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19 abril 2016

[contos] entre os livros

Provavelmente será entre os livros.
Assim, final da tarde, recinto vazio, muita bagunça, pouco tempo, invisível atrás das estantes, entre os livros.

Como qualquer dia que seja, vai chegar um belo dia (como sempre belo e será um dia) em que a porta da frente abrirá, a sineta sinalizara a chegada do belo dia, talvez o barulho inconfundível de sapatos sob o piso liso e intocável, ou o rangido esquisito de borracha de solado em contato com a cera do chão, talvez venha descalço (por que não?), o belo anúncio do belo dia no dia mais lotado de sua vida.

Entre os livros, escondida atrás das estantes espiará, descrente, desconfiada, sem muita vontade devido o final do dia, das tarefas acumuladas, das estantes desorganizadas, dos livros espalhados, entre eles olhará sem muita atenção e o belo dia de pés barulhentos na calmaria do caos anunciado (e quantas vezes irás amaldiçoar essa parte do trabalho de final de dia) se apresentará.
Uma vez, com voz tímida, de quem está invadindo território neutro pela primeira vez, sem mesmo saber que aquele local já é demarcado.
(e é, sempre será, espreitar aqueles que ultrapassam as linhas imaginárias entre o balcão e a cadeira de atendimento, das estações de trabalho, dos livros mais preciosos, da área de leitura infantil, do canto da sonolência, entre as prateleiras das estantes para os livros, tudo tem uma marcação bem acertada nesse palco onde atua desde sempre.)

O olhar estreitará sem miopia alguma, espiando a intrusão, desta vez sem medos ou rodeios, ultrapassou a linha imaginária entre o bom senso e a emoção, tá marcada no caderninho de ocorrências. A voz irá ressoar pela segunda vez, mais decidida, mais inquieta, mais inquiridora. Óbvio que estar invisível atrás das estantes não fã com que todos não saibam que você existe.

Por um momento, você discutirá entre a ética profissional e o dever bibliotecário. Irá arrumar argumentos válidos para tentar escrever alguma coisa que pareça plausível, realístico, seguro. É bem provável que seu coração vá descompassar por breves segundos, suas sinapses identificarem a voz como única em toda sua vida letárgica e todo jazz envolvido em amor à primeira vista.

Ou reconhecimento a primeira impressão, sim, esse termo fica melhor no imenso tesauro feito especialmente para separar você do restante da humanidade (estantes, lembra?). A agonia durará poucos segundos, afinal: trabalho é trabalho e sempre vem em primeiro lugar.

O pedido de informação, a busca calculada como é de costume, o papo estritamente acadêmico para não dar muita bandeira. A sensação de euforia ficará lá, pulsando em alguma veia da jugular, as extremidades dos dedos implorando por apenas um toque. E a voz, essa será a primeira e última a ser captada pelo cerebelo, esse órgão tão primitivo.

Entre os livros isso acontecerá, tão rápido e sem chances de repetição (para aperfeiçoar a técnica, não?), quase num improviso, sem idéia alguma do que irá acontecer. E entre os livros ficará para ir a lugar algum,como um título de obra rara será preparado com muita atenção e deixado com todo cuidado em alguma prateleira mais alta.

Assim como num belo dia, o Amor aparecerá em estado puro, pedindo informações sobre qualquer coisa, e você, ah você pessoa tão enraizada nas tuas leis, legislações e normativas: e se será o Verdadeiro, não os testes de antes.

Tudo fará sentido.
Tudo será explicado.
Tudo terá um selo de aprovação em todas as instâncias que estão envolvidas.
O Amor irá pedir informações e você atenderá da maneira mais sociável possível talvez uma piadinha aqui e ali, ouvir mais informações seria perfeito, a voz que encantou também tem o poder de trazer as experiências passadas de volta.

Em um recolher tenso, o fluxo de palavras cessa, a informação conectada, serviço do dia feito.

Assim como o belo dia entrou pela porta, ela sairá também, talvez com uma palavra agradecida, uma promessa por mais visitas ou apenas sair sem dizer nada.

Você, oh você tão chocada com a Sorte do Universo, voltará para atrás das estantes, invisível para todos, entre os livros. Não há nada o que temer, não há nada o que fazer.

A sineta toca no dia seguinte, mas com menos força, com menos determinação, sem a voz, sem os passos barulhentos, sem motivos para se exaltar.

(tiazinha do café? Sim, sim claro)


26 março 2016

[contos] supermercados à noite

Crédito da foto: Alamy
Título: Supermercados à noite (por BRMorgado)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 14 anos. 
Tamanho: 2695 palavras.
Status: Completa. (Ou não)
Resumo: atropelos com carrinhos de supermercado, dietas diferentes e o gosto musical parecido.
Disclaimer: sem nenhum adendo pra esse, provavelmente eu voltar para escrever mais. Como sempre, trilha sonora para essa escrivinhação?



O encontro foi casual, um corredor aí de algum lugar em comum entre elas. Os meio sorrisos de quase reconhecimento, afinal já haviam trombado em algum outro corredor da faculdade, nada muito corriqueiro, horários diferentes, funções diferentes, degraus diferentes. Enquanto uma ficava no térreo procurando as salas de aula do curso do semestre, a outra já tinha sala reservada, uma no quinto andar com todas as comodidades que alguém como ela poderia ter.

Por que não?

Batalhara tanto desde o térreo para conseguir um lugar ao Sol, para quê prestar atenção nos que começavam como ela? Apesar disso causar um tipo de revolta bem na boca de seu estômago quando via os interesses dos mais afortunados - aqueles com bolsas de pesquisa, salário garantido com mais de 5 dígitos - estarem acima dos iniciantes, ela resolvera fazer de conta que essa separação absurda existia. Era melhor assim. Era mais confortável.

21 novembro 2015

[contos] Feéricos - fios emaranhados

[FYI: estava um pouco alta ontem com cerveja de abóbora no sistema circulatório. Saiu isso. Agora relendo, vejo que há um futuro para o rascunho, mas vou arrumar as arestas fora de esquadro aqui, eita... Ps: a cerveja é até gostosa, tinha gosto de canela + cravo + abóbora + pimenta]

Arte: Parisian Cafe/Le Petite Rolleback por S. Sam Park

Título: Fios Emaranhados (por BRMorgado)
Cenário: Projeto Feéricos.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 4230 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Angie recebe um convite para um encontro com velhos amigos. O que ela não esperava eram as novidades serem além do que planejava originalmente.
Disclaimer: Esse conto faz parte de algum rascunho perdido meu do Projeto Feéricos que vocês podem ver os pedaços sendo costurados aqui nesse post [x]



Encontros formais me deixam com vontade de dormir. Escutar a Realeza sempre me deu sono. Os ricões não sabem contar boas histórias, aquelas que deixam a gente sem pregar os olhos por dias imaginando os desdobramentos dos acontecimentos. A magia do contar histórias tá meio mortinha entre eles. O contar dinheiro e posses, beleza, fábulas para a quiançada? Nope.

Bem, são poucos que me fazem sair da Metrópole às 7 da madrugada para aparecer em alguma viela sei lá aonde nesses trods da vida bem na frente de um café com arzinho parisiense. Tou sabendo da agitação esses dias aqui nas quebradas, não gosto de me meter com política feérica, muito menos dar pilha para hobgoblins só esperando uma oportunidade para mastigar os crânios da gente. Sinceramente, entre a brutalidade dos hobgoblins e acordar antes das 7 da manhã, fico com a primeira opção.

(Deuses sabem o quanto é um pecado fazer uma nômade como eu sair do quentinho de debaixo das cobertas em um dia particularmente frio e chuvoso na Metrópole, após dias de intensa investigação furada com os Caçadores de Quimeras. Heresia, eu diria. Mas quem sou eu para professar alguma coisa? Sou só a garotinha do Caminho Prateado, ninguém tem que prestar atenção em mim não.)

Aqui estou eu, me arrastando sem meus saltos 15, mas de chinelos. Não custa nada ser um pouquinho de casa aqui nesse canto do mundo, até porque essa cidade é o ícone do relaxamento fofo do romantismo barato. Eu que não acredito mais nesse tipo de coisa faz tempo, vou preparando as caraminholas da cachola para ouvir o que eles têm a dizer.

Seja lá o que for, deve ser muito urgente.

09 outubro 2015

rascunhos processados - uma menina (era para ser um conto)

Ideias para estórias que acabo deixando para trás. Essa é de fevereiro do ano passado (2014) e ficou mofando nos rascunhos:

Menina amaldiçoada em vidas anteriores.
Toda pessoa que ela demonstrasse amor ou paixão teria uma morte coincidente e engraçada.
Ela não percebe nisso, nem em como é responsável.
Vida passada - amou profundamente um jovem aprendiz, mas não deixou os preceitos de seu covenant influenciarem em seus sentimentos.
Revoltado com a decisão dela, o aprendiz foi morto em uma batalha de feiticeiros, mas antes proferiu as palavras que desencandeariam a maldição.
Jovem aprendiz será a mentora da menina quando ela completar 21 anos.
Tipos de Morte:
# gato na árvore
# crachá preso em caixa
# ser esmagado por estante móvel


Detalhe, última morte listada foi inspirada em uma bela conversa sobre as possibilidades da estante móvel de correr de quase 1 tonelada do arquivo onde eu trabalhava, cair em cima de mim enquanto eu estivesse procurando caixas.

Provavelmente a guria em questão é uma Eutanato.
Com certeza daria um background pra personagem muito bacana em Feéricos.

31 julho 2015

[contos] I ain't leaving

Com prometido há 1 semana atrás - e minha cabeça nem lembrou desse detalhe - a nova fanfiction que ando montando aos poucos.

I ain't leaving (3766 words) by brmorgan
Chapters: [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] /?
Fandom: Original Work
Rating: Mature
Warnings: No Archive Warnings Apply
Additional Tags: Original Character(s), Nova Orleans, Fluff and Smut, Brasil - Freeform, Português Brasileiro
Summary: Sarah escapou por pouco da tempestade que inundou Nova Orleans (EUA) em 2006, já Cassandra tenta ajudar a família que perdeu tudo no furacão em Xanxerê (Brasil). Recebendo a visita inesperada da mãe de Cassandra, as duas são obrigadas a enfrentarem os dilemas de eventos tão parecidos em suas vidas.
Disclaimer: Conteúdo da história pode ser fofuxo, meigo, mas algumas partes NÃO são apropriadas para menores de 18 conforme as tabelinhas de classificação indicativa de filmes/seriados/livros e tudo mais. Então já sabe, foram avisadxs!



27 julho 2015

e enquanto o modem não funcionava

Então isso aconteceu enquanto o meu modem estava batendo um papo com o Barqueiro e não tive receio algum em postar uma história tão normal assim desse tipo. Talvez era o que eu precisava antes de voltar aos projetos extensos - sinceramente já tou perdendo a paciência com o que idealizo e o que realmente foi para o papel, é frustrante!

Essa história foi meio que mastigada enquanto estava dando uma revisada em um velho conto meu chamado Felicidade Adormecida - já devo ter mencionado ele aqui antes - e havia um bloco de notas com os "what ifs" ou "e se" de como a história iria pra frente, mas essa era a pegadinha do conto todo, ele não ia ter final e ficaria pela metade não devido a minha autoflagelação em não terminar, mas de estar comprometida em fazer a personagem principal ter essa interrupção de narrativa, seja lá qual fosse. A Sarah já passeou como secundária em algumas histórias minhas, tanto com a Jojo Ulhoa (A médica-legista hipocondríaca?), tanto em alguns cenários de RPG e afins, ela sempre volta porque está ligada a um fato interessante de se pesquisar - ainda mais minha experiência nada feliz com os derivados do que ela tomava.

Três coisas a se destacar aqui: 1 - Furacão Katrina e em Xanxerê - 2 - Heroína - 3 - Sotaque Sulista.

Foi como juntar todos os ingredientes de dramallama que mais gosto em fics lotadas de angst e jogar aqui. Só espero conseguir ir escrevendo de boas, pelo menos um capítulo por semana, então...


Depois faço uma postagem a parte com a história anexada aqui. Por enquanto é esse trem aí embaixo.

===xxx===

I ain't leaving (3766 words) by brmorgan
Chapters: 1/?
Fandom: Original Work
Rating: Mature
Warnings: No Archive Warnings Apply
Additional Tags: Original Character(s), Nova Orleans, Fluff and Smut, Brasil - Freeform
Summary: Sarah escapou por pouco da tempestade que inundou Nova Orleans (EUA) em 2006, já Cassandra tenta ajudar a família que perdeu tudo no furacão em Xanxerê (Brasil). Recebendo a visita inesperada da mãe de Cassandra, as duas são obrigadas a enfrentarem os dilemas de eventos tão parecidos em suas vidas.
Disclaimer: Conteúdo da história pode ser fofuxo, meigo, mas algumas partes NÃO são apropriadas para menores de 18 conforme as tabelinhas de classificação indicativa de filmes/seriados/livros e tudo mais. Então já sabe, foram avisadxs!

15 julho 2015

[interlúdio] então eles diziam...

Era uma vez alguém que acreditava demais no Amor, mas não confiava nem a pau no bendito cujo.  Originalmente feito para ludibriar os pobres mortais do grande esquema do Universo, também confundia os deuses. Não houve encontro aleatório, não houve "era para ser" ou algo do gênero. Também não existiu afinidade com o desconhecido, nada de Tempo que curava, saudade a ser morta, nada, nada disso. O mais importante, esqueceu de mencionar em seu último suspiro, dez segundos revendo sua vida passar por seus olhos que perdiam a cor:

Não há final feliz.
Apenas isso.

26 maio 2015

[Projeto Reverso] Má Reputação

Título: Má Reputação - parte 2/12. (por BRMorgado)
Cenário: Original - Projeto Reverso.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 1915 palavras
Status: Incompleta.
Resumo: O laboratório está muito cheio para se fazer Ciência.
N/A: Projeto novo na área, Reverso será uma compilação de 12 contos pequenos sobre uma mesma situação, ambientada em um mundo atemporal ao nosso com um grupo de pessoas tentando escapar de alguma catástrofe eminente, o básico de sempre, sabe? E viva os universos paralelos que os sonhos nos proporcionam! Sim, a ordem dos contos está toda embaralhada \o/

SEM TÍTULO [1] - MÁ REPUTAÇÃO [2] - SEM TÍTULO [3] - A GELADEIRA [4]
SEM TÍTULO [5] - SEM TÍTULO [6] - COMO ANDAR DE BICICLETA [7]
A CONTRABANDISTA [8] - SEM TÍTULO [9] - SEM TÍTULO [10]
SEM TÍTULO [11] - SEM TÍTULO [12]

Trilha sonora:



Muita gente. Muita. Estão tocando nos tubos de ensaio que sobraram, tem um escorado na única mesa cirúrgica, rastros de lama por todo chão, se fosse sangue eu suportaria a bagunça, mas reuniãozinha de clubinho justamente no meu local de trabalho?!
 - ... não podemos confiar nos muros do Sul, reforçaram com arame farpado e uma barricada, mas mesmo assim não tem como conter caso façam uma entrada maciça.
 - Pessoas usando vocabulário bonito, parabéns... - eu comento no meu tom menos usual (Aquele cheio de sarcasmo, mais aproximado pra um grunhido de depreciação).
 - Podemos fazer rondas a cada 2 horas, diminuir o tempo à noite.
 - Temos pouco pessoal, não há como fazer isso sem... Ai! Qual é o problema, maluca? - o tapa bem dado com a minha única luva de cirurgia pesada deu conta do recado, o idiota saiu de perto da mesa.
 - Ignore ela, diga-me, como estão as entradas para o metrô.
 - Bloqueadas até então. Tem um túnel transversal que era usado pelos trabalhadores na manutenção de lâmpadas...
 - Mas é apertado e não se sabe onde vai dar. Pode haver...
 - Tá rindo do quê, maluca...?
 - Nada, só uma piadinha infame que ouvia no colégio... - disfarcei a frustração de ter um pensamento insano sobre metáforas de tunéis apertados e a pessoa que me dirigiu o insulto de "maluca" novamente.
 - Mande os catadores lá, dois deles, três dos nossos. se o Russo quiser enviar algum deles, pode deixar. - ouvindo essa conversa me dá um sono imenso de acompanhar, preparo uma cartada boa para afastar aquele grupinho de revolucionários sem noção do meu laboratório, abro o freezer de bom uso e tiro um pedaço daquilo que a gente tanto luta desde o começo dessa bagunça toda. Até onde sabemos, noss país foi literalmente pro saco por culpa desse pedaço desgraçado que seguro com força para não escorregar e jogar na mesa cirúrgica. O cheiro é o primeiro a chamar atenção. Estou protegida com a máscara, avental e luvas, mas eles? Bem, não tou nem aí se eles não estão.
 - GUARDA ESSA PORRA NO CONGELADOR, MALUCA!! - gritou um deles, o mais perto do pedaço e colocando a mão no rosto para tapar o nariz. Os outros instintivamente se afastaram, mãos no nariz ou cobrindo com os tecidos de suas roupas maltrapilhas, a líder da revolução dentro do laboratório não piscou ou saiu do lugar.
 - Pessoal, tudo bem. Não é o que pensam... - ela disse firmemente não tirando os olhos da coisa, um brilho assassino atrás daqueles olhos escuros tão distraidores dos meus pensamentos de dias e infestando meus sonhos à noite. - Ela faz isso pra me evitar sempre quando pode.
 - E sempre funciona. - respondo tranquilamente metendo a faca de cozinha afiada rusticamente pra tentar causar mais desgosto ao grupo. Eu quero ficar sozinha com minhas coisas, preciso do meu tempo sozinha e eles não andam respeitando muito bem as placas ameaçadoras que faço na porta lá fora.
 - Não mais. E então senhores?
 - Catadores, Esquilo, Parafuso e eu podemos ir de boa. Vou ver se o Russo vai querer alguém no grupo.
 - Quanta coragem pra entrar num beco apertado na principal via daquelas coisinhas nojentas... Boa sorte...
 - Vai se danar, maluca... - alguém disse, não sei identificar quem com quem, depois da pancada na cabeça da queda da bicicleta o cérebro não registra mais faces. Ótimo mesmo, não quero lembranças desse povo nem que a vaca tu...
 - Coelho, fora daqui. - a "líder" disse, parece que a coisa ficou feia pro lado deles. os outros que arrastaram os pés do laboratório murmuravam coisas que não me interessavam, estava mais preocupada com o fluxo viscoso saído do centro do pedaço enorme da coisa. Já tinha visto isso uma vez na viagem a campo lá de Agosto e pelo que testamos com os braniacs de lá, é porque finalmente o tempo de manter guardado pra testes e análise havia acabado. Cubro a coisa com plástico usado de outras cirurgias e me desfaço do embrulho colocando dentro do freezer que não funciona. Se começar a feder, é só jogar o caixote ladeira abaixo. Vai fazer diferença alguma.

18 maio 2015

[contos] cobertas e regras - NSFW

Título: Cobertas e regras (por BRMorgado)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 18 anos. (Cenas insinuantes entre mulheres, f/f, menções de BDSM).
Tamanho: 1407 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Algumas regras são acertadas entre as cobertas.
Disclaimer: Conteúdo abaixo do link NÃO É apropriado para menores de 18 conforme as tabelinhas de classificação indicativa de filmes/seriados/livros e tudo mais. Então se não gosta dos temas acima, esqueça, vá ler outra coisa, pule de postagem. Não me culpe de corromper vossa mente ou que fui uma má influência


(Voltando a escrever algumas coisinhas, isso é um bom sinal...)


26 dezembro 2014

[conto] parceiros de crime

Título: Parceiros de crime (por BRMorgan)
Cenário: Original.
Classificação: PG.
Tamanho: 734 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Em uma noite improvável, dois estranhos encontram algo em comum.
Personagens: A menina e um senhor de meia idade.

===xxx===

Começa com um pequeno piscar de olhos, o foco obscurecido pela sala cheia de gente, luzes hipnóticas em todos os tons, o retumbar das caixas de som reverberando junto as batidas cardíacas, a ansiedade toma conta de suas mãos, o andar é apressado entre a massa de pessoas desconhecidas, logo não há escapatória, se isolar em um canto menos povoado é a única chance de se manter bem na saída à noite.

Muitas vezes tentar visualizar o público que a rodeava, como uma completa estranha no ninho, prestar atenção no ritmo das pessoas virara seu passatempo. Ninguém exatamente sabia o porquê de estar tão espremida a parede, bebida na mão, olhos fixos no chão. Às vezes não dá para aceitar as condições em que se vive.

Puro medo de viver? Ou medo de algo mais comum?

Um breve gole na bebida gelada talvez subisse mais rápido que a sensação conhecida de sempre. Já haviam recomendado algumas dicas para se manter em vigília, mas o relógio no celular que sempre vibrava marcava onze e dezessete. Não, não, não... o show nem tinha começado. Seus amigos de palco nem haviam chegado, não faria isso de novo, faria?

Fez um plano dentro de sua mente, esperaria até meia noite. Meia noite era a deadline. Meia noite poderia dar alguma desculpinha esfarrapada e escapulir para um táxi e ir embora o mais rápido possível. Meia noite era a hora. Checando seu celular a cada 5 minutos, o tempo não parecia passar, na verdade achava que tudo havia parado às onze e quarenta e dois. Exausta, sentindo os primeiros sintomas da fadiga, procurou um lugar para se sentar, mas não poderia fazer isso, pois obviamente cairia nas graças de algum deus menor. Praguejou internamente, virou a bebida já não mias gelada de uma vez só. Quase cuspiu parte por ver que o resultado de subir pelas suas veias e ir para a cabeça foi mais acertada desta vez.

Praguejou mais um pouco, certa de que nem deveria estar ali. A banda que prometera dez horas em ponto começar o show estava atrasada cerca de duas horas por motivos de: "Quanto mais tarde, mais enche a casa.", "Não dá tempo pra beber", "O povo precisa tá ligado quando começar, dançar e tal." e outras a mais. Ela apenas estava a lutar contra seu demônio favorito particular. Todo, santo, dia.

Ao seu lado, sentado em uma poltroninha fajuta estava um senhor, vestido para a ocasião, com uma mesma bebida como a sua na mão esquerda, o celular na outra, o olhar apreensivo para frente, o pestanejar inconfundível. O demônio favorito também gostava de aplacar outros poucos infelizes. Onze e cinquenta e três.

 - Esses caras não vão tocar não? - ele resmungou colocando um alarme para soar vibrante em seu bolso. Como uma lâmpada acendendo acima de sua cabeça (E subitamente caindo quase no mesmo segundo), ela entendeu.
 - Cê tá com sono também? - a pergunta dela não foi estranhada pelo desconhecido, mas uma confirmação triste acertou tudo.
 - Isso aqui faz acordar? - ele disse apontando para a bebida.
 - Não, não, já tomei dois desses e nada.
 - E esses caras marcaram dez, né?
 - É... - ela concordou tentando focalizar o palco, uma de suas pestanas estava cedendo pelo sono excessivo.
 - Hey, senta aqui. - ele disse apontando um lugar para ela ao lado.
 - Se eu sentar, você sabe.
 - É, eu sei... - ele retrucou afundando mais na poltrona. Ambos suspiraram ao mesmo tempo. A banda finalmente foi par ao palco, a amiga deveria estar ali na frente do palco, prestigiando os músicos, mas a troca de olhares foi única. Ela finalmente sentou-se pesadamente ao lado do senhor de meia-idade e barbudo.
 - Se um dos dois dormir... - ela sugeriu, ele completou:
 - Cutuca o outro?
 - Arram, isso aí. - os dois apertaram as mãos.

A primeira música estava já no fim, a plateia entoava o coro de músicas já bem conhecidas, o vozerio de conversas altas, a potência dos instrumentos, as luzes. Sentados, um ao lado do outro, um casal de completo estranhos, em sono alto, sem defesa ou tempo de se cutucarem para salvarem a noite.

O demônio favorito ganhara novamente.

Mas antes de seguir para o profundo sonho, a moça deliberou entre muitas imagens entre seus olhos e pálpebras fechadas: parceiros de crime

Sim, encontrara um parceiro de crime.


25 dezembro 2014

[Feéricos - contos para sonhar] os escorregadios: Kristevá Todd

Título: Feéricos - contos para sonhar os escorregadios: Kristevá Todd (por BRMorgan)
Cenário: Original - Projeto Feéricos.
Classificação: PG.
Tamanho: 471 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Diálogo entre alguém e a Morte de triciclo.
N/A: Um pequeno rascunho que veio e acabei deixando de lado. Mas aí depois ao pensar nele, fiquei: hmmmmm acho que vai me servir para a posteridade. [Editando: Atualizado 11/09/2016]
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Eis um corredor extenso de uma instituição qualquer.
Poderia ser de uma escola, universidade, hospital, escritório, o que for.
Antigo é o prédio, velhas são as edificações, enferrujadas são suas portas e janelas, há muita areia acumulada em muitos cantos e rastros por todo chão.
Nesse corredor extenso há uma única porta aberta.

Atrás dessa porta há um armário de limpeza qualquer, com estantes improvisadas com produtos de limpeza, algumas vassouras, esfregões e rodos já desgastados pelo Tempo. Uma enceradeira velha e descascada, galões de desinfetante de cheiro forte de limão, luvas de plástico amarelas penduradas em alguma estante. Sentada ao chão está uma pessoa que podemos identificar como "Visitante".

Do lado de fora desse espaço pequeno, no corredor sem porta alguma a não ser essa, está a Morte, personificada como a famosa ceifadora, vestida de grosso manto escuro, o capuz cobrindo a caveira angular, de protuberantes ossos em alguns lugares da bochecha e mandíbula projetada para frente com grossos caninos, não como uma caveira humana, mas de animal exótico. Sem olhos, ela observa, com sua foice pendurada nas costas, sentadinha em um triciclo infantil de cor rosa choque, encarando a porta como se estivesse ouvindo atentamente a pessoa visitante.
 - Você colocando dessa maneira parece bem mais fácil de entender... - continuou a pessoa visitante para a Morte de triciclo. Sua voz estava abafada por estar no fundo do closet de limpeza, mas isso não impedia do diálogo seguir normalmente. - Desculpe-me, mesmo... Tá tudo bem... O importante é que sei agora, né? - a Morte concordou com o seu capuz movendo para cima e para baixo no rosto cadavérico. - Agora sei o que fazer com o restante do meu tempo.
 - Apenas não se precipite. - avisou a companheira das últimas horas.
 - Não, não irei. Quero fazer direito, eles confiam em mim.
 - Não quer nem pensar em uma escapatória?
 - E por quê eu faria isso? Tem jeito? - a Morte de triciclo deu de ombros, a foice pendurada em suas costas mexeu um pouco.
 - Talvez dê certo. Alguns tentaram.
 - E foram felizes?
 - Infelizmente não sei. Apenas sei que tentaram.
 - Difíceis de pegar?
 - Escorregadios.
 - Não quero te dar trabalho. - um fio prateado escorregou do cabo da foice e foi serpenteando devagar até o fundo do armário, enlaçando calmamente a perna da pessoa visitante. Ela estremeceu sem entender o porquê ter tal laço frio.
 - Nem eu. - estremeceu a pessoa visitante sem saber o que falar. Suas memórias estavam ficando falhas novamente. Tinha pouco tempo agora. A Morte pega impulso em seu triciclo rosa-choque e pneus de plástico desgastados, mas antes que pudesse arrancar, a menina se moveu dentro do armário de limpeza no corredor de extenso de uma única porta.
 - O que acontece se um dos escorregadios conseguir?
 - Fica difícil de prever. Muitas coisas mudam, novos horários, pouco tempo para adaptar a carga-horária.
 - Se precisar de alguém... - a pessoa visitante deu de ombros ao dizer isso.
 - Com certeza não irei te chamar. - respondeu a morte de triciclo, apertou bem as mãos no guidão do triciclo, pedalando algumas vezes no extenso corredor de uma única porta. A menina colocou a cabeça para fora da porta, assistindo a ceifadora ir esvoaçante pelo corredor. Suspirou de cansaço, de tristeza, de impaciência.

Olhou para aquela porta que dava acesso ao corredor. Tudo parecia tão diferente agora que sabia o que fazer. Poderia tentar mais uma vez, não é?

Ser um escorregadio não estava nos planos dela.

Fez uma lista mental do que deveria fazer ao acordar:
Encontrar a bruxa solitária.
Conversar com a ninfa das árvores.
Socar o rosto do marinheiro.

Ia colocar algo a mais na lista, muito importante, não poderia esquecer, algo a ver com alguém que vinha das cavernas geladas quando sentiu a fisgada leve. O fio prateado em sua perna era puxado aos poucos, apertando seu tornozelo, aquilo estava certo? Era para ser... assim?

Seu corpo foi derrubado ao chão com violência e bruscamente, o fio prateado estrangulando o que tinha por dentro, levando o que tinha que levar, deixando apenas um invólucro vazio e sem memórias do passado, de sua missão e de seu futuro.

...

Kristevá Todd teve sua admissão no Hospital da Metrópole aos 9 anos de idade com um diagnóstico inconclusivo entre amnésia retrógrada e forte trauma infantil. A dosagem de remédios aumentou quando completou 13 anos de idade.

Esqueceu da lista.
Esqueceu da companheira das últimas horas.
Esqueceu de saber quem era.

Não sonhava mais.

27 novembro 2014

[conto] ode ao desmemoriado sonhar


Tão cansada desses pesadelos.
Cansada pra caralho.

Dá para manter a concentração depois dessa? Sonhar no loop de imagens que NÃO se precisa realmente relembrar. Bem que poderiam inventar aquela pílula de dissolver memória, não me importaria nem um pouco em tomar um pote inteiro e esperar ficar babando em algum canto por aí.

Tão estressada.

Às vezes eles vêm, como sonhos comuns, diários, triviais, disfarçados daquele arzinho de que são inofensivos e então quase no final, BAM! uma palavra, um som, um cheiro, um registro detalhado de cada falha efetuada na sua miserável vida.

É assim que tem que ser, criança. Fez aqui, se paga aqui.
Bobagem do cacete.

Não vim pra pagar coisa alguma, vim pra aprender.

02 novembro 2014

[Projeto Reverso] Como Andar de Bicicleta

Título: Como andar de bicicleta - parte 7/12. (por BRMorgado)
Cenário: Original - Projeto Reverso.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 1007 palavras.
Status: Incompleta.
Resumo: Alguém se deixa levar por muitos pensamentos em uma varanda de madeira de algum esconderijo do grupo.
N/A: Projeto novo na área, Reverso será uma compilação de 12 contos pequenos sobre uma mesma situação, ambientada em um mundo atemporal ao nosso com um grupo de pessoas tentando escapar de alguma catástrofe eminente, o básico de sempre, sabe? E viva os universos paralelos que os sonhos nos proporcionam! Sim, a ordem dos contos está toda embaralhada \o/

SEM TÍTULO [1] - MÁ REPUTAÇÃO [2] - SEM TÍTULO [3] - A GELADEIRA [4]
SEM TÍTULO [5] - SEM TÍTULO [6] - COMO ANDAR DE BICICLETA [7]
A CONTRABANDISTA [8] - SEM TÍTULO [9] - SEM TÍTULO [10]
SEM TÍTULO [11] - SEM TÍTULO [12]

Trilha sonora:

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Como é sentir que vai morrer?
É como andar em uma bicicleta após anos sem praticar.
Sério, não é tão difícil assim. Apenas sentir que todas suas forças se esvaem de seus poros, deixando marcas no chão, nas coisas em que toca, nos outros que estão ao seu redor, tudo retorna ao pó quando se vem do pó. Extrema-unção nunca fez tanto sentido para mim.
O pequeno livrinho preto de capa rasgada está em meu bolso do jaleco, não atingido pela torrente suave que vai tomando conta do deck de madeira, o que importa agora as palavras sábias de antigamente? Quase nada, a não ser que minha mão tremendo está involuntariamente querendo alcançá-lo desde que me deixei vencer pelo cansaço, pela fome, pela hemorragia interna sistêmica.
" - Vai melhorar, você só está cansada" - eu convenço o meu corpo dolorido com essas palavrinhas mágicas, logo delibero o porquê não sentir mais meus dedos dos pés e minha visão estar turva. Algo errado está ocorrendo e eu só consigo sangrar até morrer aqui nessa varanda.

03 outubro 2014

[conto] Projeto Feéricos - Nomes

Título: Nome (por @_brmorgan)
Cenário: Original - Projeto Feéricos.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: One-shot ( + 3K palavras)
Status: Completa.
Resumo: Às vezes nomes não fazem diferença na vida das pessoas.
Personagens: Mirela Gauthier, Monique (Mona) Gauthier, mendigo do Arges, Walter McDougal, Philippe Gauthier, Christopher Gauthier.
N/A: Quis imaginar um pouco do cotidiano da família Gauthier da querida feérica Mona e veio dessa forma. O primeiro encontro entre família e enamorados.

Estranho era essa, a criatura humana.

Sentiam pena de si mesmos o tempo todo e quando pecavam à mostra dos outros, precisavam de permissão para conseguir atravessar a humilhação. Indivíduos de todos os tipos de pensamento, conceitos e credos, às vezes lembravam que existiam coisas além deles mesmos e o visitavam na estação.

Os poucos hóspedes de grande risco.

18 agosto 2014

[conto] arrumando o quarto


Título: Arrumando a cama (por @_brmorgan)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 18 anos. (Angst & sorta of Pain, como sempre, um bocadim de insinuações, linguagem inapropriada).
Tamanho: 2.552 palavras
Status: Completa.
Resumo: Diálogo simples ao se arrumar uma cama.
N/A: Fui embalada pelas vibes Nova Orleans e aproveitei o cenário que já tenho (Felicidade Adormecida, em breve um link prestável) para colocar essa pequena peça de diálogo.

===xxx===
A festa de "reinauguração" foi um sucesso.
Bem se sucesso pudesse ser descrito como um bocado de gente entulhada no andar debaixo, com música improvisada com qualquer coisa que estivesse a disposição, então sim: a festa foi um sucesso.

Motivos para chorar todo mundo tem, para sorrir bastava ter essa turma por perto. No meu caso para me lembrar que eu poderia viver mais um dia debaixo daquele teto sem ter um ataque de pânico fodido e me atirar da ponte da interestadual pra terminar de logo de vez com essa vida de merda que vivia.

(Bem, se pensar melhor, todos nós vivíamos uma vida de merda, sem exceção.)

22 fevereiro 2014

[conto] conversações debaixo do viaduto

A direção era controlada e bem calculada, já dentro de sua cabeça o mundo girava em milhares de ideias que nem ela mesmo sabia como freia-las (E não seria enfiando o pé no pedal de aceleração que faria aquilo melhorar). Resoluta de sua decisão nada planejada, no impulso da tarde quente coberta por nuvens escuras e o clima de mormaço caraterístico dos pântanos ali perto, ela deu a volta no Hospital e mais outra volta, e mais outra, e uma última para se certificar que estaria bem a vista de seu "alvo".

As teorias paranóicas dos amigos borbulhavam em seus ouvidos, o amargor na lingua para querer tocar em assuntos que as duas não tratariam em longos anos de amizade, a vontade de simplesmente deixar o fluxo de informações e palavras saírem de sua boca e acabar logo com aquele desconforto interminável de "o que poderia ser" e "o que não deveria ser". Impulso por impulso, ela estava certa (Pelo menos isso ela havia calculado muito bem a sua parte, estava certa, correta e ninguém a dissuadiria disso),o que poderia ser era maravilhoso, vantajoso, incrivelmente novo e surreal em certos pontos. O que não deveria ser era o que pesava mais: não queria estragar amizade de anos desde os tempos do colégio.

Como dar a notícia então? Não dar nenhuma pista? Mas a criatura era péssima para ler pessoas, ótima com os mortos e investigações bizarras, mas nada de saber exatamente o quê o outro pensava, nem quando os sentimentos e todos os sinais estivessem bem ali na sua frente. Isso foi subindo pelo seu pescoço, preenchendo boa parte de sua cabeça com a simples constatação de que ela não daria a mínima caso soubesse.

Esperou no carro, a chuva torrencial antes do turno da madrugada caiu sobre todos com surpresa. Enquanto o resto do mundo se protegia, ela deliberava o porquê de nunca conseguir NADA com a dita cuja, o do porquê de se sujeitar a acordar de madrugada e ir atrás de uma pessoa tapada emocionalmente ainda vestida de pijamas. Será que esperava por um abraço verdadeiro, um beijinho de agradecimento e por Deus... "Oh por Deus, me mostra logo onde é tua cama?" era o que ela pensava no exato momento em que viu a figura desengonçada, emaranhada em cabelos ruivos enormes, uma capa de chuva maior que seu corpinho e a bolsa tira-colo que sempre carregava. Era como se o mundo houvesse acabado ali naquele instante. Um breve instante em que se esquecia o que raios estava fazendo na frente de um Hospital se tudo lá dentro estava tranquilo...

Respirou fundo uma vez e mais vezes até sentir que seu sangue ia ferver seu rosto, pegou o retrovisor frontal e ajeitou o que deveria ajeitar, busto, blusa de pijama, lábios ressequidos, cabelos um pouco elétricos pela correria. Baixou o vidro do carro velho e assoviou com certa intensidade:
 - Hey você! - exclamou a mais nova surpresa com a visita não usual às 4h20 da manhã. - Tá fazendo o quê aqui?
 - Quer carona?
 - Não precisa não, tou beleza... - por um momento achou que verteria fumaça pelas suas orelhas.
 - Entra no carro. - disse seriamente, a criatura tonta não percebeu na gravidade da situação. Havia algo ali em jogo e era o seu coração.
 - Tou bem, darling... Vou a pé mesmo ali pro centro... Tá uma chuvinha tão boa né? - abrindo o guarda chuva distraidamente.
 - Entra-no-maldito-carro. - respondeu a mais velha entredentes e pausadamente. A mais nova a olhou com uma sobrancelha erguida.
 - Cê tá bem? Se estiver com porte de arma, não entro nem a pau... - a porta foi aberta com um empurrão rude da motorista e a chuva pesada ameaçou encharcar o banco do carro.
 - ENTRA LOGO!
 - Tá, não precisa gritar... - retrucou a mais nova entrando com todo cuidado para não molhar o assento e não fazer muita bagunça com suas coisas atrapalhando a passagem. Em um engalfinhamento entre bolsa a tira-colo, cabelos revoltados e capa de chuva transparente, a doutora conseguiu parar no lugar e colocar o cinto de segurança. Não mirou a motorista quando ela deu partida no carro, mas percebeu que algo estava errado.
 - Precisamos conversar.

13 janeiro 2014

[contos] Trust - NSFW - Rating +18

Já avisando, post NSFW, Rating +18,
classificação indicativa +18.
Título: Trust (por @_brmorgan)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 18 anos. (Cenas insinuantes entre mulheres, f/f/f, femdom, leve BDSM, já avisei!).
Tamanho: One-shot (Curtinha)
Status: Completa.
Resumo: Confiança é algo que se conquista com o tempo, mas pode ser destruída em poucos segundos.
N/A: Tive um sonho, resolvi ficcionalizar. Não, não vou falar quem eram as protagonistas (Tá, falo se houver tequila no meio). Don't blame me, blame my pervyness...

Okay, um conto pequeno para testar algumas teorias e tocar algumas superfícies intocadas há alguns tempos. Fazia muuuuuito tempo que não escrevia smut-fic assim do nada, aconteceu que no Ano Novo tive um sonho - ahem - muito confuso e resolvi dar uma recalibrada nas cenas. Juntou isso e o povo do The Rabbit RPG soltar o verbo no grupo e pronto, deu até para fazer um plot legal. E sim, sou fui bem boazinha no enredo para poder exercitar melhor a escrita. 

Então avisando pela ÚLTIMA VEZ, conteúdo abaixo do link NÃO É apropriado para menores de 18 conforme as tabelinhas de classificação indicativa de filmes/seriados/livros e tudo mais oh internet fode tudo, literalmente! então se não gosta dos temas acima, esqueça, vá ler outra coisa, pule de postagem. Não me culpe de corromper vossa mente ou que fui uma má influência. BTW faço isso (o escrever smut-fic, pow!) desde os 13 e ninguém nunca reclamou até agora, então...

Oh pode apostar que há coisas que você não deveria
ler no trabalho ou em locais públicos.

31 dezembro 2013

[conto] breathless

Esse é baseado em um cenário meu e do Oto Guerra sobre alguns apanhados de Drácula de Bram Stoker e História Mundial (E vampiros envolvidos nisso). Com mais calma explico o contexto todo do Colégio Carmim (Ou Rosenrot, yeaaaah Rammstein!). Anyway: eles são caçadores dotados de "superpoderes" (Hunters), a maioria treinado em Rosenrot se especializa em alguma coisinha pra sair debulhando os sanguessugas e é até divertido - se a própria fundação do colégio não fosse amaldiçoada. 

===xxx===

O eterno jogo de gato e rato. Como uma brincadeira infantil encenada nas noites tempestuosas de Bucareste, a emoção da perseguição, o momento entre uma estocada e outra, aquele golpe bem dado, às vezes o sangue espirrando veloz nas paredes dos casarões tombados, a corrida de sempre nas ruas escorregadias de pedras tão sólidas e tão velhas quanto a própria cidade. A rotina do jogo se tornara vício e o vício trazia mais consequências do que imaginava.

O alvo era sempre o mesmo, a caça (que se fingia muito bem de caça, mas estava longe de ser), espreitava nas sombras, esperando o momento decisivo entre o atacar ferozmente e o provocar sofregamente, seu prazer em tudo aquilo era tirar proveito da "caçadora", pois nenhum outro hunter que conhecera tinha tal obstinação quanto aquela jovenzinha de descendência turca, pele escura pelo sol com um aroma persistente de areia do deserto e olhos tão ferozes. Não necessitava de palavras, insultos ou gestos maiores, era apenas se apresentar onde ela estava, caninos salientes, mandíbula pronta para uma mordida destruidora. A caçadora sempre "mordia" a isca, largando tudo que estava fazendo no momento - até cancelar o assassínio de outro vampiro - e correr atrás dela sem pausas.

Estava acostumada a ter atenção exclusiva de seus súditos e de seu gado, mas nunca recebera devoção tão fervorosa em forma de ódio por alguém. Aquela jovenzinha estrangeira ali a surpreendia pela selvageria, pela ausência de medos e pela urgência de alcançá-la e debater-se em uma frenética luta corporal que durava alguns minutos, até a "caça" cansar de brincar com o rato (Ou quando alguém se machucava de forma preocupante).

Não entendia o porquê do clichê estúpido de querer aparecer bem no final da noite, perto do amanhecer, apenas para atiçar o instinto de sobrevivência e vingança da pobre caçadora tão bem instruída em seus ofícios , os dois lados se apaziguavam, seguiam seus rumos e voltavam a se enfrentar na noite seguinte. Era patético.

[conto] rootless tree

Quantos rascunhos de contos deixei na inbox? Tou apavorada! Bem, postando sem terminar!
Sim, em inspirei na homônima música de São Damião dos pseudos-irlandeses pra escrever essa.

===xxx===
Abriu os olhos, pequenos olhos, de perninhas curtas e dormentes, de respiração ofegante já no começo da manhã, do retumbar ecoante dos passos no assoalho de madeira forte, mas que às vezes parecia frágil. Seguiu em passos trôpegos até a mesa do café, não havia nada para seu estômago: "Uma pena" pensou sem sentir as palavras, mesmo que sua Fome estivesse ali presente ao seu lado (Como um espectro amarelado cutucando seu corpo), a diversão lá fora era mais atraente.

Desceu as escadinhas de madeira, deu uma última olhada para a casinha tão humilde que habitava em suas horas de não-vigília e suspirou fundo. Hoje iria saber como era ser grande.

Em muito segundos incontáveis cruzou o quintal dos fundos, tênis surrado nos pés já grandes para prender com cadarços, calças amassadas pelo tempo que passou dormindo na cama improvisada da casa humilde, a blusinha de tecido fino balançava solta em seu corpo miúdo que não engordava nunca - falta de nutrientes, falta de tudo, falta de nada - ajeitou a touca rasgada entre os cabelos negros tão desgrenhados pela falta de banho e se aprofundou na Grande Floresta da Adultice.

[conto] Forgiven: as consultas na madrugada

Mais outro conto que não finalizei, mas não posso ficar com nada na fila do final de ano. Esse é do cenário de Forgiven Jojo Ulhoa, um conto enooooorme e velhaco que fiz em 2007 sobre uma criaturinha que perdura no meu trato digestivo (Não, não andei dando uma de Cronos e comendo meus filhos, mas se é pra dizer que o ego trágico da Jojo costuma estar emaranhado perto do meu baço, aí sim).

Como o incrível resumo do NYAH! Fanfiction diz: A vida de uma legista hipocondríaca e com problemas de aceitação. Com vocês, Joanne Ulhoa, a louca.
(Jzuis, preciso atualizar esse bichinho ano que vem!)


Nunca fui de acreditar em contos-de-fada, muito açucarados para meu gosto, muito exagerados nos detalhes fantasiosos, pouco consistentes com a Realidade que eu constantemente via e vivia. Contos-de-fadas serviam para aliviar pessoas de sua trágica existência, confortavam crianças despedaçadas pela sociedade e às vezes... às vezes, eles costumavam povoar meus sonhos como um enxame de pensamentos aleatórios que ocupavam minhas manhãs mesmo após acordar.

Com o tempo fui aprendendo que contos-de-fada são construções simbólicas de determinações morais de nossa modernidade, algo que a burguesia capitalista instituiu em nosso meio para padronizar comportamentos, taxar aspectos moralistas, vincular o status quo com a existência humana. Muitos filósofos e pesquisadores desprezavam tal literatura para instruir seus discípulos, mas as massas, elas adoravam contos-de-fada.

A vida nos ensina que contos-de-fada não são reais, não há "Era uma vez" cada manhã que se acorda, não há "Final Feliz" no final do dia, não há príncipe encantado de armadura reluzente em seu alazão, nem beijo apaixonado no final da tarde com o sol a se pôr, os mocinhos se dão bem, os vilões sempre se dão mal. Nada disso acontece realmente. Não há extremos na vida que vivo, apenas borrões entre os termos. Como odeio isso.

Arrasto-me para mais outro plantão, minha cabeça pulsando mesmo com o gosto amargo da aspirina em meu paladar, o cochilo na sala dos internos não adiantou muito para remover os resquícios de uma bebedeira na noite anterior, jamais deveria ter pedido o turno de final de ano, sabendo o quanto de álcool poderia ser consumido pelos meus amigos (o que raios a Tracy não me ligou até agora? Coloquei a guria no táxi e ela nem para dar notícias se tinha chegado bem?!), jamais deveria ter enfiado meus pés pelas mãos ao tentar me aproximar novamente do meu projeto científico mais interessante em todos aqueles anos.

Aperto o botão para o subsolo e sou seguida pelo senhor da manutenção, um homenzinho mirrado, grisalho, com cheiro de água sanitária, desinfetante floral e uniforme mais desgastado que aquele prédio. Ele sorri em silêncio, respondo com um breve aceno de cabeça, não sei se meus lábios estão preparados para arriscar um sorriso amarelo (Não quero tentar igualmente), esperamos até o elevador chegar ao seu destino e a porta abrir com um rangido esquisito. Agradeço-o por manter a porta aberta para mim e me preparo para o pior: as macas no corredor para o necrotério do Hospital.

Essa rotina maluca de visitar o sujeito de pesquisa não estava fazendo bem para minha cabeça. Tudo bem lidar com os problemas dos outros, lares destruídos, casais com problemas, insegurança de homenzarrões do Exército, mas nada superaria o impacto que eu tinha toda vez que saía daquele elevador e dava de cara com aquele corredor vazio, gelado, de iluminação absurdamente alta, com zumbidos de maquinário funcionando para manter a temperatura ideal para retardar a decomposição dos cadáveres esperando nas macas enfileiradas, apenas esperando a próxima rodada. Odiava mais ainda o que teria que lidar quando entrasse na sala de atendimento, era como revisitar o Katrina e ter todo o tipo de lembrança ruim que aquele lugar perturbado trouxera para a gente. Eu felizmente conseguira me manter sã e salva com muita meditação, aulas intensivas de pilates, limpando bem meu corpo com uma nova dieta saudável e bem formulada, e felizmente tendo alguém para conversar quando o pânico e os pesadelos chegavam. Já o meu sujeito de pesquisa se enterrara em um PhD maluco em outro estado, achando que iria espantar seus demônios com trabalho de campo e estudos.

Como se a Ciência pudesse salvar a gente.