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11 setembro 2017

enjoa o silêncio


Há esse tipo de silêncio que vem me acompanhando desde criança.
É como um instante oco dentro da minha cabeça, ramificando pelos ouvidos até atingir alguma parte que se locomova e a faça se movimentar em movimento retilíneo uniforme. Esse espasmo cadavérico já é conhecido na família, - apesar de sempre gostar andar à pé desde criança - tem um caso em especial de "vontades de dar um sumiço andando por aí". Na maioria das vezes esse movimento me leva em direção ao Mar.

Essa atração pelo Mar tem sido uma novelinha meio estranha de se acompanhar aqui dentro de mim, desde criança gosto do som das ondas, da sensação da areia debaixo dos pés, dos respingos que a brisa traz, da imensidão salgada que nos leva a pensar o quanto somos finitos, e ele (o Grande Mar) não. Constantemente sonho com água corrente, mas não é o mesmo que ouvir o Mar bem perto de si. Foi nos momentos mais difíceis de decisões erradas que o Mar me acalmou, me lembrou onde era o meu chão e também da minha Sorte.

Querendo ou não, a gente sempre vai se reportar a alguém superior, mesmo quando não está muito a fim de se religar ao divino.

O silêncio ali da infância me preocupa mais que minha mente barulhenta 24 horas por dia. Aterroriza mais que os pensamentos nada legais, as crises de ego, as culpas decidindo tocar campainha e saindo correndo e principalmente as memórias.Essas são de me tirar do sério.

Era pra ter aproveitado esse dia na companhia de alguém, mas preferi me recolher a esse estado catatônico de movimento retilíneo uniforme direto ao mar e ver se alguma coisa acontecia. Qualquer coisa. Mesmo que fosse nada já me contentaria. Então fui subindo a trilha pra uma parte do morro perto da praia, prestando atenção especialmente naquilo que havia estudado sobre o tal morro (6 meses de museu fizeram tantas maravilhas que nem sei como agradecer), recapitulei o conhecimento herdado de lá, vi algumas curiosidades, li as placas, fiquei um tempinho sacando a inscrição rupestre que os Sambaquieiros talharam em pedra há 7 mil anos atrás.

E essa sensação de Nada se apossou duma maneira que fui obrigada a sentar em algum lugar para simplesmente não fazer coisa alguma. Olhar para o Mar não foi escolha, foi única salvação, eu diria.

O que me atraia nesse gigante, também me faz morrer de medo da minha própria (res)existência.

Porque quando estamos diante de algo beeeem maior que a gente, costumamos ter a mesma reação besta, no caso aqui, o silêncio deu lugar para as perguntas fundamentais de alguém que tem ansiedade excessiva e pouca motivação pra ser melhor socialmente. O que é que eu tou fazendo aqui foi a mais redundante no bloco de questões. A do Por que/quem estou fazendo isso tudo (resumo da vida) também foi a mais chatinha de não deixar martelar demais, afinal o barulho das ondas tava alto, alto demais e as perguntas ficaram só no eco.

Acontece uma coisa bem estranha quando ficamos olhando o Mar por muito tempo, você acaba percebendo que o horizonte é meio tortinho, ao invés dessa linha esquisita que a ótica nos revela, se você observar bem bem mesmo por um bom tempo vai perceber que o que era para ser uma linha reta, vai mostrar mais ondulações que supostamente deveria ter. Essa constatação afogou a pergunta estúpida que me faz querer chorar um bocado quando menos espero, mas ao entender que nem na natureza a perfeição de uma linha pode ser equivocada pela nossa ótica limitada, então é melhor concordar com o que já tá posto ali há cerca de trocentos bilhões de anos.

Uma pena não poder ficar mais, já escurecia. E há coisas nesse mundo em que pessoas que são lidas como corpos femininos não podem ficar em lugares assim sozinhas e sossegadas. Desci o morro, catei conchinhas, praguejei um bocado pela dor nas costas (Que veio comigo pelo caminho sem dar aviso de quando iria embora), subi pro asfalto, segui meu caminho pra casa. Seis quilômetros pra ir, seis pra voltar.

Se melhorou a sensação do Vazio, do Nada e tudo mais?
Em partes.
Preciso lembrar mais de deixar meus pés me levarem pra visitas assim.

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