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21 março 2013

Experiências próprias com o Sono


[Disclaimer: assim como a Wikipédia, aqui não é uma Farmácia ou Consultório Médico. Estou relatando minhas experiências com o que ainda não tenho conclusão científica e estou procurando ajuda médica para tratar disso. Nada que digo aqui deve ser repetido como tratamento por quem se identifica com os sintomas e situações. Meu melhor conselho é: Procura um bendito de um médico e veja o que raios tá acontecendo com teu corpo.]

Nas minhas andanças pelo Sonhar, cheguei a conclusão que o sono tem sido meu companheiro mais íntimo desde a adolescência. A maior parte da minha vida foi dormindo, ou tentando escapar do sono, o que eu achava que era tédio por conta de falta de humildade de minha pessoa quando tinha 16 anos, se transformou em um tipo de monstro oculto que eu guardava debaixo da cama (esconderijo perfeito) para não mostrar o problema. Não participar de muitos eventos sociais com os amigos de colégio também, evitar sair à noite ou dormir na casa de outras pessoas também era um mecanismo de proteção. Esse é o meu estágio permanente com o Sr. Morfeu.

Post TL;DR. Se quiser ler, aguente discurso direto de impressões sobre o que pode estar ocorrendo aqui.

Durante meu tempo na escola, dormir na carteira era costumeiro. Professores não reclamavam, mas meus colegas de turma sim, pois eu perdia parte da bagunça e das conversas. Isso quando eu não chegava em casa de tarde (Sempre estudei de manhã) e após o almoço e as tarefas diárias, me via desabar na minha cama e só acordar depois de umas 2 horas de sono profundo, sem sonhos. E acordava, ficava desperta até a noite e voltava a dormir como se nada houvesse acontecido. Apesar de ter passado uma fase estranha entre os 13 pros 17, devo dizer que não me recordo de absolutamente nada, a não ser os meus sonhos (Que mantenho um diário eletrônico e físico desde então) e de sentir uma paixão imensa pela minha cama.

Atividades físicas faziam parte da rotina - escola longe pacas, ia e voltava à pé todos os dias - natação por 2 anos entre os 15 aos 17 anos, relaxei um bocado no futebol e no basquete no final do Ensino Médio, mas por razões de enclausuramento do que sedentarismo. Eu gostava do meu quarto, gostava de escrever, então passava a maior parte do tempo e só saindo de lá para ir à escola ou outro lugar mais necessário.

Viagens para casa de parentes eram raras e me faziam sair da rotina na maior parte das vezes - conversar com meus primos e jogar video-game ajudava a me manter em pé até depois das 22h - mas depois que começou a diminuir o fluxo de viagens, senti que 22h era minha hora limite e depois disso eu não me mantinha em sã consciência. Alguns episódios de alucinação com paralisia do sono começaram depois dos 17 anos, apesar de não me importar muito com isso nas vezes que tive. Me pegar escrevendo coisas nada a ver enquanto ficava no computador em estado de sono perpétuo também me surpreendia. Não, nada muito macabro, mas palavras soltas mesmo. Só fui entender isso depois de saber de Semântica na Faculdade.

A ironia do Destino é que nessa época eu já havia começado a escrever mais profundamente sobre background de personagens e alguns tinham características narcolépticas, até eu ver em um seriado da Fox - Dark Angel - um cara que literalmente apagava na cadeira após rir à beça de uma piada. Aí sim a curiosidade tomou conta e o interesse literário pela comicidade da situação.
Fui investigar: Narcolepsia.
Soava bem para dramas psicológicos, parecia legal em fazer um personagem que constantemente tinha que evitar contatos muitos estreitos com pessoas para não poder ter emoções fortes. Mal eu sabia que era projeção do subconsciente funcionando a todo vapor ali.

Na Graduação a situação melhorou, já que era no período noturno, perto de casa e conseguia manter o ritmo durante o dia todo, mas quando as aulas de Linguística chegavam ou eventos no Auditório da PUC aconteciam, era infalível: dormir por pelo menos uns 20 a 30 minutos era clássico. Acordar como se nada houvesse acontecido também acontecia. Eu evitava o auditório de qualquer jeito e definitivamente odiava minhas aulas de Linguistica. Sábado de manhã era Literatura ou Sociologia, então não tinha como conter o sono, a motivação do pessoal na manhã de um sábado era comparada a um cemitério no meio da madrugada. Silêncio, mais pouca motivação visual é igual sono. Dormir na carteira sempre, ninguém reclamou. Apenas uma professora me perguntou se eu tinha algum problema pessoal para estar dormindo em toda santa aula - mas a aula era boooooooring! - mas não, não havia problema pessoal algum, apenas acontecia e eu não conseguia ficar acordada.

No trabalho, a sonolência vinha na parte da tarde, sempre engatilhada após o almoço - comida mineira é pesada por natureza, tá? - e com o pouco movimento na loja onde eu trabalhava. Como precisava me manter em pé quase o tempo todo, era fácil driblar a sonolência, o ruim eram os joelhos que fraquejavam aqui e ali quando eu menos percebia. Nenhum acidente grave, nenhum constrangimento terrível. As pessoas levavam na esportiva quando acontecia muito na cara e algumas medidas drásticas foram tomadas para me manter bem. Familiares nunca ligaram - ou não falaram - e confiar neles é algo difícil quando você se encontra em uma situação de sono extremo sem conseguir explicar o porquê. Por muito tempo achei que era "cansaço, estresse, tédio" como os parentes falavam, mas acontecia tão frequentemente que foi me deixando com curiosidade.

Ir ao médico era difícil, até porque a minha época de adoecer mesmo havia acabado ao completar 13 anos - e uma bendita duma injeção contra sinusite e rinite que jamais irei saber o que tinha - então se tornou irrelevante me tratar de algo que eu achava que fazia parte já da minha rotina. As alucinações com paralisia aconteciam e eu culpava a comida que comia na noite anterior ou acontecimentos pessoais (Nada relevantes agora para causar esse tipo de reação). Cheguei até cogitar que talvez estava em conexão com algo superior - vá lá ver o que os religiosos acham sobre esses episódios de alucinação. E como a Graduação me tirou qualquer resquício de Fé em qualquer coisa, achei que estava perdendo alguns parafusos no processo. Acontece, me acostumei com isso.

Depois dos 21 anos é que a coisa apertou de vez. Três pessoas muito chegadas a mim disseram que eu tinha um comportamento estranho enquanto dormia e por algumas vezes se sentiam preocupadas no que fazer quando essas situações aconteciam. Uma relatou que eu literalmente apagava durante conversas e ficar ali inerte, até acordar 20 minutos depois como se nunca tivesse dormido. Isso não acontecia uma ou duas vezes, eram várias durante um dia todo. Essa mesma pessoa mantinha um carinho especial quanto ao meu sono e me deixava dormir o quanto eu pudesse. Já as outras duas pessoas viram eu ter um episódio de alucinação hipnopômpica e me deixaram como estava para não me perturbar. Me disseram que cheguei a levantar da cama e falar alguma coisa (Mas a voz não saía ou estava muito embolado para entender) e voltar a dormir novamente. Meia hora depois acordar tudo bem e sem eu me recordar de ter feito isso, mas de saber que estava acordada até certo ponto do processo.

O estranho foi perceber que em situações de extrema emotividade, eu ficava drenada depois de tudo. O show do Rammstein no Via Funchal em 2010 me drenou ao ponto de na metade do show eu sentir algo estranho como cansaço físico e euforia misturado, mas mesmo assim aguentar até o final e até ficar acordada após às 1h devido o trânsito para onde eu estava dormindo. Essa sensação ainda continua (No Mademoiselle K fiquei letárgica após alguns minutos de música), principalmente quando é algo que me exige esforço emocional ferrado.

A época de reclusão voltou porque percebi que estava demais essa de dormir do nada em lugares improváveis. A preguiça mental estava se mostrando mais nítida e o "cansaço" de tudo estava chegando. Não me divertia com as mesmas coisas e muito menos me sentia à vontade para sair. Algumas mudanças significativas na minha vida foram acontecendo - e eu me adaptando conforme podia, até vir a quarta pessoa  para me dizer que raios tava ocorrendo.

Essa quarta pessoa tem raiz forte na Espiritualidade e me aconselhou em diversos âmbitos da minha vida, mas me assustava dormir em sua casa e ter os episódios de paralisia e alucinação. Foi a primeira pessoa que falei abertamente sobre o que me ocorria desde a adolescência e algumas considerações foram feitas sobre o caso. Decidi adiar uma visita ao médico para poder me conectar a algo muito além de minha percepção e os resultados foi bons. Mas o sono persistia. Se tive insônia em minha vida foi por apenas alguns dias, mas o "cansaço" sempre vencia no final das contas. As paralisias e alucinações se tornaram constantes, assim como alterações de humor de minha parte e peso. Duvidar da Sanidade se tornava uma constante, já que passar quase 10 minutos achando que tinha alguém no meu quarto sem eu poder fazer nada era horrível. Isso quando não vinha o modo Freddie Krueger e sentia que a coisa/alguém tava em cima de mim me sufocando ou fazendo algo muito errado. Acordar em pânico depois que terminava e perceber que estava dormindo o tempo todo me preocupava. Percebi pelo padrão que as vezes o combo paralisia + alucinação me vem com noite agitada de sono, ou alguma coisa que ocorreu no dia anterior para me deixar muito agitada (Não na margem de estresse, mas coisas emocionais que deixam as pessoas agitadas).

Nessa mesma época tive episódios de Sonhos Lúcidos. Aí sim foi a parte legal de toda essa bagunça onírica, a criação literária também, btw. Apelidei o querido Morfeu de "patrão" e encarei o estágio no Departamento do Sono, melhor levar com humor do que ter problemas de aceitação depois.

Mudar para Florianópolis agravou um bocado o estado de sonolência. O clima daqui é mais frio, propenso a me aquecer o máximo possível - até no verão quando todos estão pingando, eu sinto frio (Malditos ar condicionados!). A comida também mudou drasticamente a alimentação e quando posso estou ingerindo carboidratos e proteínas de tudo quanto é tipo - e sempre com as comidas mais pesadinhas para variar. Nada que experimentei até então funcionou para me deixar em alerta: Café, energético (quase todas as marcas no mercado), guaraná em pó, açaí, chá preto, chá verde, coca-cola, nada adianta comigo. Posso tomar litros de qualquer um desses e cair no sono minutos depois.

Mudar a alimentação está sendo meu primeiro passo antes de ir no Instituto de Sono que tem aqui em Floripa, ver se é a alimentação que está desequilibrando a coisa toda, mas mesmo assim nenhuma diferença até então. Tentei um combo de Chá Mate com guaraná e açaí no Rei do Mate e fiquei bem por algumas horas, para entrar no ônibus para voltar para casa e desmaiar literalmente. Oh sim, ônibus é meu grande calcanhar de Aquiles, irei dormir imediatamente dentro de ônibus se não tiver estímulo visual (ler livro/quadrinhos) ou auditivo suficiente (ouvir música com fones de ouvido não adianta na maioria das vezes, mas alguém gritando uma conversa me deixa bem acordada).

Comecei um tratamento de 45 dias em um Endocrinologista, e apesar dos exames todos, ele só pode suspeitar de um Hipotireoidismo para melhorar a taxa de TSH que eu estava bem abaixo do normal. Sem eficácia do medicamento. A principal certeza que poderia ter que era Hipotireoidismo era algum caso semelhante na família, nope, ninguém na minha família tem fama de dorminhoco, cansado socialmente e definitivamente não caem por aí de sono ao acaso. A maioria é ativa até demais e a outra parte é depressiva demais para querer se cavar muito. Minha sobrinha mais velha tem problema na tireóide, mas é ligado com o hormônio de crescimento dela - ela sofreu de insônia por um bom tempo, mas recuperou assim que começou a repor o tal hormônio - e pelo que eu saiba parentes diretos só apresentam problemas com pressão alta. Por mais uma mudança e minha descrença no que o Endócrino sabia sobre meu estado - o interesse dele em me receitar um estimulante caro qualquer me deixou realmente tocada.

O que mais incomoda mesmo é a cataplexia (todos os dias, antes de dormir, tenho algo assim. Deixo celular cair em cima de mim enquanto estou deitada, caio no sono assim como estou na cama, acordo com a cara no teclado do notebook), porque literalmente não tem como conter os apagões que dá. E nem como disfarçar, já sofri algumas quedas menores como escorregar cotovelo da mesa que me apoiava, acordar com a cara no teclado do notebook, ou pingar/pescar de sono até finalmente sentir a queda do corpo na cadeira. Nada bom. A hipersonia é fácil de disfarçar caso você tenha algumas skills de graduação noturna xDDD o modo psicografia me é o mais eficiente - mão na testa, cobrindo os olhos para a pessoa não ver que caiu no sono. Esfregar os olhos também ajuda a ganhar tempo para afastar a sensação. Mas chega uma hora que não adianta e alguém percebe.

O preço do tratamento também não está sendo bonito, as consultas anteriores me custaram quase R$ 500 ao todo, além de despesas de deslocamento, sair em horário de serviço e horas de espera na fila apesar de ser particular. O preço de um exame com um Neurologista na clínica que primeiramente  me respondeu sobre o assunto é R$ 300 e sabe-se lá quanto eles vão me cobrar para a Polissonografia. Melhor pegar um exame completo caro e que me dê certeza do que eu NÃO tenho, do que ficar gastando aos pingados com médicos que vão só receitar o básico e me fazer voltar neles mais do que o necessário.

Hipócrates era um cara muito chato, apesar de necessário.