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07 março 2017

[interlúdio] entre o lacre e o jarro de picles

Comecei a escrever esse texto uma semana atrás, aí veio esse artigo na minha timeline do Facebook e isso no meu dashboard do Tumblr aaaaand, bem... caiu como uma luvinha.


(Florentina é deusa d@s desamparad@s nessas horas cruciais...)

Cê vai ficando coroca e não prevê mais as "cousa" direito.

Tenho essa mãe, meio me fez passar raiva quando mais novilhe, com todo um arsenal de cuidados e quadrados, tudo pra me encaixar em algum lugar. Ela massageava demais um ego que tinha tendência em inflar e sabotar uns feelings de vez em quando pra ajudar.

Não foi legal.

A gente via isso acontecer com os primos, a mesma neurose rolando, a mesma desculpa sendo repetida (nunca recebi amor dos meus pais), o sufocamento era o mesmo. Tardios na saída de casa, sedados por medo de crescer. Fracassados em algum lugar no lugar dos nossos pais.

A atenção era desmedida, no que tinha de "supermãe" para os outros, tinha era uma jarra de conserva sendo mantida. A vida dentro da redoma vai riscando algumas coisinhas da nossa vida, uma personalidade ali, uma opinião concreta aqui, às vezes moldava coisa que não devia, como seu verdadeiro eu, aquele que você procura tanto depois que perde quando criança, mas tá lá em algum fundilho rasgado do bolso de alguém. Nunca o seu.

A dependência, essa vai criando uns tentáculos bem oscilantes, traçando espirais de fuligem e tinta escura, obscurecendo aquilo que era pra ser naturalmente colorido. Dá pra entender: eles só querem o nosso bem. Apenas isso. Mas não compreendem que entre o bem e o mal tem um caminho bem tortuoso com um pedra gigantesca no meio e um horizonte que a gente não vê. 

É assustador.



Aí algumas pessoinhas da gente conseguem ascender, tipo ganhar XP e sabe onde gastar (nunca gaste em um único lugar), faz por onde, mostra que crescer faz parte da gente, mesmo que aquele que a gente mais ama continue a insistir que só podemos crescer se obedecemos o que é o crescer pra eles.

É confuso.
É assustador.

Porque pela primeira vez na vida você percebe que vai morrer só. 
Vai comer só. (Ou não comer)
Vai adoecer só. 
Vai estar na solidão só. 
Mesmo que o discador rápido do celular seja de um deles. 
Mesmo que troque mensagens todos os dias. 
Porque pela primeira vez na vida você estará enxergando o mundo como eles costumaram enxergar durante anos antes de ter você na vida deles.

É um bocado cruel.
Em algum ponto de suas vidas, deveriam ter nos ensinado o que ia acontecer lá fora da redoma.
Porque talvez seja melhor ficar entre eles, aninhade no conforto deles, submetide a eles, talvez seja esse o melhor. Ou aprender a ser sozinhe de uma vez por todas. Vai doer, vai quebrar metade do que acredita como sendo você (Era eu mesme esse tempo todo ou eu tava me enganando?!), mas quando a hora chegar, a única hora que sabemos mesmo que vai chegar, como vai ser?

Não tou ficando mais jovem, você tá envelhecendo aos poucos. Algum dia isso vai terminar. Não quero que seja lamentando o que não vivi, o que não errei, o que não aprendi na marra e na porrada. Pra quem está envolvido demais, difícil é perceber onde é a saída. Porque não há escapatória ou final feliz, há esse jarro enorme de picles em conserva, com todos meus medos, anseios, desejos, frustrações guardados e que não consigo abrir nem com o truque da faca.


É metafórico se não fosse assustador. 
(alguns realmente levam o truque da faca a sério e isso me é mais assustador que deixar o jarro ali quietinho, sem abrir)

Crescer faz parte da vida. 
Nascer, crescer, desenvolver, encolher, morrer.
Devagarzinho sem nenhuma certeza se a Felicidade vai chegar ou ficar ou se Amor algum vai durar. 
(Os impostos, esses permanecem querendo ou não)

Tenho essa mãe, ainda tenho. Me preocupo com ela todos os dias, todo santo dia. Ela me deu vida, me encheu com vinagre, condimentos e botou naquela jarra de conserva com tudo que a maternidade tem direito. Ela continua a fazer isso sem ver, mesmo que meu picles tenha escapado quase desidratado do vidro. 

(não usei o truque da faca não, foi me espremendo entre lacre e tampa, até virar uma pasta epiclética de puro medo de continuar no jarro e por mais absurdo que pareça, morrendo de medo de ter saído do jarro)

O que sobrou do picles ainda conserva tudo que tava no jarro e um medo pavoroso de voltar praquele estado estático, vendo o mundo sob os medos, frustrações, anseios e desejos de outrem. Engraçado citar isso, mas ao me espremer pra fora do vidro, percebi que continuo fazendo a mesma bobagem. Afinal o mundo cobra pra eu ser um ser humano, não um picles.

Alguns parentes nos cobram em sermos os picles dentro dos jarros que eles conservam até morrer. 

(Pesado isso, né? Espera até ouvir o quanto é decepcionante sair do jarro sem a permissão deles, é justamente voltar ao começo de todo problema: "Não recebi amor dos meus pais" - "amor" esse em demasia faz muito mal a Sanidade de quem quis não ser picles um dia)

Você não é um picles, você é humano. Um bom humano com um potencial incrível. O que era pra ser picles era o que seus pais queriam, não o que você é realmente. Não se esprema entre o lacre e a tampa, não veja o mundo turvado por vinagre e condimentos. Não use essa metáfora péssima em conversas sérias. 
(apesar de essa ser uma dessas)

Mas se quiser ser um picles tudo bem. 
Não há muito o que posso fazer pra ajudar - hello? Pasta epiclética aqui? - a não ser te lembrar que nossos pais guardam nossos jarros, mas não quer dizer que precisamos habitar neles. 
Algum dia vou entender o porquê do jarro, o porquê de tanta pressão, o motivo de tanto zelo.

Ou talvez não precise ir muito longe: "nunca recebi amor dos meus pais".

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