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24 maio 2017

assim do nada, de novo progenitor dá notícias

Tenho poucas lembranças do agente progenitor que ajudou a fecundar o feto onde me criou. 

O mais engraçado é ter notícias dele de tantos em tantos e não sentir absolutamente nada pela criatura. Talvez sinta, tou aqui desperdiçando tempo escrevendo sobre ele, mas é válido devido ao objetivo desse blog - preservar a minha memória intacta até certo ponto?

Ele não foi um pai exemplar conforme minha memória relembra, nem lembro dele estar junto da família quando era em momentos decisivos. lembro de flashs assim aos 6-7 anos de algumas manifestações, uma influência que sei que ainda vou ter que correr atrás pra saber o que raios é (Tem a ver com a espiritualidade e ancestralidade da família paterna), uma caixa de Lego dada no aniversário de 6 anos - ao invés de uma boneca ou carrinho, obrigade velhote - fins de semana bem nublados na Tiago da Fonseca, nunca vi alguma demonstração de amor com a minha mãe, presenciei brigas violentas com a minha irmã mais velha.

Então entre tantos fragmentos, tenho as recordações que o cérebro cata do exterior para formar alguma opinião sólida do cara. Em um post do ano passado o encontrei no centro da cidade para conversar sobre umas pendências, não tem como não ter isso, o cara tá velhaco, eu tou ficando também, às vezes tentar entender o que se passa na cabeça do ser humaninho que financiou sua vida ao mundo faz bem, mas o cara é uma incógnita.
O que incomoda, e aí o motivo da postagem, é o não lembrar. Não ter uma memória sequer construída nem que ficcionalmente para encaixar o caboclo na minha timeline. Tudo quase se resumia a estar com minha mãe ou irmã, ou sozinhe mesmo, por que não? O não lembrar te dá liberdades com certas atitudes, como a de não dar a mínima de como o próprio pai se encontra de saúde. Ou de querer mais notícias dele quando aparecem. Sinceramente ao passar pelo centro histórico e observar a quantidade de gente sem teto, não sinto aquele friozinho na barriga alertando que algum dia ele teve que ficar dessa forma, não conheço o cara, as motivações, as ideias (Tá, Jesus é nosso Rei e Salvador, isso não conta!), os sonhos, só os fracassos dele com a gente. E os silêncios. E o que NÃO fazer quando virasse adulta.

Incomoda o fato de não haver lembrança suficiente até para não gostar da presença dele ou sei lá, ter algum tipo de afeto - mesmo que ruim - pelo camarada. Não sei se queria que fosse diferente, até porque o diferente parece piada ou fatalista demais.

Tudo bem encontrar um sentido de viver que seja para fazer o bem, ótimo, lindo, maravilhoso, encontrar Jesus, ver a luz azul, insistir nos mesmos erros, continuar magoando as pessoas que supostamente devem amar ele, isso não tá coerente. Parte da minha vida de adolescente foi negar que ele existia - ele não tava mesmo ali, o que que iria fazer? - na adultice fazer o esforço de entender o mecanismo de funcionamento, nada até agora. Essa ausência de explicações ou de respostas afetou muito o modo de ver o mundo (Não tenho respeito algum por figura paterna) e de praticar aquela velha amiga chamada alteridade.

Tem hora que não dá.

(Oh flash news: Jesus não salva das burradas feitas na vida, pode ter certeza disso.)

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