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18 março 2013

De boa na Lagoa - meu St. Paddy 2013

Dia 17 de março para mim é quase tão sagrado quanto dia 31 de outubro. Não por serem feriados internacionais, mas por estarem ligados a práticas de muuuuuuito tempo atrás, bem além do meu entendimento.

Dia de São Patrício é como Natal para mim, dia de ficar feliz, usar verde e espalhar boas vibrações para quem quiser recebê-las. Todo o Universo pode ser uma caquinha, mas não no dia do maior feriado irlandês. Como postei anteriormente, há os que discordam da adoção desse feriado por conta da ligação com o santo católico que representa a Irlanda. Haters gonna hate, mas para alguém que crê por tabela em um universo mágico e invisível como eu, não ligo se for no mesmo dia em que o cara que acabou com o paganismo comemora aniversário/morte. O importante é que essa data está há séculos na pauta e juntamente nesse dia que coisas boas acontecem, perder isso por conta de anti-feriadismos é besteira.

Lots of glamour, lots of them...



Desde 1999 comemoro ativamente esse dia. Mesmo que caia no dia de semana, tenho que usar verde e fazer algo para pregar na roupa para lembrar o quão irlandesa eu sou, mesmo tendo nascido na terra tupiniquim há 26 anos atrás. I don't mind, gosto de manter o modo irlandesco quieto por um tempo, mas no dia 17 não há como não segurar. Os irlandeses fizeram parte da minha vida sempre, música e literatura principalmente, até as semelhanças com o modo de ver a vida no modo trágico, mas cômico-satírico. Todo irlandês é troll, não importa o que possa acontecer, eles sempre terão piadinhas infames para momentos mais funestos (Vide Oscar Wilde, plz?). É essa a alma irlandesa que me permeia, um serzinho miserável chamado Liam que gosta de se enfurnar em pub's, ouvir música típica da terrinha esmeralda, apreciar uma boa dry stout e comer batatas até dizer chega. Lonely Soldier, go home...

Mesmo enquanto estava na roça de Betinópolis, comemorava de alguma forma. Não havia Guinness around, mas me virava com as batatas (Sempre presentes!!) e adereços irlandeses. Tocar em uma banda com influências irlandesas também me trouxe boas experiências com o lado irlandês da vida. E até o ano de 2011 a vida seguia no mesmo ritmo de ser o mesmo tipo de comemoração. Minha cisma com celtas não é de hoje e desconfio claramente que tenho um débito lá no Eire para pagar - e é débito de vidas passadas. Em Belo Horizonte não havia muita mobilização para o feriado - era sempre mocado, em bairros longes pra caçamba, com possibilidade de volta nula - mas agora que saí de lá percebo que havia um movimento bom surgindo em comemoração ao dia mais sagrado irlandês.

Vir morar em Floripa é que mudou a perspectiva. Meu primeiro St. Patrick (2012) foi em casa, com a confecção de uma cartola em papel cartão e improvisar alguma coisa com roupas. Na trilha sonora foi Acústico do The Corrs (É como hino religioso pra mim), Dervish, e as músicas tradicionais engraçadas. Batata recheada (Meu orgulho culinário até agora) e a stout Murphy's deram cabo para o dia, foi feliz, foi legal, foi na medida certa. Já esse ano (2013) como a vida está em constante mudança e tenho que me adaptar a todas sem perder o reboladinho, resolvi enfrentar alguns obstáculos para ter o melhor dia ever. E tcharam, sobrevivi!

Tudo começou na tarde de sábado (16), em que peguei a minha regata cinza e mandei brasa no handcraft improvisado. Óbvio que perfeito não ficou, mas até que o trevo ficou fofo. A camiseta foi feita com pincel marcador permanente preto e verde (Não havia aqueles pincéis de tecido, pena, sairá na 1ª lavagem) tinta de tecido, verde, branca e laranja, nada de pincel! Use os dedos, oras!


Os improvisos foram no final da noite, porque só o trevo e as marcas da bandeira não eram suficientes. Depois de "manchar" sem querer um, tive que fazer o mesmo efeito no resto. Até ficou apresentável! O Irish Soul é um jargão usado de longa data e felizmente ele é mantido até hoje para me lembrar de quem eu fui e quem eu sou.

A cartola foi o mais trick. Comprei a base em uma loja de fantasias lá da Palhoça (a coisa vem cheeeeeia de glitter e purpurina, bem beeesha, do jeito que eu gosto xD), precisando dar uma ajeitada nela, papel cartão verde e laranja (Amarelo escuro também serve), supercola e muita paciência. Como a supercola não vingou ao colar o papel cartão (Saía o tempo todo), tive que colocar fita durex por dentro e obrigar a supercola grudar. Muita calma nessa hora porque colar os dedos é trivial aqui. Os pregadorezinhos arranjei numa loja de flores no Beiramar Shopping e coloquei para enfeitar ao invés de fazer um trevo. Ficou diferente e deu um peso bom pra cartola - saía muito fácil da cabeça.

Uma faixinha verde trançada de 1m encontrei na lojinha de aviamentos perto de casa, sem surpresas aqui, só fazer como uma pulseirinha e amarrar. Outfit completa com saia verde indiana (I know, misturou culturas, but yey, who cares?), meia listrada e All Star verdenho. Mais Irish que isso, só se tivesse uma bandeira da Irlanda como capa, hahahahahaha. Nenhum animal ou fada foram afetados nesse processo, 1 dedo e meio foi colado com supercola, muito glitter espalhado everywhere e sensação de que o dia de 17 de março iria ser awesome.

Fazer isso sozinha é algo que vem dos anos comemorados. Não são muitas pessoas que compartilham da mesma animação ou tem disponibilidade de ir para o outro lado da Ilha para apreciar um irish pub. Forever alonismo de minha parte, mas no final das contas é uma diversão/tradição que deve ser mantida mesmo sem companhia. A escolha de pub foi certeira - O Black Swan na Lagoa da Conceição é de longe o melhor pub que já entrei na minha vida (Comparado aos lá do Rio de Janeiro, ele é beeeeeeem mais limpo e energia mais limpa). Havia o St. Patrick também, mas não me atrevi a chegar perto, os caras não postaram programação alguma e as resenhas no Foursquare e Google+ não eram lá as melhores. E eu precisava de um lugar para comer também. Não poderia sobreviver ao dia só na Guinness. A Academia da Cerveja ali perto do Beiramar Shopping tinha uma estrutura boa para comida + bebida, mas cobrou quase R$ 50 de "passe" para chopp verde e Guinness à parte e de latinha.

Se é pra tomar Guinness de latinha tem o Angeloni perto lá de casa. Compro mais barato e tenho a mesma impressão em casa. A ida para lá foi com diversos pensamentos... Ao pegar o Canasvieiras/Lagoa tem ótimos lugares para se ver enquanto está no ônibus e passar pelo Rio Vermelho foi como andar em Betinópolis again, sem brincadeira. Comentei no Twitter o quanto as casinhas de quintais enormes pareciam com a antiga cidade onde habitava e a quantidade de vacas e cavalos na pista me surpreenderam. Fazia calor suportável, mas ao entrar no Parque Ecológico do Rio Vermelho a atmosfera pareceu tomar conta de tudo. Baixou alguns graus na temperatura e ainda bem que estava munida com um casaco, a vista do lugar é literalmente árvores, all the time. Mas você vai percebendo umas nuances de rios, morros, um lago e bem... Vacas. Sim, tenho problemas com elas. Jogo Diablo há anos, como não ter problemas com vacas...? Praia Mole feroz de um lado, morro verde do outro. Gente pendurada em cabos lá em cima fazendo alguma coisa insana. Uma guriazinha na minha frente com rosto grudado no vidro admirando a água cristalina do começo da Lagoa. O silêncio geral dentro do ônibus me fez perceber que tudo ali naquela área estava pedindo para um apelo velado de mudez das pessoas. Apenas fique sentado e observe. E foi o que fiz.

A Lagoa da Conceição me encantou na primeira virada na Rodovia 406 lá em cima. Nunca estive aqui enquanto morava há um tempo atrás, e o pouco que me lembro de visitas à Ilha não compreendiam essa parte Leste. O lugar é lindo. Sério! Apesar da bagunça da especulação imobiliária - muitas casas a beira da estrada e da Lagoa para vender e alugar - havia um sinal de Glamour raro ali. A beleza natural do Parque não termina com mato, mas começa com a Lagoa e aí sim vemos o quão precioso é ficar calado nesses momentos, o som das ondas minúsculas chegava até a janela onde eu estava e apesar da rua estar movimentada aquela hora, dava pra notar nitidamente o movimento da maré.

A movimentação também estava grande devido ao Festival Nipônico na Praça Pio XII, e todos os bares e restaurantes estavam abertos, quase tive minha saia puxada por uma menininha pequena que soltou no ponto antes do meu, o pedacinho de gente estava tentando se apoiar em algo para descer os degraus, antes da mãe conseguir resgatá-la com a mão. Foi engraçado a reação da menina ao ver que minha saia não aguentaria o peso de descida dela, e mais ainda a da mãe - que ficou envergonhada, mas eu tranquilizei de boa - ao ver que a menina tinha tomado a atitude de descer antes dela. Crianças: sempre me fascinam com essa vontade de ferro em desbravar o mundo estranho.


O Black Swan acertou em tudo. O preço (R$ 25 para entrar, comida grátis, bebidas com desconto), o clima, a música, o pint de Guinness direto do barril (500ml de pura alegria gelada), o Irish Stew com muita batata e carne cozida (E a cozinheira foi linda em colocar PÁPRICA como tempero!!), as famílias passeando para lá e para cá, todas as pessoas que vi estavam de verde e gringos everywhere. As crianças que me eram o mais interessante por ali, todas com chapéus de leprechaun ou boinas de arqueiro, cada uma com seu ritual de conhecimento e socialização. Não havia grupinhos ou aquelas separações de mais velhos e mais novos, todas as crianças (cerca de 10 para 12) estavam envolvidas na mesma brincadeira de "descobrir" as coisas engraçadas do bar diferente. Checar o balcão, apontar para os quadros, correr e escorregar pelo chão de madeira maciça, fazer perguntas a funcionária em especial que cuidava das crianças (Pessoa muito paciente ao meu ver), ir lá fora no lounge e ficar se escondendo entre os arbustos e entrar no modo imaginário que todo grupinho de crianças pode fazer em poucos minutos.

Cheguei muito cedo de propósito - o estômago falou mais alto e a era em um bairro do outro lado da Ilha - e eu sabia que estaria vazio, mas a quantidade de famílias é que me surpreendeu, todo mundo de boa no lounge, comendo, bebendo e vestido de verde. Até as vovós usavam as cartolinhas, hehehehehe. O lugar em si é um espetáculo. Típico pub, tudo muito sombrio e música boa. O lounge era ao ar livre e como estava sol, não me atrevi a ficar por lá. Uma funcionária me informou que no 2º andar havia uma mini biblioteca com livros em inglês e sobre irish stuff, mas só abria durante a semana, yaaaayness!

Após às 18h haveria música com DJ e uma banda de soul/brass (Yeaaaaah sim!!) tocando soul e blues às 20h. Para mim era impossível ficar até essa hora pelo simples fato que voltar para casa me renderia cerca de 3 horas de viagem e estar vendo o mundo dobrado no final do 1º pint me preocupou. Yep, Guinness de barril é MAIS poderosa que a de latinha. Não só o teor alcóolico é potencializado, como o sabor. O flavour de malte é mais apurado e definitivamente o gosto de café fica por um bom tempo. É ótimo, mas já mencionei que tinha que voltar para casa em uma viagem longa?

A música foi a minha cereja de bolo, era quase The Corrs o tempo todo (As instrumentais) e old irish drunk songs (Aquelas engraçadas que citei ali em cima, que parece que o vocalista tá nas últimas ao cantar). Esperei meu Irish Stew e fiquei a observar o balcão. Era deveras um lugar de muita história para contar! O dono é um senhorzinho de cabelos brancos, com um sotaque aparente, mas afiado no português. Deu boas vindas a todo mundo que passou no balcão e continuou na tarefa dele lá dentro. Em minhas deliberações, o pensamento de voltar ali com um caderninho de anotações ou meu diário de sonhos era urgente, o lugar todo te inspira a escrever sobre qualquer coisa, mesmo que os outros estejam no modo partie hard. O bom é que há conexão wireless aqui (Senha com o pessoal do caixa) e lugares estratégicos de colocar o carregador para celular ou notebook, tudo pronto para uma sessão de escrita livre \o/. Depois de um tempinho me vem um prato desses:

Irish Stew. Okay ensopado irlandês. Esperava um potinho com coisas estranhas, mas aí o purê. O PURÊ!! Estava tão nomnomnom que pedi mais outro por culpa dessa delícia feita com batata. A páprica ajeitou o paladar direitinho, o ensopado de carne cozida estava sem sal, e o tempero exótico fez o serviço direitinho. O combo Guinness + THIS fez a vida ficar mais colorida. Buuuuuuuut o 2º pint me deixou out of space. Havia mais um 3º para consumir, e é claro que voltar para casa em estado bom, eu não iria. But it's St. Patrick's Day, everything is bearable like an Irish can take it.

Life is not fun when the world is spinning around you (#angiefeeling)

Terminei meu 2º prato, terminei meu último pint para ver se curaria a dizzyness do 2º, juntei minhas coisinhas e resolvi encarar a volta mais longa de minha vida. Ônibus na Lagoa é raro, mais raro ainda quando é domingo, esperar foi a solução, o problema da visão dupla estava no auge, mas graças a Santa Káli (E São Patrício) havia mais pessoas comigo no ponto. Todo mundo perdido também, ir para o TILAG (Terminal de Integração da Lagoa) era a solução. Os pingados que foram comigo descobriram que infelizmente o próximo ônibus saía 1 hora depois. Ir para o TICEN (Terminal de Integração do Centro) é a única maneira de sair daqui o mais rápido. O problema: Seguir para o TICEN é dar a volta na Ilha toda praticamente. Okay, vamos preparar o traseirinho pseudo-irlandês...

Com os horários coincidindo, consegui pegar todos os ônibus que deveria, totalizando cerca de 3 horas de trajeto entre a Lagoa e a minha casa. Se eu quis algum dia dar uma volta pela Ilha, finalmente consegui. Só faltou a região Sul para completar o tour. A ansiedade por chocolate aumentou no TICEN e precisei dar uma pausa para poder comer o máximo em glicose possível, depois disso, de nada mais me lembro (quotando Leilinha Lopes). Aliás, isso me lembra de três coisas que testei no caminho: tuitar enquanto estava em estado de wasted away - deu certo, quase nenhum erro gramatical, nada embolado, até consegui falar ao telefone. A teoria que todo bêbado SABE o caminho de casa - checado, cheguei inteira e salva - e a da amnésia alcóolica - nope, lembro de tudo que fiz, escrevi e falei. Só não sei como estava andando direito e como consegui ficar acordada até chegar em casa.

No saldo de perdas e ganhos, foi um São Patrício especial. Desprendido do modelo padrão que eu seguia antes, mais bem comemorado e certamente mais animado. Seria legal se desse para ficar por mais tempo  (Aquela banda de brass parecia ser muuuuuito win!), mas devido as condições de trânsito, impossível pegar táxi ali no local (Informaram-me que sairia uns R$ 90 reais no mínimo!).


Então conheci o belo Cisne Negro e com certeza irei voltar lá por mais vezes, é um ótimo para se inspirar em lugares que não mais nos está ao alcance, além de talvez poder me ajudar nas investidas do Projeto Changeling que está no forno desde fevereiro desse ano. A lição aprendida é: Páro no 1º pint, me encho de Schwepps depois. O irlandês miserável que vive dentro de mim tem tendências a reminiscências ao ingerir muita Guinness...

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