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08 maio 2017

essa tal liberdade

Porque não há nada melhor que aliviar a tensão de um assunto sério com uma música de pagode trash dos anos 90...

A Malévola awesome do Um sofá para Cinco havia escrito um texto muito bacana há um tempo atrás e por incrível que pareça o tópico voltou a rotina aqui das caraminholas ao me deparar com algumas conversas que ando tendo com pessoas queridas próximas.

Para fins de conhecimento, esse texto foi escrito para eu revisar meu discurso, pois é dessa forma - através da escrita - que consigo me encontrar como pessoa, como ser pensante.

Então o que eu escrever aqui são impressões que tive por experiência própria e que não necessariamente contam como a realidade de todo mundo que sofreu/sofre dependência emocional por outrem ou alguma coisa.

Um traço forte na personalidade de pessoas que já tiveram um trauma em relacionamentos de qualquer tipo é a tal da dependência emocional que nos impulsiona ou repulsiona (Essa palavra não existe btw) a nutrir ou evitar tal bichinho roedor de autoconfiança, identidade e amor próprio.

E é triste ver como uma pessoa tão centrada, pé no chão e aparentemente em sã consciência pode fazer ou causar enquanto está nesse ciclo vicioso de dependência emocional por outra pessoa ou situação que possa estar sofrendo.


Primeiro há a negação que não nos deixa entender racionalmente que tal situação está só reforçando uma corrente bem dura e resistente de emoções contraditórias para se manter em um estado seguro e confortável - é o que parece ser, gente, não quer dizer que na realidade é.

Há uma linha tênue entre ser e estar, e outra linha bem mais fininha entre o que é o limite meu e do Outro. Com a negação funcionando a todo vapor, é difícil convencer ou conversar com a pessoa que aquilo que ela tá alimentando pela situação é um monstrinho bem ferrado que logo vai minar com qualquer noção de personalidade e caráter que possa ter.

Enquanto algumas pessoas negam a dependência emocional para se sentirem de certa forma aceitas, tem gente que leva o monstrinho pra passear às vezes, perto de um poço sem fundo e testar a gravidade com a coisa. Essas pessoas são as mais frágeis de se tratar, pois podem fazer coisas inesperadas, perigosas ou resolver jogar a chave fora dos grilhões que prende no monstrinho. 
(e às vezes os grilhões estão presos em volta do pescoço do camarada, aí a coisa fica beeeeeem mais ruim de se averiguar, ajudar e capacitar)

Com elas a gente precisa ter mais cuidado no trato, o de trazer uma certa razão e tirar tanta emoção ali carregada. Uma tarefa difícil mesmo. Quando o trauma se instala: separação, quebra de laços, paradigmas, dogmas que a pessoa sustentava pra manter a dependência emocional vigorando como única realidade possível de viver, é importante ficar atento a muitas consequências disso.

Ter paciência com a pessoa é uma das principais tarefas difíceis de se manter. Se a pessoa faz parte da sua rotina diária, não é bom forçar conversas francas do tipo: "Deixa de ser babaca e se livra desse encosto logo" ou qualquer intervenção direta e cirúrgica.

A dependência emocional é um monstrinho igualmente paciente e devagar, ele come as beiradas e vai colocando pilha pra continuar roendo a pessoa, não adianta ser enérgico nessas horas, muita conversa, muita escuta, muita negociação ajudam um bocado pra pessoa perceber que está sob a influência péssima de uma dependência desnecessária na vida dela.

Após o trauma instalado - cedo ou tarde a gente percebe - é o cuidar afetivamente, o se cuidar, isso parte da pessoa que sofre a dependência.

Recomendo urgentemente por ajuda psiquiátrica e/ou de grupo de afinidades, pois a pessoa pode se sentir a pior caquinha de trobo existente no universo. A depressão dá um olá bem sutil nessa hora.
O que mais impressiona é quando o processo é reavaliado, representado e reajustado para a realidade que a pessoa tá vivendo, há o problema maior da aceitação. 
(Há a fase dos estados de luto aí, mas não vou alongar demais o texto)


É fundamental o reconhecimento e aceitação do poço, que a dependência emocional se instalou e de como evitar ela de qualquer jeito, se afastar imediatamente de qualquer gatilho que faça ter lembranças - e a cultura pop tem muita coisa que pode contribuir com esses gatilhos.
(certas séries que pessoas me recomendaram para ver durante o mês, esquece, prefiro as besteiras nonsense de desenho animado dos anos 80 e unicórnios. Unicórnios melhoram tudo nessa vida!)

No meu caso a resposta é tão imediata que nem sinto mais vergonha ou culpa por reagir instintivamente com um "nope" e sair correndo na direção contrária. Ou entrar no silêncio, because enjoy the silence pelamoooooor.


Outra coisa importante é o acompanhamento, não adianta ter saído da bad se não faz manutenção do sistema - pode ser com acompanhamento especializado ou com a rede de pessoas que convivem e de certa forma você confia, tenho poucos, mas estes me ajudam sem querer com palavras amigas na medida certa ou me surpreendendo quando menos espero. Cair novamente no ciclo de dependência é mais fácil que ser rude pra evitar o treco, quando isso ocorrer: dê preferência para estragar o dia de alguém - com moderação - do que se sujeitar a essa pessoa.

Faz parte, a gente aprende com o tempo. 
(a distração faz parte disso também, a miopia e surdez seletiva, às vezes é bom entrar na conchinha do Gary e sorrir e acenar)

Entendo que não é algo a ser resolvido em um estalar de dedos, do dia pra noite, mas com pequenas ações durante o dia - evitar os gatilhos, reconfigurar as lembranças, não se deixar levar por viradas bruscas de emoções sem fazer um exercício de respirar fundo antes - ajudam pra caramba em não cair em desespero.

Porque pode estar tranquilo, mas por dentro não tá.

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