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31 dezembro 2013

[conto] parada pra breja

Comecei a escrever, não terminei, vou postar assim mesmo.
(Aí sou obrigada a terminar porque postei, lalalalala)

===xxx===
A criaturinha miúda arrastando os pés descalços, vestida como um acidente de carro, totalmente de preto e maquiagem pesada, parou na frente do balcão do trailer, deixando seus sapatos de salto agulha impossíveis no chão e pousou o queixo redondo na superfície de madeira pintada.
 - Baixa uma breja, monsenhor! - pediu ela levantando o dedinho mindinho e fechando os olhos com um longo suspiro. O homenzarrão que atendia dentro do trailer, alternando entre a preparação de um cachorro quente e uma leva de batatas fritas virou-se para ela com um hambúrguer lotado de recheio.
 - Chica, você sabe muito bem que não sirvo bebida alcoólica pra criança... - e batendo os dedos na travessa de alumínio com condimentos, ele chamou: - Mesa 42... - Angie pensou que o hambúrguer era para ela, mas levou um belo tapinha repreensivo do cozinheiro, indignada em seu estado de exaustão no meio da madrugada ela o olhou com revolta.
 - E-eu não sou criança! Tenho mais de 18 anos! - Emilio virou-se de novo para a chapa e continuou o preparo de mais um prato rápido para os poucos clientes da madrugada.
 - Apresente um documento de identidade válido e aí libero a bebida... - ela procurou nos bolsos inexistentes de sua saia frufru em fiapos e cheia de cintas de couro, rolou os olhos para o lado. A mesa 42 estava vazia. - Mesa... - Toby chegou esbaforido, ajeitando o pano de prato no ombro e sorrindo largamente para a cliente de sempre.
 - Boa noite, Angela...
 - Buenas noches, doguitozito... - ela disse sorrindo cansada para ele e o cumprimentando com o toque de mãos que haviam ensaiado tanto durante as reuniões no Clube de Caça. Toby pegou o hambúrguer e foi para a mesa 42. - Oh seu Emilio Santiago, não tem ninguém na 42, posso comer no lugar do cidadão faltante?
 - Tá maluca, anjinha? - questionou Emilio olhando para a mesa e acenando seriamente.
 - Tou vendo ninguém ali... - e realmente não havia ninguém sentado na mesinha de plástico barato com banquinhos de alumínio, o sanduíche entregue sumiu assim que tocou a mesinha. - Eeeeeeeita, o que é isso?! - exclamou a menina acordando de seu estado letárgico, seu corpo reagiu na hora com o sumiço do sanduíche. Toby veio andando com um gingado diferente no andar manco. - Tá soltinho aí por quê, oh Toddynho? Cê acabou de ver...
 - Os parentes do Toby finalmente estão frequentando o lugar...
 - O quê?! - Angie perguntou boquiaberta.
 - Alguns não gostam de aparecer para os humanos, então só dão um pulinho rápido por aqui e somem pro outro lado do véu... - explicou o menino-lobo endireitando a postura dela com uma puxada de leve nos ombros dela para trás. A garota feérica o olhou entediada.
 - Alguém pode explicar para eles que isso não é elegante? Tipo, confraternizar com a comida é algo sagrado nas minhas bandas... E não fazer sanduíches sumirem não é lá... muito... perigoso para um filho mais novo ver? - a pergunta foi feita para Emilio, mas quem estava ao lado de Angie era o mendigo do Arges, devorando silenciosamente as batatinhas fritas e sorvendo todo o refrigerante escuro que Angie detestava colocar na boca. - Okay, aparições como essa também assustam os clientes... Por isso você não tem caixinha no final do turno, Emilio. - ela tentou desconversar, olhando o mendigo de cima abaixo.
 - Bom ver você, Willian... - o mendigo grunhiu uma resposta positiva e continuou comendo sem parar.
 - Por Danu, olhe só você... Mal saiu lá do subterrâneo e está engordando com comida saudável e o líquido corrosivo do capitalismo... Parabéns...