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05 julho 2015

Quando eu tiver 93 anos...

Tá na hora, tá na hora, pananananananan do domingo começar, pois são 13:25 de uma tarde nublada com 13º nas fuças e um gato carente pra apertar no meu colo até ele cansar de ficar mordendo meu braço (E me deixar escrever direito) e dia de 20 coisas para se escrever quando estiver em um bloqueio de escrita

O sufoco do final de semestre está quase indo embora, última prova na próxima terça e não pretendo honrar o compromisso de fazer a bendita em algum estado mental alterado. Há muitas responsabilidades na segunda e na terça, e eu me livrei da caixa de tramadol, logo...

Alright, hora de escrever a sessão linda do domingo que estava sentindo falta! Como o sarcasmo tá em alta esses dias - and heaven knows I'm miserable now, tio Moz - o assunto é: 

Write about how you’d like your life to look when you’re 93...
Escreva sobre como você gostaria de ver sua vida quando estiver com 93 anos de idade...

Fácim! 3 palavras, um cenário, um feeling:
Praia, Irlanda, cadeira de balanço.

Yep.


Tudo começaria em um verão dos meus 93 anos, sei lá. Em que já tivesse feito tudo que tinha que fazer academicamente falando, eu velhinha, curvada, com as mãos tremendo pela falta de exercícios e ao sair de casa durante a manhã, com mais casacos que o devido (Mesmo sendo verão, hey! Sou friorenta!) e avistar a paisagem que me é bem vista desde muito tempo. Sei que já vivi por mutio tempo perto da praia quando mais nova, mas nada se compara ao sol nascendo no Mar da Irlanda - e é provável que eu vá morar em Donegal ou nas Aran Islands por algum motivo, tou fazendo votos.


Porque tenho essa certeza que ao chegar depois dos 60 terei problemas de sono - e pelo histórico na família de madrugadeiros, creio que irei seguir o mesmo padrão - então ver o sol nascer será minha rotina básica e isso vai me fazer sorrir, estalar os ossinhos das costas curvadas, ajeitar o esqueleto no lugar e fazer as tarefas da manhã.


Depois do chá gostoso da manhã com mais um lanchinho, vou lá embaixo na praia de cascalhos ver o que os pescadores estão aprontando. E se o dia estiver de boa, vou cantando alguma música da minha juventude, enquanto carrego minha bolsinha de mil utilidades. Talvez eu tenha um barco, ou divide ele com alguém (Não sei se estarei casada, não sei se terei filhos, mas seria legal dividir) e com ele (o barco) eu passaria parte da estação de pesca só navegando tranquilinha e garantindo o almoço e jantar por um bom tempo. Eu saberia pescar ainda, teria força pra puxar os trem, mas deixaria os marmanjos fazerem o trabalho pesado.

Eu não iria cozinhar mais, ia preferir comer comida que os outros fazem. Iria mil vezes preferir comer a comida que alguém que eu gosto muito faz com todo carinho pra mim (Mas garantiria o pão, arroz, feijão e peixe com certeza, divisão de tarefas, oras). Não me importaria subir o caminhozinho todo até a vila pra almoçar com ela.


Dentro da minha bolsinha há preciosidades, se a tecnologia estiver avançando lindamente como acho que irá, terá formas bem bacanas de auxiliar a galerinha da comunidade com as skills de bibliotecária que guardarei pra sempre no meu coração. É provável que os pescadores da vila tenham filhos, é provável que eu vá catar a quiançada pra fazer expedições pela praia e trocar muitas ideias de sonhos, nonsense, vida marinha, vida na cidade, viagens e tudo que a imaginação der na telha. É provável que eu vá ficcionalizar algumas coisas, porque eu sei que minha cabeça não estará boa após os 75 e com certeza vou acabar misturando fatos, coisas e pessoas em histórias diferentes por perder a referência da realidade vigente. É provável que me chamem de "Doida de Pedra" e vou adorar esse fato.

Vou torcer para a Medicina Futura ser eficiente quanto ao tratamento de debilidades mentais que atingem a terceira idade - histórico na família também não mente, alguma coisa vai acontecer pra me fazer buscar estratégias de ordenação de pensamentos e rememoramento.


Quando a pescaria acabasse, ou as aulinhas ao ar livre, ou simplesmente a caminhada na prainha, eu iria em casa, que seria essa aí em cima (Cottage é como chamam por lá), repararia no telhado que preciso consertar, onde, quando e como, faria uma listinha com algum aparelho tecnológico avançado para postar coisas sem precisar escrever (A minha habilidade de caligrafia teria ido pro saco há muito tempo) e marcaria um cházinho com o marceneiro pra arrumar esses trem.

A cottage seria de frente pro Mar, um pouco afastada da praia através de um caminhozinho entre a relva e uma pancada de pedras bem colocadas pra uma mini-escadinha. Como eu seria paranóica, pediria para alguém de vez em quando dar uma olhada nas pedras e colocar algum material aderente ali. Última coisa no mundo é morrer trocando as pernas ao escorregar para o caminho de casa, nope.

Eu moraria sozinha. 93 anos não seria fácil pra ninguém me aguentar - nem eu me aguentaria! Todos concordariam que a "Stone Lady Aunt Morgan" está melhor vivendo no mundinho dela perto do Mar do que lá em cima na cidade, resmungando e sacaneando todo mundo. É provável que a pessoa de minha afeição (Hipoteticamente falando pode ser a pessoa com quem eu casei antes ou talvez alguém que descobri um carinho mútuo e tenhamos um acordo de nos manter juntas nesses termos) tenha ficado lá na cidade. É provável também que ela às vezes se canse da cidade e desça pelo caminhozinho pra me visitar e fazermos coisas domésticas bestas como cozinhar (Eu só vou olhar...), contar as novidades, filosofar coisas estranhas, lembrar de histórias cabulosas do passado e teorizar os absurdos da vida. Não será perfeito, mas será satisfatório, afinal de contas terei 93 anos e não será mais o mesmo quando eu tinha 28 anos...

A cottage é pequena, apenas um cômodo para tudo. Eu não me importaria, tudo ao alcance da mão, sem me preocupar com acidentes inoportunos por tudo estar grudado as paredes opostas. os móveis vão ser simples, a lareira vai ser automática, pelamor. Só vou pedir 2 extravagâncias: o banheiro ser que nem aqui do Brasil - grande, espaçoso, com barras de ferro pra sustentação nas paredes e com isolamento térmico - aquela "caixa" que guarda a cama ali no fundo da foto? Yep, ela teria que ser maior, pra caber pelo menos umas 3 ou 4 pessoas (Sim, serei espaçosa pra baraleo), com cortininha mais fofa, com isolamento térmico também.

Só um exemplo do espaço, eu não teria louças assim!
Um grande relógio em cima da lareira seria meu único companheiro durante o dia em que quisesse ficar trancada em casa, ouvindo música velha, dançando devagar de lá pra cá, arrumando uma pilha de livros com alguma classificação bizarra que inventarei, ou dançando com um gato esporádico que costuma aparecer na propriedade quando quer. Não poderei ter mais animais, não vou saber muito bem como cuidar deles.

No final de tardinha a cadeira de balanço será meu refúgio, com ou sem gato/cachorro/cabra/ovelha ao meu lado, um belo bule de chá lotado de açúcar, um violão meio cabreiro de um lado e eu sei que vou falar sozinha, então nada mais justo de travar um debate com o belo pôr-do-sol a frente. Nos dias frios estarei como um iglu de casacos e cobertores, mas farei questão de ir pra cadeira de balanço e ficar ali até o anoitecer. Quero muito ver as primeiras estrelas no céu e lembrar como era na minha juventude quando eu mal podia olhar pra cima com medo de tropeçar nas minhas próprias pernas com a pressa, a ansiedade e a cisma.


Provavelmente terá dias em que vou ter umas ideias muito ruins do mundo, por estar velha e inoperante e talz. Talvez eu vá descontar a raiva que sinto de mim mesma lá na prainha pescando, ou pilotando barcos, ou até dando uns resmungos nos filhos dos pescadores, mas nada vai melhorar meu humor a não ser quando estiver no estopim da grande revolta (O pulso de raiva) e subir o caminhozinho de pedra e ir pra lojinha estranha que abri décadas atrás pra me sustentar e dar um jeito na situação de cultura do lugar.

Tudo bem, eu adoro o pub da vila, awesome! Mas pessoas precisam aprender também, a escola ajuda bastante, mas conhecimento é poder e deve ser compartilhado para todos, sem exceção.


A fachada da lojinha estranha seria um amontoado de livros velhos (Didáticos principalmente, para me lembrar da linda época em que se doutrinavam goela abaixo as nossas crianças sem efetivamente ensiná-las a ler e escrever como um direito universal) com esculturas como essa. Teria de tudo um pouco, desde suportes velhos e ultrapassados, a novos e sofisticados gadgets de leitura e escrita. A lojinha teria cheiro de grama recém cortada e madeira de barco de água salgada. Provavelmente eu colheria qualquer produção intelectual e cultural do local para armazenar e disponibilizar para leitura aqui, provavelmente eu não cobraria nada por isso, provavelmente seria uma biblioteca comunitária.

Provavelmente estaria dando certo por longos 30 anos.


A pessoa de minha afeição profunda estaria ligada com essa lojinha - moraria ali atrás ou cuidaria dela ou sei lá, talvez eu a tivesse encontrado pela primeira vez montando o acervo e eu me voluntariei a trabalhar para ela em troca de comida, quem sabe? - e adoraria me ver indo ali nos dias de fúria. Antes de me dar o sermão de "você não deveria sair assim nesse tempo!" ou "você deveria ter me ligado antes pra te buscar!" ou até mesmo "você é uma teimosa duma figa que não para quieta!", ela com certeza me embromaria com comida ou beijos. Eu sentiria falta dos beijos depois.


Eu não saberia nada de gestão de bibliotecas, mas atenderia bem os clientes/visitantes, contaria estórias pros pequenos, ouviria as estórias dos viajantes e turistas. Tentaria levar uns artistas locais para tocarem ali quando quisessem, o quanto quisessem pra ajudar na divulgação do trabalho deles, e também escolheria uma boa parte dos livros ali e levaria para a escola mais próxima. Conhecimento é poder e poder tem que ser compartilhado, AmIrite?

Quando chegasse à noite, teria outro sermão, o de não voltar pra casa naquele clima, no escuro, sozinha e blablablá, mas acabaria convencendo algum conhecido em me levar até o caminhozinho. Ou ficaria a noite na lojinha estranha, entulhada nos livros, papeando com as pessoas que eu gosto tanto e não mais carrancuda devido a minha situação anterior.

No outro dia nem ia esperar o café-da-manhã, ia descer pra cottage e voltar a minha rotina de sempre.

Pensando dessa forma... Parece ser uma velhice boa de se imaginar...

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