Pesquisar este blog

22 janeiro 2015

recapitulação de infância - beijinho

Post com reminiscências a seguir.

Eu sonho demais com o lugar onde morei por cerca de 5 anos durante minha infância. Apesar de não ser um lugar em que tenho as lembranças frescas - muita coisa se mistura com relatos de mãe, irmã, confusões infantis minhas e por aí vai - mas realmente a casinha de madeira no meio da Tiago da Fonseca era e sempre vai ser meu endereço favorito.

[TL;DR - Tão avisados! É um daqueles posts de divagação que só vão me servir para lembrar onde morei na infância caso algum dia eu perca a memória ou algo do tipo]



Ultimamente tenho tendo esses sonhos com o tal endereço e percebendo que as nuances da rua estão mudadas, passei por lá semana passada e há um prédio enoooooorme sendo construído bem onde eram as casas de 2 vizinhos que eu considerava muito, sendo 1 deles meu BFF de aventuras com LEGO. É uma pena que a rua tenha saído da configuração que eu imaginava conhecer - minha irmã mais velha consegue identificar cada vizinho apontando para onde era a casa (Muitas não estão mais lá) e isso me fascina, porque aquela rua era meu mundinho total e completo por muito tempo, não lembrar onde se alojavam quem eu passava (Ou mesmo os sobrenomes) a maior parte do tempo me deixa meio... inútil.

Queria poder ter mais memórias firmes daquela época, pois tanta coisa que identifico agora foi manifestada naquele tempo entre os 4 pra 9 anos, tantas tendências de personalidade e acidentes de percurso (Literalmente, tenho a cicatriz no queixo provando isso). Há também a bendita e misteriosa mangueira sem frutos que está ainda lá, atrás no quintal que parece se manter o mesmo da mansão que construíram em cima da casinha de madeira em que eu vivia. Isso pra mim é como um daqueles milagres secretos que apenas um local tão cercado de boas lembranças infantis e um certo ar de glamour pode proporcionar.

Acho que aquela árvore jamais vai sair dali e já se passaram 20 anos.

Anyways, a reminiscência vem por encontrar algumas coisinhas aqui, como fotos do antes e depois do acidente - o evento que gosto de nomear como "Dia de Super Herói", pois voei por cima do guidão da bicicleta por conta da 3ª Lei de Newton - festas juninas da rua, aniversário de minha irmã e várias do meu cachorro super-awesome Murphy (Viu como a Lady já tem apreço por mim faz tempo?!).

É bom revisitar esse pedaço do passado, tanto por ver que muitas coisas não mudaram desde lá (Nerdy, nerd kid, was I?) e por um simples acontecimento que me faz deliberar se não foi o trigger para o que sou agora. A casa era do outro lado da rua, talvez umas 4 ou 5 mais pra frente, indo para a Ivo Silveira, era de madeira também, uma família enorme e barulhenta a habitava, sendo que o irmão mais velho era objeto de desejo de minha irmã mais velha. Como era de se presumir, passar muito tempo na frente da porta da casa de um e outro era rotina dela e de certa forma a minha. O rapaz tinha uma irmã mais nova, a caçula que quase ninguém não gostava muito na rua por ser aquele tipo de criança que faz traquinagem o tempo todo por ser extrovertida demais, eu a adorava/odiava.

Diferente das outras meninas da rua - eu não costumava ter muito contato com elas já que estava incluída na turma dos meninos, nas partidas de futebol na rua, nas andanças de bicicleta, nas batalhas de Comandos em Ação e as disputas caras na Loja do Márcio pelos arcades de Mortal Kombat, Street Fighter e Samurai Shadow - essa menina falava tudo que vinha na cabeça por puro teste de sobrevivência (Eu mal sabia me manter ao lado dela sem querer sair correndo de vergonha/intimidada/desconfiança). Ao lado da casa dela havia outra garota, mais velha que nós (talvez 1 ano ou 2) e do outro lado a sua melhor amiga. Tudo ficava muito contido nessa panelinha, que óbvio, eu não compreendia algumas regras e muito menos simpatizava em querer saber mais do que elas faziam para se divertir.

Havia essa pequenuxa do outro lado da rua também, de família mais rica e bem mais nova que nós - devia ter uns 5 anos quando eu tinha 8 - mas que adorava ouvir contos-de-fada em livrinhos coloridos (Ela não sabia ler ainda, eu lia um bocado para ela) e que aprendeu a amarrar os sapatos no modo coelhinho de duas orelhas e a outra forma mais comum. Em 1999 quando voltei a morar aqui por alguns meses, visitei a rua e lá estava ela me pontuando sobre ter aprendido a amarrar o cadarço por minha causa - me senti ligeiramente pequena perto dela, a pequenuxa havia se tornado maior que eu.

Bem, e a vizinha do lado (a melhor amiga) e a mais velha também estavam lá, mas as duas não sabiam o que acontecera com a garota de temperamento difícil. Minha irmã perdeu contato com o pretenso namoradinho por começar a dar as saídas para as discotecas em outras cidades - conseguem imaginar quando o poperô era sucesso? Pois então, foi assim que a minha percepção musical foi moldada: tundz tundz tundz a beeeeeeeeeeesha foi solta! - claro que o rapazinho não conseguiu seguir o ritmo.

Minhas visitas a casa da família barulhenta por conta da rotina de minha irmã foi diminuindo, mas mesmo assim me sentia com vontade de ver o que a desbocada estava fazendo nos fins de semana. Sentia necessidade de vê-la, porque era a única que conhecia que pelo menos falava o que passava na cabeça sem ter muito medo do que aconteceria depois (lembro da mãe dela gritando e dando uns tapas nela por conta dessa característica tão exótica). E nas vezes que eu ia, ficava sentadinha em algum canto, vendo ela e a BFF brincando de algo de "menininha" como casinha, boneca, algo do tipo. E poucas vezes me juntava na brincadeira por não saber bem o que fazer, a não ser essa vez que fui obrigada a ser a filhinha, mas por votação unânime das duas acabei sendo o "pai". Yep e nem me senti incomodada com isso.

É bom buscar os pequenos pedaços de memória sobre essas visitas, pois além de ser um território estranho pra mim na época, havia muita regra implícita, nem sabia como me comportar na presença de meninas. As perguntas ávidas dos garotos depois que me deixavam mais aliviada, pois assim como eles, eu não fazia A MÍNIMA IDEIA do que elas queriam, de como elas se expressavam e pasmem: como interagiam com as outras meninas. Ficar como o pai nas brincadeiras me era seguro e confortável, não precisava entrar no jogo de poder acontecendo ali - e tendo uma desbocada com uma BFF esperta pra idade sempre dá conflito de interesses. Era engraçado vê-las brigando por alguma coisinha mínima ou por não concordarem com algo. Observar essas brincadeiras e briguinhas se tornou um modo prático de entender o que raios acontecia comigo quando minha atenção era totalmente virada para uma mulher/garota.

Todos os garotos que eram da minha idade na rua eram mais que respeitosos comigo, eram praticamente superprotetores com qualquer coisa que me ocorresse e felizmente assim como eu, eram totalmente inocentes quanto o amadurecimento feminino que voa mais rápido que o dos meninos. Beijar? Namorar? Brincar de casinha? Besteira, vamos falar de como fazer um supercombo no Street Fighter pra liberar o Akuma no modo hard?! Fui sortuda por ter amigos compreensíveis e preocupados em manter as relações de amizade longe de contatos físicos - e quando acontecia em alguma partida de futebol na rua (volta e meia eu acabava levando empurrão ou sendo prensada por garotos, e me era desconfortável a fisiologia deles), havia momento de pedir desculpas um pro outro, perguntar se estava tudo bem, se poderíamos continuar jogando. Por mais absurdo que pareça: estar entre meninos era mais seguro psicológicamente pra mim do que estar com as garotas do começo da rua.

A desbocada não gostava do meu modo tomboy e minhas perguntas idiotas sobre "por quê disso? por quê daquilo?" e muitas vezes eu voltava pra casa me sentindo como uma completa babaca por não saber pelo menos o básico sobre o universo feminino de meninas de 8 - 9 anos. Ficar na presença dos meninos era menos sufocante, menos esmagador de ego, menos interessante também. Quando a conversa se resumia a futebol, esportes, qual super herói ganharia de tal vilão, qual foi o episódio do desenho favorito e como iríamos juntar dinheiro pras fichas do arcade, isso me aborrecia um pouco. Era como se tivesse perdendo muita informação de ambos os lados...

Crianças podem ser cruéis quando querem (tanto que a pequenuxa não entrava na brincadeira por simples capricho da desbocada), mas percebi que mais vezes eu era convidada para ser o "pai" nas brincadeiras, até chegar a essa lembrança de uma tarde estar no quintal da casa da desbocada e perguntar algo totalmente nada a ver sobre o porquê ela brigar tanto com a BFF, a resposta foi grossa (ela passou a tarde inteira falando pra eu "parar de ser macho"), e no final de tudo ganhar um beijinho no rosto - pois eu era o "papai" na brincadeira e era isso que pessoas casadas faziam. Confuso pra cacete.

Um simples beijo no rosto que se tornou um dos primeiros contatos físicos que tive com uma garota da minha idade - e me sentir "esquisita" por gostar disso. Esse detalhinho me intimidou tanto que nunca mais fiz perguntas quando brincava com elas, foi como um "cala essa boca" só que mais suave. Essa repreensão física que me foi imposta meio que moldou parte da minha sexualidade desde então, porque ela me assustava com as coisas que falava tão abertamente, mas me calar com beijinhos na bochecha estavam me colocando numa caixinha menor que aquela que a panelinha das meninas já mantinha. Ao mesmo tempo que queria sair dali, também queria que os beijinhos não parassem. Aprendi então a me afastar da panelinha, dar mais atenção à escola e grudar meu traseirinho na sala de casa ou do vizinho que tinha videogame e aprender inglês na marra pra poder entender os jogos do Master System e Mega Drive Genesis.

E isso me distraiu por um bom tempo. Tanto que a mocinha desbocada se mudou com a família, sem dar adeus ou endereço, sem me explicar porque ela era tão desbocada, porque os beijinhos aconteciam quando eu me sentia confiante o bastante para perguntar algo relevante pra minha curiosidade infinita. Talvez ela soubesse que eu a adorava/odiava, talvez ela sentisse o mesmo que eu na panelinha, talvez ela quisesse que eu fosse capacho dela (coisa que as outras 2 meninas não admitiam e as brigas rolavam). Ser o "pai" nas brincadeiras me dava meio que esse status de submissa perto dela (Já disse o quanto ela era intimidante?). Ela se foi e eu acabei me empenhando em aprender outras coisas da vida através de livros, não necessariamente vivendo as experiências.

Anyway, hoje quero agradecer imensamente a menininha desbocada daquela casa de família barulhenta que me deu o primeiro beijinho no rosto, por me fazer perceber que algo dentro de mim iria aflorar para o Lado Multicolorido da Força. E pelo jeito que lembro dela, também a minha cisma com dominatrixes e questão de dominação e submissão, oh ótimo...

(Falei que seria um post longo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário