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04 abril 2013

[conto] Trecho Final de Drumstorm

[Drumstorm foi um projeto que comecei em meados de 2009 e não vingou. A história era ambientada em um mundo paralelo ao nosso, como um mundo espelho (Onde tudo é ao contrário que deveria ser), e os protagonistas eram um grupo de jovens que enfrentavam o mundo medieval em que caíram, povoado de dragões, e coisas do tipo. Náh. Não deu certo!]

A pasta com suas letras de músicas, a mochila querendo cair pelo ombro direito, a irritante insistência do pé esquerdo doer enquanto caminhava rápido pela multidão de estudantes de Oxford. O final do 1° semestre era agitado e caótico, muitas salas e caminhos para decorar, muitos nomes e datas... A dor no pé acentuou-se ao sentar no fundo da sala de Literatura Anglo-Saxã, a mochila no chão, caderno na mesa e à procura da lapiseira dentro das suas coisas. Pela janela, os corredores pareciam lotados de gente escapando do frio do inverno, um inverno que para ela nada significava como os outros anos.

Sozinha em um mar de gente... 


As palavras do professor estavam longe, sua cabeça remoía o pedaço de jornal que conseguira com Marcus, era uma reportagem sobre uma professora de francês que ficara desaparecida por 5 anos e estranhamente foi encontrada em um parque londrino do mesmo jeito que desapareceu. Finalmente ela encontrara a passagem de volta. Deixou os pensamentos irem para o quadro de anotações que o professor fazia na lousa, a lapiseira rabiscando círculos no canto da folha do caderno, sua respiração calma e o ruído da lapiseira sendo arrastada na folha.
Uma voz atrás de si desviou sua atenção de tudo, e subitamente seus olhos marejaram vergonhosamente. A voz tão clara e límpida cantava uma música de Natal, mas a letra estava tão diferente! Atreveu-se a olhar para trás e ter a mesma visão de sempre nos seus sonhos... E lá estava ela...

Mais outro sonho ruim...

O celular no silencioso tremia ao do seu nariz, logo alcançou seu rosto, irritando Annabelle em pleno começo do dia. Ela sabia que o despertador iria tocar.
O rádio da cozinha estava mal sintonizado, Laura tossia um pouco e tentava arrumar a estação, a música deles tocando na rádio central de Londres, Danny passou pela cozinha com a escova de dentes na boca e de meias, Laura tossiu novamente, Annie afagou os cabelos dourados da menina mais nova. Dourados e ondulados como os da mãe. Danny comentou sobre a apresentação no Clube do Trevo, como Markus poderia solar por um tempo antes dele entrar com a típica instrumental irlandesa.
"Quem sou eu?" - pensou Annie e o telefone celular de Danny tocou, ele atendeu, Laura se sentou no balcão da cozinha e mastigou o biscoito crocante sem vontade. Annie sabia que ela não sentia o paladar tão bem por causa da bronquite e a dor de garganta dificultava a ingestão do alimento.
O chá morno aliviou a tensão, Laura fungou um pouco e sorriu para a irmã. Como a mãe. Danny riu com vontade no celular, era um dos seus melhores amigos que sempre ligava naquela mesma hora todos os dias, ele ajeitou os óculos e disse algo para apressar Laura com o café.

A porta se fecha, totalmente sozinha em casa...

O pé ainda dói, o sono ainda perturba, o medo de voltar para o quarto e dormir e sonhar e acordar e chorar novamente. A rotina diária, o escape para suas emoções sufocadas, a roupa ali embaixo da cama, enrolada dentro da mochila arrebentada, ela sabia. Meia hora depois estava enrolada no cobertor, abraçando a mochila com todas suas forças, as lágrimas salgando seus lábios, o celular ali do lado, pois ele continua tocar mesmo ela tendo certeza que não, então o mundo se apaga, pois ela fecha os seus olhos para que as lágrimas não a machuquem novamente (e ela teve mudar e mudou pelo seu próprio bem.).

Porque ela sempre vai ouvir os ecos da Terra a qual ela pertencia e principalmente, senão a única coisa que vai ouvir a vida toda, é o lamento de quem a ensinou a viver... Novamente...

Sozinha em um mar de gente... 

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