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08 abril 2013

Feminismo nos Primórdios da Literatura Ocidental?

Então estava a ler alguns artigos bons do Blog da Cleonice Machado - a mocinha mais übber-awesome que encontrei em minha Graduação, atleticana ferrenha, defensora dos frascos e comprimidos e maluca pelo Universo Potteriano - Livros Legendados, e tenho minha atenção prendida por esse texto sobre o Feminismo e suas repercussões em discussões com pessoas que não entendem bem o conceito. Eu, como sempre, gosto de relativizar as opiniões da tia Cléo, ela pode ser deveras beeeeeem extremista em certos assuntos, mas por incrível que pareça, quando o tópico é Feminismo, ela acalma o gênio forte e te dá um glimpse da sabedoria milenar.

O que é bom quando você tem a política restrita de se manter sempre em cima do muro para poder observar bem o mundo estranho que se configura na nossa frente. Eu não sabia tanto sobre o Feminismo, mas de certa forma apoio a base do conceito igualitário que é promovido, aí a ficha caiu para uma coisinha interessante: Helena de Tróia.

Yeah, yeah, sim, sou Homero's whore, amo tragédia clássica e tou sempre atrás de fanfiction (ops) outros textos da Mitologia Grega (principalmente), então não é difícil eu acabar linkando TUDO que leio com os clássicos. Poderia ser pior, tem gente que ama Shakespeare até o tutano e ninguém reclama deles. No caso da tia Cléo, ela ama Machadão, e mesmo com meu desgosto, nunca reclamei dela por isso (Okaaaay já trollei com o negócio da batata!). Mas voltando: Helena foi a primeira feminista no começo da Literatura Ocidental?



Como a Cléo esclareceu, o Feminismo promove a igualdade entre os gêneros. Se você é homem, ou se é mulher, é tudo igual. Não há essa de divisão de valores e de tarefas, todos merecem ter o mesmo respeito, sem distinção de sexo, salários iguais, direitos e deveres iguais. O termo Feminismo não é o antônimo de Machismo, muito pelo contrário, ele contradiz e questiona o Machismo para romper com as amarras sociais que tanto vivemos nossa vida toda. Os questionamentos mais óbvios como "Por que menino usa azul e menina usa rosa?", "Boneca é pra menina, carrinho é pra garoto.", "Escrever ficção científica é coisa de homem e romance é de mulher" são desconstruídas pelas teorias feministas, e é nesse caos que surge a fagulha de ideal da Literatura Grega Clássica para a mulher.

Como já sabemos - e ler A Cidade Antiga de Fustel de Coulanges é uma mão na roda para compreender o passado helênico - mulheres, crianças e escravos eram considerados na mesma categoria: propriedade do homem, tipo um saco de arroz ou de feijão. dependia do preço no mercado. Mulheres serviam para reproduzir e fazerem pose, no máximo cuidar do reino quando o marido estivesse fora, mas sempre através de conselheiros e filhos. A expectativa de vida não era nada boa, e muitas vezes havia o clássico acidente de "melancolia" que fazia com que muitas se matassem, morressem misteriosamente ou ficassem incapacitadas mentalmente de tomar decisões. Socialmente, um desastre eminente, mas literariamente não vemos essa faceta de patriarcado na principal mocinha da Mitologia.

A Literatura Medieval que ajudou a colocar esse rótulo de donzela em perigo no Feminino, já que era associado a figura de Virgem Maria tão disseminada pela Igreja na época. O que temos em nossa noção de papéis sociais é vindo desse pensamento mais elaborado que a Cultura Medieval ajudou a teorizar, tanto biológicamente quanto psicológicamente. O que vemos na Tragédia Grega, na Mitologia e nos poemas épicos é uma certa inversão de conduta quando o assunto é sobre Helena de Tróia. Vemos mulheres de presença e personalidade forte, que não são castigadas por pensarem por si mesmas, por serem elas mesmas e não seguirem tão rigidamente o que está entranhado implicitamente em nossas mentes: o modelo padrão patriarcal.

Partindo desse assunto me veio o seguinte pensamento: WTF Helena de Tróia não foi punida depois que a Guerra acabou?! A mocinha "causa" a maior guerra entre Grécia e Turquia (Tróia ficava lá) durante 10 anos e não recebe um castigo no final das contas? Simples assim de voltar pro marido, ter filhos e viver sossegadamente em Esparta até a morte a levar? Cadê as estacas com fogo? Cadê a lição de moral tão repetitiva sobre "não deixar seu marido nem que seja pelo o verdadeiro e profundo Amor" (Olha Afrodite aí, burlando regras de comportamento e esferas sociais)? Cadê o sermão de sempre sobre status social e aparências? Helena foi raptada não contra sua vontade, na verdade até quis, pois viu em Páris (Príncipe Troiano) o Amor de sua vida - e o background também não favorece, já que o mané foi vítima de uma aposta entre 3 deusas, Afrodite, Hera e Atena sobre concurso de beleza, quem ganhou foi Afrodite (as usual).

Pelos modelos sociais gregos, deixar o marido por outro é bem ruim. Agora deixar o marido, que era o Rei de Esparta, por um príncipe de um reino que não é amigável, porque achou ele mais legal? Aí sim temos um belo de um problema. Pela sua constituição meio-divina (Helena era filha de Zeus), ali naquela hora poderia ter sido o excesso de emoções que um semideus NÃO PODE cometer. Todo herói mitológico quando passava da medida (hybris) ganhava uma rasteira do Universo tão imensa que praticamente colocava tudo de sua vida a perder. E não é isso que estamos acostumados na Literatura Ocidental, quando alguém faz besteira com os deuses, acaba levando uma lambada linda que jamais vai esquecer do crime? Páris ganhou o amor da mulher mais linda do mundo, mas se ferrou em atiçar a raiva de Atena e Hera. Méh. E Helena, como ela fica?!

Vemos o quanto os deuses são imparciais quando a hybris se configura, exagerou no orgulho, no ego ou no ódio, reza pra acalmar os santos, mizifio! O exemplo de Aquiles, que levou uma flecha no calcanhar (Seu único ponto fraco) depois que profanou o corpo de Heitor (Troiano, filho do Rei) amarrando o coitado em uma carroça e ficou passeando pelo campo de batalha por 9 dias. Nada bom, dude! Você pode desfigurar o cara enquanto está vivo, mas depois que morre, não! Agamenon pagou por 10 anos em batalha quase perdida, voltou para casa e foi esfaqueado pela própria esposa (Vide post sobre a vida severina da família do rei de Esparta), Menelau ficou 10 anos esperando a esposa (Helena) voltar pra casa, além de ser taxado de o bobão da batalha, Odisseu ficou 20 anos vagando por aí até voltar para Ítaca e descobrir que já tinha gente no lugar dele, Ájax matou ovelhas e se suicidou e por aí vai e vai e vai... Todos homens, todos sofrendo de castigos divinos pela falta de humildade em Tróia.

E Helena só teve que parir 4 filhos de Páris, ficar sentada esperando o desfecho da Guerra e quando tudo acabou, voltou para casa porque não tinha alternativa alguma. Tá, um final nada bom se você não gosta de uma vida entediante, mas comparado aos outros semideuses que estavam em campo de batalha, ela não sofreu um arranhão sequer! Será que a mocinha estava "protegida" do castigo divino patriarcal - ou melhor questionando, ela foi a primeira a caminhar na trilha do preceito Feminista: a liberdade e igualdade de gêneros? Escolher o Amor acima das características de aceitação social foi o grande passo de Helena, poderia ser só um rostinho bonito, mas ela deliberadamente escolher ser levada por Páris e enfrentar 10 anos de guerra, para colher frutos enriquecidos  - inclusive uma filha chamada Hermione - escolheu ser alguém que sente desejo por alguém desconhecido e sustentar a ideia até a ultima consequência.

Mas será que esse privilégio de não ser castigada formalmente pela sociedade tinha a ver com seu status social ou pelo seu status divino? Por que é bem explicável você NÃO culpar a guria de ser linda de morrer, trair o esposo, fugir de casa, ficar 10 anos fazendo rave em Tróia, causar a grande primeira guerra, voltar para casa como se nada tivesse acontecido se você é a filha do pai do Olimpo... Ou será que estou pensando patriarcalmente demais?

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