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30 agosto 2016

cobrança dá a volta e meia e volver




Cobrança é gatilho pra eu pedir arrego e sair correndo na direção oposta. Por que sou irresponsável?
Muito longe disso. Eu sou uma bolinha de ansiedade que constantemente se cobra mais que o saudável.

Cresci num meio em que tudo que eu pudesse fazer era passível de uma cobrança a mais. A mais nova na sala de aula - tem que estudar mais pra alcançar os coleguinhes - a única "menina" que se misturava com a maioria de "meninos" - tem que jogar bola bem, jogar vídeo game direito, saber a escalação do time do Brasil em pelo menos 3 copas, e por aí vai - até às cobranças psico-familiares que alguém pode ser submetido quando se divide o espaço com alguém com traços possessivos e territorialistas que me inibiam de muita coisa.

Quando vejo que alguém está cobrando demais de mim, seja a mínima coisa, vai cutucar 3 tipos de ferimentos graves dentro desse músculo cardíaco que não me serve de nada por enquanto:
1) se está cobrando é porque não estou fazendo certo. E é a minha obrigação fazer tudo certo. 
2) se está cobrando é porque deixei de fazer algo por conta da minha natureza supercética, nada antenada em sutilezas e entrelinhas das indiretas.
3) se está cobrando é porque tá na hora de ir embora e eu não saquei isso ainda.


A cobrança traz alguns amiguinhes bem fodidos como o ciúmes, a possessividade, as suposições exageradas e a visão unilateral de mundo entrarem na dança. Ela me agride mais que a indiferença ou a falta de comunicação, esse fantasma amaldiçoado parece me perseguir às vezes em algumas instâncias da minha vida de escriba.


Parece que meu corpo desenvolveu um dispositivo automático de identificar quando alguém está deveras exagerando entre a linha do "Esse é seu trabalho, logo sua responsabilidade" e o "Se não fizer tal coisa haverá consequências" - Isso tem outro nome na cartilha da galera da Psicologia e chega das neuras que preciso trabalhar sozinha pra me sentir confortável comigo mesma.

Pra quem tem um bode (trasgo) amarrado na perna volta e meia, acaba entendendo o mínimo de preocupação como "cobrança" - aí nasce o perigo, pois a preocupação verdadeira pode ser confundida com algo ruim e a cobrança intrusiva com preocupação legítima.

Um ciclo vicioso do baraleo.

Cobrar não me parece um modo legal de se chegar a qualquer conclusão sobre algo e alguém (pode até funcionar para o telemarketing em casos de atraso de contas). A comunicação aberta sim, essa está funcionando até onde notei. E quando digo cobrança é aquela insistente que as pessoas cismam em carregar e jogar o peso em cima dos ombros dos outros. Como se eu já tivesse alguma escolha em carregar meu fardo.

Nunca né?

A cobrança excessiva estraga amizades, planta desconfiança, nutre uma irritação que estou acostumada a deixar bem bem escondida lá nos fundilhos (Ah querida hybris aliada a ira palpitando no pulso esquerdo só esperando a oportunidade de agarrar aquele filtro entre o cérebro e a língua).
Volta e meia, volver. Porque não tem como ficar sufocada desse jeito pro resto da vida, não. Já me é difícil pra cacete confiar em alguém sem vir esse pacote de discórdia e hey, não tenho pretensão alguma de gastar minhas energias com isso novamente.

(O default da infância e adolescência era tão weird que quando não me cobravam, eu achava estranho, vai entender?!)














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