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22 março 2018

aquela epístola do templo e o corpo

De uns dias pra cá venho percebendo que todo aquele aprendizado disciplinar em igreja protestante meio que moldou algo que pode ser (ou não) o início de toda a solução ou a problematização do final dos esquema.



E como a semana tá muito dolorida, literalmente, bora assuntar sobre...
Debaixo do link tem aqueles assuntos que deixo sempre debaixo do link, porque bem... É pra isso que serve o "debaixo do link"...
Tá lá naquela parte tensa da epístola enviada aos gregos por Paulo. E era um dos livros de dentro daquela ficção-épica chamada Bíblia que mais me chamava atenção.

1) porque é uma carta.
2) porque o original tá em grego
3) porque, diferente das outras anteriores relatando o que JC fez da vida loka, eram recomendações

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? - 1 Coríntios 6:19

Eu sei lá, Paulinho, mas repetiram essa várias e várias vezes enquanto eu crescia. Aliás, me deram certeza que sacanear/hackear com o meu corpo não ia dar certo desde muito cedo. Prova-se com a cicatriz enorme debaixo do queixo, nunca mais quero voltar lá. O medo de acabar em uma existência vazia também me alertou a ficar longe de qualquer violação.

Tatuagens? Dói, então não.
Piercings? Não, dói, então nope.


Mas então...
O meu corpo é o templo de algo divino de acordo com a cartinha do miguxo. Ótimo, consigo comprar essa pra me manter longe de muitos problemas - e ooooooh quantos probleminhas quase arranjados pelo fraco da carne - mas não quer dizer que eles não irão aparecer.

E às vezes deixar um pouco de lado a própria filosofia nada feliz de lado e se entregar parece ser promissor. Não promissor do tipo, whoooooa tive uma epifania, parece ser mais suportável aguentar a própria filosofia. Complicado? Cês acham que tou escrevendo isso por quê? Necessito de reelaboração, pelamoooooor.

Talvez eu ainda esteja lá em 1999, querendo ser uma pessoa boa, gentil, amável e aceitável socialmente (e casada antes aos 18). E o máximo que consegui chegar 18 anos depois foi esse projeto de bibliotecárie nadando contra o sistema em que minha profissão é exercida. 
(E tá bom assim, por incrível que pareça!)

O se entregar é o pior, pois aí vem de lugares onde dói mais que o próprio corpo (aquele que não posso violar, conforme acima), orgulho próprio, culpa, vergonha e todos os monstrinhos que se embrenharam em uma couraça bem pregada pelo estoicismo de anos vivendo na filosofia do corpo como templo do divino. Não especifiquei qual divino seria. Desde que saí do sistema religioso cristão-judaico, o paganismo vem me chamando atenção por ter ausência de julgamento quanto ao corpo.

As religiões paganistas também pediam submissão de forma equilibrada, não completamente. Dependendo de sua posição na comunidade, o seu papel deveria ser preenchido, a submissão era inscrita ali. No final do ritual, todos voltavam a serem iguais perante aos outros, isso me é cativante de certa forma. Consigo pensar em um lugar seguro assim. E essa discussão barroca continua ecoando dentro dos meus ouvidos - que não estão mais pinicando e ameaçando para outra infecção, yey! - mas reverberando pra todos meus músculos nesse exato momento.

Meu interesse pela comunidade BDSM e a forma ritualística/instrumental (sim, tem método científico ali que nossa!) em que eles se envolvem com a sociedade aqui de fora vai por esse princípio. O corpo como templo, que não pode ser violado por ser de uso exclusivo do Espírito Santo? (Eu preciso sempre ler de novo o bendito versículo, porque é muito absurdo, mas ao mesmo tempo é o resumo da minha doutrinação protestante) E que Deus é esse aí? E srsly? Ali no final tá implícito que o próprio espírito santo tá em mim? São essas dúvidas que vão e voltam, principalmente quando coloco o templo em risco.

De 2015 pra cá, a química desse templo tá bem deteriorada com a quantidade acima do normal pela medicação do acidente e devo dizer que não tive como medir isso de forma boa, pois entre o tratamento e a recuperação completa (o parar de sentir dor no pé) foram meses. E na maior parte do tempo era rave trash com batidão para momentos silenciosos de imensa dúvida se o templo ia ruir ou se havia qualquer templo ali (Obrigada withdrawl de Tramadol e Codeína, vocês para sempre marcados no meu coraçãozinho). Os mecanismos de enfrentamento (coping) foram no modo drástico: sentir dor era o limite máximo. Qualquer dor. Aquele tempo de recuperação foi um imenso blur, nem sei como passei de semestre, não lembro de conversas com os amigos, me pergunto às vezes como o Zé (meu gato) estava regularmente alimentado e ao meu lado quando a coisa ficava tensa.

Até chegar a conclusão que a dor que eu tava sentindo não era a dor que eu sentia antes. Em uma escala de 1 a 9 em que a dor contínua, mesmo com os medicamentos heavy, perdurava, eu estava sempre oscilando entre 5 e 6. Não queria chorar, mas queria bater em algo. Forte. Pra dor da batida anular a dor insistente.
(Eu sei, bem babaca isso, sorvete na testa)

Talvez ficar fora do controle de mim mesme, desse templo já arruinado, foi uma das melhores experiências de minha vida. Ou talvez não. Diferente do que ocorreu em 2015, não há alarme no relógio para a próxima pílula, o constante medo de ter algum episódio de despersonalização (Aquelas mudanças de câmera em Silent Hill 2 fizeram tanto sentido...), o de não conseguir chegar a cama a tempo de apagar. A dor.

Isso meio que tá refletindo agora, pois bem... o corpo tá doendo faz uns 4 dias e a intensidade do 1 a 9 não oscilou muito do 4. E ao invés de me desesperar por não saber que essa sensação não vai embora nunca (oooooh quantos pesadelos), cheguei ao consenso que o templo tem que ter umas reformas básicas pra continuar erguido. Ainda morro de medo de sentir dor, ainda me afasto de qualquer coisa que possa me cansar ao ponto de exaustão, mas não quer dizer que elas não estarão lá. Elas vão estar lá, quer queira, quer não.

Isso porque eu queria manter o modo ermitão esse ano.
Imagina se tivesse continuado com o mago.

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