estômago para isso, vá ler outra coisa, por favor? Tentei escrever uma história, sob um ponto-de-vista singelo de uma personagem e tentei chamar de ficção. Até agora tá dando certo.


Chapters: 1/?
Rating: Mature
Warnings: Graphic Depictions Of Violence
Additional Tags: Drug Use, Drug Addiction, Underage Drug Use, New Orleans, Heroin
Series: Part 1 of Felicidade Adormecida
Summary:

Felicidade adormecida.
Heroína é o nome nas ruas.
Felicidade adormecida é o que diz o meu coração.

Fun fact: a primeira página escrita em lápis 2B em meados de 2006 foi feita dentro de uma aula de Literatura Africana na universidade dos stormtroopers, auditório a meia-luz, Billy Holliday de fundo e professora falando sobre como o jazz era o lamento do povo negro e pobre do sul dos EUA, assim como uma das primeiras formas narrativas dessa população que fora levada à sério pelos brancos nos anos 30 e 40. Foi a primeira vez na vida, na cidade do interior onde eu morava que ouvi um professor direcionar seu discurso aos problemas étnicos-raciais de uma maioria em nosso estado (MG). Foi mágico.

13 outubro 2017

[Felicidade Adormecida]

Título: Felicidade Adormecida (por BRMorgan)
Cenário: Original/Nova Orleans.
Classificação: 18+.
Tamanho: ??? palavras.
Status: Completa.
Disclaimer: Essa fanfiction foi feita sob o desafio "Escreva sobre sua bisneta" e acabei indo para um enredo totalmente diferente. Depois de quase 2 anos enfurnando as páginas na minha gaveta, resolvi mostrar. Ps: Leiam Trainspotting de Irving Welsh caso se interessem pelo tema.
Personagens: Sarah Irina
Resumo: Felicidade adormecida. Heroína é o nome nas ruas. Felicidade adormecida é o que diz o meu coração.

Apaixonada por algo infantil.

Um singelo piscar de olhos que enlouquece qualquer criatura, é tudo que você precisa e menos o que você quer. Devo estar aqui há 2 dias, gastei o dinheiro todo de um mês de trabalho forçado. Consegui mais que queria, 50 gramas a mais da dosagem permitida que meu corpo agüenta. Um belo jeito de se começar um feriado. A música lá embaixo, muito distante. As batidas de meu coração, incrivelmente perto. Me sufoca, entope meu nariz e faz minha garganta arder, mas depois a sensação de prazer absoluto. Nem preciso mais de tentar ou me forçar a fazer algo que talvez elas gostassem. Heroína é o nome nas ruas. Felicidade adormecida é o que diz o meu coração.

A música continua e me dá vontade de dançar para sempre, até meus pés doerem, mas é minha cabeça de novo. E eu quero aliviar essa dor, preciso de mais. Não muito, pois sei que mais um pouco do desejado, eu morro. Como seria bom...

Então me deito na cama e estico o braço. Não sei como a agulha consegue achar o lugar confortável, levar o meu encanto secreto direto para meu coração, veias, sangue, água, ossos... Minha cabeça dói. Repito o processo e o pacote parece diminuir, o quarto está vazio e eu não estou mais aqui...


– Você precisa parar... – diz alguém e eu balanço a cabeça desaprovando a sugestão absurda.
– Pra quê? – alguém fica em silêncio
– Isso ta te destruindo... Olha só pra você...
– Pra quê?
– Porque essa porcaria corrói teu cérebro e você nem ta vendo! Não me olha assim!
– Seu nome tem jeito de música...
– Ta delirando? Essa porcaria ainda ta agindo!
– Sei lá... Foi uma idéia, é legal o seu nome... Um compasso de ¾...
– Interna essa guria...?
– Pra quê? – mesmo silêncio, mesma negligencia...
– Vai ser melhor, ela melhora e sem problema pra gente, que tal? – aponto para algum lugar no meu cérebro e minha querida bisnetinha responde:
– Nietzsche acabou com sua vida, não é?

– Você tá me ouvindo...? – diz alguém na rua movimentada. Estou sentada. Realmente meu corpo está sentado, mas meus olhos dançam nas ruas movimentadas da maior festa de Nova Orleans. Vejo marchinhas de 4/4, ¾ e às vezes 6/6 quando estão correndo atrás do moleque trombadinha, ouço Dó sustenidos em vozes de homens e Fá maiores em mulheres, crianças são Lãs desafinados e velhos casais cansados da vida são como um quarteto de cordas de Jazz... Aqueles que ouviam em cada esquina da Seventy Street em Nova Orleans. Sentia falta de minha vida na cidade velha... – Hey, guria! Acorda!
– Não tou legal... – e meu corpo tomba no colo de alguém.

– Já pensou em morrer...? – diz alguém nos fundos do barzinho famoso do bairro chique dos franceses. Eu respondo que não, mas minha língua está enorme em minha boca. Mordi-a ao errar a mira da colher na vela. Foda-se, vai na perna mesmo...
– Tá doidona, a guria... Legal...
– Vai lá e mexe com ela... – diz alguém malicioso e meu alerta sonoro ressoa na minha mente. Sinto alguém me apalpando asquerosamente. Pego a primeira coisa ao meu alcance e bato em sua cabeça. Cano de ferro de velho encanamento. Sangue fresco em meu casaco surrado, um dente quebrado no meu tênis, um grito agonizante no meio de uma noite de sábado na velha cidade...

– Sarah Irina... ahn... que porra de nome é esse...?
– É húngaro... – respondo para o delegado da noite.
– Por que bateu no pobre garoto, menina?
– Ele não é pobre, senhor delegado...
– Você entendeu!
– Ele não é pobre... – sono nas pálpebras, falta de mais alegria, meu sangue quer dizer “olá” para alguém.
– Olha aqui, criança. Vou te manter aqui essa noite pra não arranjar mais confusão com os franceses, okay?
– Aqui tem comida boa?
– Deve ter, te mando alguma coisa no final do expediente.
– Pode me arranjar um absorvente? – silêncio do velho delegado tão dedicado a ficar sentado em sua cadeira fofa. - Ele não era pobre, delegado... – sendo arrastada para uma cela escura, alguém está ali dentro na mesma sina.

– Tá chapada...? – diz alguém na cela.
– Ahn...? – respondo sem certeza, acho que não.
– Crack? – nego com a cabeça – Cocaína...?
– Não uso essas porcarias...
– Heroína...? – e meu sorriso abre em meu rosto inchado e pálido. – Uma viciada em heroína... Parabéns... Quantos anos tem guria?
– 16 anos e 6 meses e meio e... umas horas aí...
– Que merda você andou fazendo hoje pra parar aqui?
– Mandei Johnny Stenfield pro Hospital, acho...
– O safado queria te agarrar, certo?
– Sei lá... Fiquei com raiva porque atrapalhou minha música...
– Música...? – ouvi uma risada debochada.
– Fá sustenido...
– O quê...?
– Nada... – e me escondo para não mostrar que estou chorando.


Tudo começou naquela tarde estranha de setembro.

Cercou o gringo atrás dos becos da French Street e catou logo a mochila do riquinho. Quis espancar o coitado, ver ele sangrando e implorando por misericórdia, mas a raiva era deixada de lado ao lembrar do sofrimento do irmão mais novo em algum lugarzinho medíocre do bairro mais abastado, lavando roupa, secando chão, servindo aqueles que os deixavam com os restos do jantar.

O guri fugiu assustado com a força de sua mão, sempre disseram isso pra você, a sua pegada forte de direita, as mãos firmes no bastão, a bola certeira para bem longe da demarcação do campo de jogo, os dedos calosos de tanto ajudar a namorada do pai a lavar as roupas dos irmãos mais novos. Maggie passava muito tempo no Hospital com o velho beberrão, e Dylan sujava mais meias que ela própria. Jogava futebol nas segundas-feiras.

O rapaz recém-chegado na cidade fugiu assustado porque não tava acostumado com a vida normal da periferia de Nova Orleans, só estava prevendo as festas tradicionais, a bebedeira, a facilidade e o abuso de substâncias ilícitas. Roubo, morte e sobrevivência, isso ele não estaria acostumado.

– Hmmm, chocolate! - sorriu com satisfação e engoliu o doce com vontade, revirou o conteúdo da mochila cara e espaçosa, daria pra guardar as roupas do irmão Timothy ali, ou talvez ajudar Dyan levar seu material escolar.

Pegou a carteira e riu com a quantidade de dinheiro do estrangeiro. Bastante pra botar carne de verdade na mesa, nada de restos mal passados dos ricos, nem as sobras do açougue comunitário na Quarter Street, hoje jantaria como uma realeza e deixaria o pai orgulhoso.

– Caramba... - assoviou baixinho ao ver que um celular moderno estava cintilando na palma da sua mão. Venderia pro penhor e conseguiria uma bela grana pra pagar os remédios de Maggie, já as carteiras de habilitação, identidade e passaporte foram pro bueiro. Ah foda-se que vá entupir o ralo, eles jogam mesmo os dejetos em cima de vocês, não?

Desceu a rua de pedras esfolantes para o tênis barato e rasgado na sola, cruzou a avenida principal sem se preocupar se algum carro atropelasse seu corpo miúdo e entrou nos domínios do bairro negro e pobre da mística Nova Orleans. Pulou a cerca que separava os pobres do resto do mundo e viu que o céu daquela tarde estava meio diferente do normal... Sem nuvens e aquela calmaria estranha que só a cidade do Jazz tem às vezes. Os prédios Habitacionais imponentes na decadência do cinza-amarelado do tempo.

Tinha medo desse silêncio, talvez fosse por estar em constante movimento e a gritaria e o choro e a dor, mas mesmo assim o silêncio era algo que parecia perturbar sua consciência.

Viu o negro Bishop ajeitando as calças pra atender alguns clientes, não podia entrar na loja dele porque era proibido pra menores, mas bem se a namorada do pai entrava sem problemas pra pegar aquele pacotinho todo final de semana pra vender pros seus colegas de sala, então ela poderia...

– Tá fazendo o que aqui? - Bishop já pegava a vassoura pra enxotar a menina miúda.
– Quero um pacotinho que nem o da Fabian.
– Pra quê guria? - ele disse olhando pro celular reluzente e absurdamente caro na mão dela. - Tá afim de ficar como teu pai é? Já não basta ele ter sido preso?
– Quero o pacotinho pra vender, ajudar nos remédios da Maggie. - ela disse com firmeza, olhou o mostruário nas estantes, armas de todos os calibres, munição e facas artesanais. Bishop vendia de tudo. Ele estendeu o pacotinho e pediu o celular.
– Isso dá uns 20g... E esse dinheiro aqui guria, é pro remédio da pequena. É muita grana, falou? Não seja estúpida e não vá gastar com outra coisa...
– S-sim senhor. - Ela respeitava mais Bishop do que o próprio pai.
– E vê se passa essa branquinha aí longe dos olhos dos otários do Distrito. Quase pegaram teu irmão daquela vez...
– Sim, senhor.
– E pára de me chamar de senhor, porra... - ele sorriu para a menina fragilizada a sua frente. - Vai cuidar da tua vida e volta aqui depois com o lucro disso aê, falou? - ela concordou mal sabendo como funcionava o esquema de tráfico do Bishop. A namorada do pai Fabian já sabia, estava nessa desde pequena, e não era entregando ou repassando dinheiro, mas Sarah achava que era outra coisa. Um pózinho branco sem significado, mas que nas mãos da namorada do pai parecia que era algo muito importante e ajudava muito nas despesas da família.

Sentou no parquinho da última esquina até o Ferro-velho dos Drennan ocupar o resto do terreno. Não havia muita gente ali, uns rapazes lá curtindo suas namoradas, uma delas com um pacotinho igual ao seu e ao invés de esperar alguém pra poder vender, ela simplesmente abriu e espalhou o conteúdo na mão. Riu um pouco e apertou a narina direita e inalou o pó profundamente. A rodinha riu novamente e continuou com o ritual. Então era assim? Era assim que deveria fazer e depois vender? 'Que coisa mais idiota' ela pensou aos seus 12 anos e 7 meses de vida. Repetiu os mesmos gestos, cheirou um pouco o pózinho pra ver se podia mesmo, tinha um gosto adocicado no paladar quando inalou pela 1ª vez. Gostou. Corrigindo: Amou. Deleitou-se na 2ª inalação. Na 3ª e última sentiu que suas pernas tremiam. Não de frio ou de temor, era diferente e deitou-se ali na areia do parquinho enferrujado, peito arfando como se estivesse correndo por quase 5 quarteirões sem parar. Sensação boa e amedrontadora ao mesmo tempo. Tinha medo de não sentir mais ela e não ter como conseguir mais daquele pó açucarado.

Lembrou da música nova do neto do Bronx, falava de uma donzela adormecida que ao acordar viu que o mundo todo era belo e maravilhoso, com paisagens paradisíacas e emoções fortes de felicidade. Lembrou também que essa música era difícil de tocar no cello quando não se tinha um arco de 1,20m e quando não se sabia muito bem a clava de Fá.

Sorriu e gemeu. Mal percebera que entrara na adolescência.

11 outubro 2017

[Forgiven] 2 Jojo Ulhoa

Título: Forgiven 2 Jojo Ulhoa (por BRMorgan)
Cenário: Original/Cotidiano, Nova Orleans..
Classificação: PG-13.
Tamanho: ??? palavras.
Status: Incompleta.
Disclaimer: Esse conto faz parte de uma epopeia que comecei na época da Graduação:  Teve uma continuação não terminada e não prestou muito para continuar, mas não custa nada postar por aqui. Mais sobre Forgiven Jojo Ulhoa tá aqui nesses links [x] [x] [x] [x] - vou postar tudo aqui.
Personagens: Joanne Ulhoa, Erin Cassidy.
Resumo: Forgiven Jojo Ulhoa conta a história de uma assistente de medicina legal, residente em um Hospital de uma cidadezinha chamada Morgan no distrito de Parish na Lousiana. Ela tem alguns probleminhas existenciais.


When I thought I was so proud, you shoot me down...

A frase foi rabiscada na porta de algum box de banheiro de alguma escola de alguma cidadezinha qualquer por aí. Feita com compasso das aulas de álgebra que nunca assistia direito e enfeitada com vários “x”s por todos os lados. Era como desenhar um mapa do tesouro, só que não havia nenhum para se encontrar. A surpresa fingida ao terminar o próprio vandalismo, o ajeitar da saia apertada nos quadris, a insatisfação de ter feito a coisa certa naquele momento, mas não estar totalmente certa para mostrar a alguém. Essa seria sua sina para o resto de sua vida, se ela pensasse um pouquinho melhor sobre o que fazia como tempo que Deus lhe dera naquela Terra.

A cidade de Morgan era tão enfadonha quanto o pseudo-convento que era obrigada a viver, a menina tão comum quanto qualquer menina da Louisiana só queria fazer algo que se sobressaísse as outras meninas, mas até então apenas uma frase mal entalhada na porta do banheiro era o melhor que poderia pensar. Parou por um momento em sua euforia matutina de uma noite cheia de aventuras e subindo na tampa do vaso sanitário, espiou o movimento nulo do banheiro do 2º andar. Saiu vagarosamente e fitou seu rosto nada novo no espelho limpíssimo, abriu a boca e verificou alguma coisa em sua língua, soprou na mão para cheirar o odor do hálito matutino, checou bem os olhos e as pálpebras. Por último, a pulsação que continuava imperceptível para ela, mas que os médicos que já fora diziam que era devida sua compleição física e sua pressão baixa.

Que fosse, não iria parar de fazer a checagem da manhã porque um cara de jaleco com diploma prometera com suas chapas de raio-x e exames periódicos que ela estava bem. Não estava, só precisava de um pouco mais de prática para continuar vivendo.

O ano era de 1996, o bairro era notável pelas construções antigas da colonização dos franceses naquela parte da Louisiana, a cidadezinha se firmava como dormitório de muitos trabalhadores e estudantes da Capital que achavam ali o sossego para as vidas apressadas. Cidadezinha pequena no meio de um provinciano estado em um país moralista. A cidadezinha marcada por boatos e mexericos, todos inventados pela maioria de seus habitantes e aumentados pelos mesmos.

Todos tinham seus papéis marcados, todos com seus dias contados. Dali, só para a eternidade, pois não havia nada naquela cidadezinha que levasse alguém para frente. O que muitos achavam que era tranquilidade, passividade e nenhuma surpresa, a minoria jovem e agitada se perdia nas ruas de Nova Orleans.

Debaixo do link, Forgiven 2 Jojo Ulhoa.

03 maio 2017

[conto] conto agridoce

Título: conto agridoce (por BRMorgan)
Cenário:  Original/Cotidiano, Nova Orleans.
Classificação: PG-13.
Tamanho: 708 palavras.
Status: Completa.
Personagens: Joanne Ulhoa.
Resumo: Jojo e suas reminiscências sobre a vida cotidiana sem a pessoa especial.
Disclaimer: Mais sobre Forgiven Jojo Ulhoa tá aqui nesses links [x] [x] [x] [x] - A inspiração pro conto veio com a minha música favorita do Pato Fu, aquela música que não devo me atrever mais a tocar em violão algum D:


Acordou cedo, de uma noite sem sal. 
Pouco atendimento no seu plantão, o que significava que teria que subir para cuidar dos vivos. 
Tédio mortal, com a ironia de mãos dadas. 

Na salinha de máquinas de café, automaticamente esperou o seu ferver os dígitos já comidos por produtos químicos e intensa higiene pessoal. Engoliu sem açúcar mesmo, encarar a velha enfermeira da noite, ouvir o sermão do chefe de plantão, escapar os ouvidos das fofocas dos residentes do ano. 

Enquanto eles achavam que a vida universitária era o milagre mais incrível do mundo, Joannes Ulhoa se escolhia em seu lugar. A vozinha dentro de sua mente, travestida de intuição, sabedoria ou bom senso pediu pelo amor de todos os santos em que ela se recusava a rezar antes de dormir com o rosário deixado pra trás pela mãe falecida que não tocassem no nome de certa pessoa. 

Não era necessário citar aquele nome, até porque qual é a razão de lembrar que tal pessoa existia se ela evitava de mostrar que estava ali.

 - E a Claire está saindo com um bonitão da pós, você soube? Um partidão! - risinhos, eufemismos sobre o sortudo com muitos adjetivos no aumentativo, um olhar curioso para aquela ali, encostada na parede, bebericando café amargo, sentindo o gosto azedo de uma vida quase doce e amarga no final. 

Algum outro comentário sobre como o casal parecia feliz e foram em uma festa chique. Mais risinhos, uma chamada de atenção.
 - Você não sabia doutora? Ela não era sua melhor amiga? 

Melhor amiga. Amiga. Melhor. Claire de la Fontaine era qualquer coisa agora do que melhor. 
Ou amiga. 
Ou os dois juntos. 

Nem quando se entendiam ocasionalmente poderia reconhecer Claire como melhor amiga sua. Melhores amigos são confidentes, confiam um no outro, estão presentes na vida do outro, escutam, aconselham, são... Bem... Amigos. 

Não respondeu a pergunta, saiu sem alarde, sabia que já estava tarde, mesmo não tendo pressa nada a esperar. 
Melhor amiga
Alguém que passara cerca de 3 anos da especialização grudada a você apenas para coletar dados sobre a própria pesquisa e depois publicar sobre isso sem sentir uma pontinha de remorso seria o exemplo de melhor amiga? 
Afinal de contas, de todas as noites juntas, os plantões, as discussões, as confissões, os surtos, as lágrimas, valiam como amizade? 

 E se alguém perguntasse, diria que foi embora e que o mundo poderia se acabar (mas já havia acabado cerca de 4 meses, 12 dias e dois plantões de 12 por 36.), pois tudo mais que existia só a fazia lembrar que o triste estava em todo lugar. 

Será que era algum truque novo que seu cérebro doutorado em autosabotagem planejava arduamente nos últimos meses sem a única pessoa com quem dividiu mais que metade de seu tempo ali? (Aliás, cérebro esse que tanto gostava de se torturar, por que às vezes se fazia de ruim? Tentando a convencer que não merecia viver, que não prestava?)

Lavou a mão duas vezes, três vezes, mais outra vez para garantir. 
O café ainda amargo no fundo da garganta dolorida, saiu sem despedida, ninguém notou, saindo da vida tão espetacular das pessoas ao seu redor. 
Prontuários de vivos. 
Tédio mortal. 
Café amargo, por que não conservara uma amizade saudável com Claire? 
 (Pois tudo mais que existe só faz lembrar que o triste está em todo lugar) 

Não tinha pressa, nada a esperar. 
Ao sair dali iria seguir o mesmo caminho agridoce, a mesma quantidade de pães, um outro café para tirar o gosto do antigo. Nenhuma novidade no caminho da rotina profissional e a ruína emocional. 

Choraria somente quando trancasse a porta com os dois trincos, duas viradas e checar o batente estava protegendo a corrente de ar frio do corredor. 

Caminharia pelas ruas da cidadezinha, observaria o por do sol descendo no mesmo velho mar. 
Gole amargo de café doce, comprimido azul da tarja preta, comprimido amarelo do tarja vermelha, um a mais para assegurar que o efeito de um a fizesse botar tudo pra fora. Checar as embalagens dos comprimidos, uma, duas, três vezes, até se acostumar com a ideia de que os remédios a mantenham viva e lúcida.

Nenhuma novidade. 
As ruas da cidade. 
O mesmo belo e velho mar.

28 abril 2017

[conto] a garota da gravidade

Título: a garota da gravidade (por BRMorgan)
Cenário: Original/Cotidiano, Nova Orleans.
Classificação: 16 anos (distorção de convenções morais, confusão mental, uso de drogas lícitas).
Tamanho: 1.301 palavras.
Status: Completo.
Personagens: Joanne Ulhoa, Melinda Bretzer, Molly Bretzer
Resumo: Quando se troca os medicamentos, há sempre as consequências. Jojo sofre de um tipo de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e tenta conviver com isso da forma mais sadia possível.
Disclaimer: Mais sobre Forgiven Jojo Ulhoa tá aqui nesses links [x] [x] [x] [x] - A inspiração pro conto veio com a minha música favorita do Scalene (abaixo, com letras!) e foi um desafio que me dei ao escrever o esqueleto do enredo antes da música acabar :)


Jojo era bem controlada na maior parte do tempo.
Tempo
Tempo
Tem-
Quando tinha tempo, passava mais tempo pesquisando os efeitos colaterais daquele histamínico que todo mundo tava falando bem. Experimentou um deles com os remédios atuais.

Só pulou o tarja preta.
Não era bom arriscar com a tarja preta.
Tarja preta
Tarja vermelha
Tarja preta
Vermelha
Pre-

Começou o dia assim.
Desligou a luz do banheiro, foi para a sala.
Pílula das 6h com o intervalo da pílula de 6h25.
Os passarinhos lá fora estavam bem animados para aquele dia tão normal.
Sem problemas
Sem ataques de pânico
Sem achar que alguém iria aparecer do nada a acusando de cada detalhe esquecido por ela enquanto estavam juntas
Sem cismar com a limpeza excessiva
Sem rasgar a própria pele por esfregar demais ao se lavar
Sem problemas

Desligou a luz da sala, ligou a do banheiro.
Abriu o armarinho do banheiro e cuidadosamente escovou os dentes carinhosamente com sua escova de dentes especial, cerdas macias e creme dental eficaz.
Tudo seria sem problemas hoje.
Seu reflexo no espelho mostrou um cenho neutro, como sempre, sem o sorriso excessivo de sempre, sem os músculos doendo no pescoço
Sem problemas
Como sempre
Sempre
S-sem-

Desligou a luz do banheiro, ligou a da sala.
Tomou o de 06h45 e anotou religiosamente em sua tabelinha perto do armário de remédios na cozinha.
Menos um dia do tarja preta, mais um dia do tarja vermelha.
Organizar por ordem de hora e de cor.
Tarja preta
Tarja preta
Tarja Ver-
Vermelha
Tarja vermelha!

Desligou a luz da sala, ligou a do banheiro.
Lavou as mãos novamente.
Com menos força, mais concentração
Os cantos das unhas, passar álcool naquele arranhão de ontem, não esfregar tanto pra não arranhar mais, se machucar mais, não, não, não pode mais aparecer assim no hospital. O que diriam? Que estava precisando de férias? Que não estava bem? Que os remédios não funcionavam de novo? O que diriam? O que diriam?

Os passarinhos lá fora, nesse astral em que viviam bem, ainda felizes com um dia desses, um belo dia, um ótimo dia, seria um ótimo dia, tinha que ser um bom dia 
Um bom Dia
Um bom Dia
Um bom Di-

Óbvio que o efeito não foi o esperado, sentiu o corpo mais letárgico que o normal, a gravidade a chamando devagar, desligando a chave que mantinha sua lucidez, uma felicidade esquisita se alojar em suas entranhas, uma nova sensação que os outros remédios não davam.

Era natural ficar assim tão feliz?
As pessoas normais eram assim?
O tempo todo?
Não sabia
Não sabia
Não sabia
Não sab-

 - Não tô bem... - disse para si mesma, mas quem respondeu foi seu colega de trabalho perguntando sobre o próximo paciente.

Uma típica segunda pós-feriado, homem jovem, branco, classe média alta, lacerações nas mãos, torso estourado, pescoço quebrado em ângulo errado, estilhaços salpicando um rosto sem mais estrutura óssea que lembrava um ser humano, cheiro forte de bebida, asfalto e decomposição. Pra um dia desses, seria um dia bom, um dia bom, tinha que ser um dia ótimo.

Viraram pra ela no plantão das 4h
 - Oh doutora, eu não tô bem... Faz um favor me deixa zen.

Não era psiquiatra, muito menos clínica.
Assistente de médico legista.
O bendito nem ficava na cidade e só passava uma vez por mês pra assinar óbito.
O resto? Era ela.
Ela e a equipe.
E o zelador.
Senhor bacana.
Bem bacana.
Limpava bem os cantos e a maca e a pia de metal e sabia mexer na estufa, a estufa, não deixa a estufa parada muito tempo 
Tempo
Tempo
Temp-

O paciente já era outro, não deu tempo de responder o que pediu medicação.
Alguém deve ter tirado ele dali, só pode, quantas horas?
Qual hora?
 - Pronde foi o cara do acidente?
 - Você liberou hoje cedo, Ulhoa...
 - Mas... Eu nem vi o tempo passar!
 - Hey, Jojo! Como vai?
 - Eu? Pois eu vou bem! - pra onde foi seu tempo? Pra onde foi o cara acidentado? Quem era que estava pedindo remédio pra ficar zen? Havia alguém pedindo remédio mesmo?

Tarja preta das 06h
Tarja vermelha das 06h25
O remédio novo (tarja preta) às 06h40
O sem tarja das 06h45
Ou era o novo a essa hora e o sem tarja...

Desligou a luz da área de trabalho com os "pacientes", maca grande, ocupante de tamanho pequeno, que seja desmembramento, não violência infantil, que seja acerto de contas dos traficantes, não atentado ao pudor contra menor, que seja...

Desligou a luz do corredor, ligou a do banheiro.
Repetiu as doses do começo da noite para garantir, sem problemas, sem problemas, nada iria atrapalhar aquele dia, esse dia, não esse dia.

Ligaram a luz do cubículo.
 - Jojo, levanta. O intervalo acabou faz 15 minutos atrás, você pediu pra eu te avisar quando a paciente das 4h chegasse?
 - Que paciente...? - a gravidade novamente a desligou do mundo ao redor.

Segunda vez só aquela semana. (Semana?! Quanto tempo estava tomando o novo remédio? Era ainda o novo?)
 - Por favor minha querida não inventa de se medicar, a paz que procura não é química. - disse alguém um tempo atrás ou foi semana passada?
Quanto tempo perdera naquele consultório novo mesmo?
Por que foi lá mesmo?
Será que foi o tal do tarja preta que a deixou tão calma assim?
Tão feliz?
Tão...

 - Eu não sei... Não tou bem... - respondeu a uma pergunta qualquer. Quem segurava sua mão grudenta de doce derretido pelo calor insuportável na cidadezinha era uma criança.
Menos de 6 anos, olhos vivazes, joelhos ralados, pé direito que não parava de se mexer pra cima
Pra baixo
Pra cima
Pra baixo
Rápido
Rápido
 - Rápido! Toca no verde! Sorte hoje ou amanhã?
 - Oi? - a calmaria de sempre (Sempre? Não era semana passada? Pronde foi seu tempo?!)
 - Vamos Molly... Deixa a doutora lavar as mãos e aí vamos para casa.
 - Oi?
 - Vamos pra casa, não? Hoje é dia do filme?
 - Eu não sei...
 - Jojo, você tá bem?
 - É natural se sentir assim?
 - Assim como?
 - Tão feliz...? Consigo ver beleza em nós... - a pessoa a beijou na testa, a menina abraçou sua perna, fazendo um barulho de balão furado com a boca.
Sem problemas
Sem neuras
Sem ataques de pânico
Sem medo de ir ao café para pegar algo pra comer e ver alguém conhecido
Sem medos

Desligou a luz da sala, foi até o sofá e se aninhou entre duas pessoas que a lembravam que logo a lucidez a desligaria mais uma vez, a gravidade que a puxava na órbita dessa família incomum era a chave para se encontrar novamente
Novamente
Novamente
Nova
Mente
Ment-

Abriu os olhos na manhã seguinte.
Sem luzes para apagar ou acender.
Apenas.
Sua respiração, seu batimento cardíaco, o ronco da barriga, o ressonar da criança tão agitada no filme agora dormindo o sono dos anjos (seja lá o que o padre quis dizer com isso).
Respirar devagar
Não acordar o anjo fragilizado
Por uma bronquite asmática 
Dente trincado
Maxilar em formação
Bruxismo
Trincado
Trincando
Mordida errada
Ressonar baixo
E trincado
Baixo
Silvo
Um ronco

O remédio das 06h
O tarja preta das 06h25...?
 - Antes que você acorde a criaturinha, são 9h10. Você dormiu como pedra. - a voz que a acalmava avisou ao pé do ouvido.
Dividindo a mesma cama
O mesmo lençol
O mesmo cobertor
O mesmo ar
O mesmo espaço entre o tarja preta e o vermelha, o antiácido, o histamínico, rotina
 - É natural ficar assim?
 - Assim como? - respirou
 - Tão feliz?
 - Eu não sei...

Será que foi o tal do tarja preta que a deixou tão bem assim?!

18 agosto 2014

[conto] arrumando o quarto


Título: Arrumando a cama (por @_brmorgan)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 18 anos. (Angst & sorta of Pain, como sempre, um bocadim de insinuações, linguagem inapropriada).
Tamanho: 2.552 palavras
Status: Completa.
Resumo: Diálogo simples ao se arrumar uma cama.
N/A: Fui embalada pelas vibes Nova Orleans e aproveitei o cenário que já tenho (Felicidade Adormecida, em breve um link prestável) para colocar essa pequena peça de diálogo.

===xxx===
A festa de "reinauguração" foi um sucesso.
Bem se sucesso pudesse ser descrito como um bocado de gente entulhada no andar debaixo, com música improvisada com qualquer coisa que estivesse a disposição, então sim: a festa foi um sucesso.

Motivos para chorar todo mundo tem, para sorrir bastava ter essa turma por perto. No meu caso para me lembrar que eu poderia viver mais um dia debaixo daquele teto sem ter um ataque de pânico fodido e me atirar da ponte da interestadual pra terminar de logo de vez com essa vida de merda que vivia.

(Bem, se pensar melhor, todos nós vivíamos uma vida de merda, sem exceção.)

04 março 2014

terça de carnaval: Mardi Gras acabando

As ondas vindas de Nova Orleans chegaram bem hoje, quando achei que meu ponto alto do dia seria ler sobre Nova Orleans, hehehehehehehehehehehe (ou pode ser uhehuheuhehuehueheuhebrBruheubrBR). Aí o nível de criatividade sobe, a ansiedade aumenta, o level de pensamentos nada puros, inocente e sacro-santos vai atingindo uma cota maior que a normal e culmina nessa grande bagunça astronômica no filtro entre meu cérebro e minha língua.



Bem isso.
(Isso porque nem estou com álcool nem chocolate no meu sistema circulatório...)

Estranho que a parte dominante de meu cérebro que pede pra NÃO deixar a linha correr demais é justamente a parte que mais anseia em dar um tempinho finalmente (jizuis freakin' crisps just shut the hell up up stairs please?!), aí no final das contas ninguém fica calado e o jeito é torcer para todos os deuses celtas que alguma coisa ocorra pra poder sossegar o facho.

Aí eu descobri que tem um seriado chamado Tremé que fala sobre as bandas de marchinha de Nova Orleans se reestruturando após o Furacão Katrina, assim como os diversos habitantes da cidade, cada um em seu mundinho... E isso me deu uma certezinha que vou acabar me concentrando melhor em ver algo que possa me inspirar a mais coisas do que exatamente ficar zanzando pela sala a procura de me livrar da "ansiedade" corrente.

Hora de esvaziar o trem, Angie! Cadê você, Maria Maricotinha?

BTW: Bom final de Mardi Gras para todos! Aqui no Brasil chuva, lá em Nova Orleans também \o/
Ps: Rádio boa para rebolar o tempo todo com as marchinhas e as brass bands: http://www.wwoz.org/ - detalhe para a apresentadora Leslie, ela é super fofa <3

Para a trilha sonora? Claro, sempre será o "The Professor & La fille danse".


Well I don't know if I'm wrong
'Cause she's only just gone
Here's to another relationship
Bombed by my excellent breed of gamete disease
I finished it off with some French wine and cheese
La fille danse
Quand elle joue avec moi
Et je pense que je l'aime des fois
Le silence, n'ose pas dis-donc
Quand on est ensemble
Mettre les mots
Sur la petite dodo

31 dezembro 2013

[conto] Forgiven: as consultas na madrugada

Mais outro conto que não finalizei, mas não posso ficar com nada na fila do final de ano. Esse é do cenário de Forgiven Jojo Ulhoa, um conto enooooorme e velhaco que fiz em 2007 sobre uma criaturinha que perdura no meu trato digestivo (Não, não andei dando uma de Cronos e comendo meus filhos, mas se é pra dizer que o ego trágico da Jojo costuma estar emaranhado perto do meu baço, aí sim).

Como o incrível resumo do NYAH! Fanfiction diz: A vida de uma legista hipocondríaca e com problemas de aceitação. Com vocês, Joanne Ulhoa, a louca.
(Jzuis, preciso atualizar esse bichinho ano que vem!)


Nunca fui de acreditar em contos-de-fada, muito açucarados para meu gosto, muito exagerados nos detalhes fantasiosos, pouco consistentes com a Realidade que eu constantemente via e vivia. Contos-de-fadas serviam para aliviar pessoas de sua trágica existência, confortavam crianças despedaçadas pela sociedade e às vezes... às vezes, eles costumavam povoar meus sonhos como um enxame de pensamentos aleatórios que ocupavam minhas manhãs mesmo após acordar.

Com o tempo fui aprendendo que contos-de-fada são construções simbólicas de determinações morais de nossa modernidade, algo que a burguesia capitalista instituiu em nosso meio para padronizar comportamentos, taxar aspectos moralistas, vincular o status quo com a existência humana. Muitos filósofos e pesquisadores desprezavam tal literatura para instruir seus discípulos, mas as massas, elas adoravam contos-de-fada.

A vida nos ensina que contos-de-fada não são reais, não há "Era uma vez" cada manhã que se acorda, não há "Final Feliz" no final do dia, não há príncipe encantado de armadura reluzente em seu alazão, nem beijo apaixonado no final da tarde com o sol a se pôr, os mocinhos se dão bem, os vilões sempre se dão mal. Nada disso acontece realmente. Não há extremos na vida que vivo, apenas borrões entre os termos. Como odeio isso.

Arrasto-me para mais outro plantão, minha cabeça pulsando mesmo com o gosto amargo da aspirina em meu paladar, o cochilo na sala dos internos não adiantou muito para remover os resquícios de uma bebedeira na noite anterior, jamais deveria ter pedido o turno de final de ano, sabendo o quanto de álcool poderia ser consumido pelos meus amigos (o que raios a Tracy não me ligou até agora? Coloquei a guria no táxi e ela nem para dar notícias se tinha chegado bem?!), jamais deveria ter enfiado meus pés pelas mãos ao tentar me aproximar novamente do meu projeto científico mais interessante em todos aqueles anos.

Aperto o botão para o subsolo e sou seguida pelo senhor da manutenção, um homenzinho mirrado, grisalho, com cheiro de água sanitária, desinfetante floral e uniforme mais desgastado que aquele prédio. Ele sorri em silêncio, respondo com um breve aceno de cabeça, não sei se meus lábios estão preparados para arriscar um sorriso amarelo (Não quero tentar igualmente), esperamos até o elevador chegar ao seu destino e a porta abrir com um rangido esquisito. Agradeço-o por manter a porta aberta para mim e me preparo para o pior: as macas no corredor para o necrotério do Hospital.

Essa rotina maluca de visitar o sujeito de pesquisa não estava fazendo bem para minha cabeça. Tudo bem lidar com os problemas dos outros, lares destruídos, casais com problemas, insegurança de homenzarrões do Exército, mas nada superaria o impacto que eu tinha toda vez que saía daquele elevador e dava de cara com aquele corredor vazio, gelado, de iluminação absurdamente alta, com zumbidos de maquinário funcionando para manter a temperatura ideal para retardar a decomposição dos cadáveres esperando nas macas enfileiradas, apenas esperando a próxima rodada. Odiava mais ainda o que teria que lidar quando entrasse na sala de atendimento, era como revisitar o Katrina e ter todo o tipo de lembrança ruim que aquele lugar perturbado trouxera para a gente. Eu felizmente conseguira me manter sã e salva com muita meditação, aulas intensivas de pilates, limpando bem meu corpo com uma nova dieta saudável e bem formulada, e felizmente tendo alguém para conversar quando o pânico e os pesadelos chegavam. Já o meu sujeito de pesquisa se enterrara em um PhD maluco em outro estado, achando que iria espantar seus demônios com trabalho de campo e estudos.

Como se a Ciência pudesse salvar a gente.

04 abril 2013

[conto] as quartas-feiras

[conto curtinho crossover para Forgiven Jojo Ulhoa, um conto que escrevi em 2007]

A semana começava no domingo, o dia em que não trabalhava e nem descansava, mas passava boa parte de seu tempo no parquinho na frente de casa servindo o seu papel muito bem. Os gritinhos de alegria e de comando, a areia entrando nas barras da calça, os baldinhos que viraram de cabeça para baixo para serem castelos de areia próximos um do outro. Muitos brinquedos eram despejados aos seus pés para recorrente manutenção e empréstimos entre as dezenas de crianças que lotavam o parquinho do bairro pacato e ensolarado em Nova Orleans.

A sua criança deveria ter uns poucos anos, crescendo exponencialmente com a quantidade absurda de vitamina de maçã e leite, mimos e agrados, exercícios dentro da banheira enorme de sua casa enorme ali mesmo no bairro pacato de Nova Orleans. Financiada, paga com tanto sacrifício que precisou esquecer sua própria vida para poder ter o sonho da família feliz. O marido estava bem ali com os amigos de domingo. Todos igualmente pais de família, todos atarefados durante a semana que o domingo se tornava um dia simbólico para todos envolvidos, quase como um ritual semanal de repor as energias gastas na sociedade capitalista e apressada lá de fora do bairro pacato de Nova Orleans.