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20 janeiro 2012

Contos Espalhados - Vozes

[originalmente escrito em 14:39 25/10/2007]

Vozes.
Vozes por todos os lados, vozes de poucos que contém meu coração
Vozes de muitos que sequer não estão mais
Vozes de alguns que me lembro
Vozes ao longe, ao léu, do além
Vozes.

Difícil explicar o que se assucede.
Vozes por todos os cantos.
Como acreditar em santo que não existe
Santo vivo que festeja o nosso dia
Prece mal resolvida mais atendida
Vozes de anjos que não tem asas
Não são querubins, não pretendem te levar ao Céu
Apenas anjos de carne e osso
Que fazem o dia melhorar sem trombetas
Que fazem sua vida melhorar sem promessas

Vozes
Vozes do além de Deus de Eru
Vozes que não vou escutar tão cedo
Vozes de quem não está por perto
Telefone
Vozes

Já tenho esse costume de dizer que mal sei escrever poesia, e não sei. Poesia é coisa abstrata de coisas mais abstratas ainda. Pode falar do real, mas sempre será no imaginário. Textos são de minha preferência, eles explicam bastante coisa com muita enrolação. O que se compara ao que eu faço da vida, escrever. É complicado viver de escrever e escrever do viver, ainda mais quando não se sabe fazer poesia. Tudo vira real, concreto, mecanizado. Posso culpar a sociedade, posso falar que é o sujeito fragmentado, posso dizer que é outra manifestação artística, mas tudo que sobra são vozes. Como no pseudo-poema ali em cima.
Como a minha vida continua seguindo.
Por vozes e apenas vozes.

Você nasce, cresce, reproduz e morre, postulou alguém aí. Eu acredito piamente no que ele diz, eu vivo o que ele diz. Você nasce e tem alguém que está do seu lado ensinando o que fazer ao crescer. Você pode culpar a sociedade, falar do sujeito fragmentado, dizer que é manifestação corporal ativa de algum ser parecido com você, mas tudo acaba em vozes.
A 1ª voz que você ouve ao nascer. A 1ª voz que te ordena. A 1ª voz  que te diz "eu te amo", mesmo você não sabendo do significado das palavras, você algum dia tentará acompanhar o mesmo caminho, tentará seguir a mesma corrente, mas como aquele famoso filósofo falou, nunca somos os mesmos ao passar por um fio d'água duas vezes.

Ida e volta. Coisas que não retornam, sentimentos que ficam ali trancados até uma voz desprender o que você gostaria de sentir. Porque sentir são exercícios de voz. Cada vez que você fala uma coisa, você está demonstrando os seus sentimentos.

Vozes.
Começa e termina nela.
Você nasce, cresce e esquece que ela existia antes mesmo de você. A voz que te guia para os caminhos corretos, a voz que te mostra o teu erro, a voz que te acalma numa noite de quarta-feira, a voz que parece cansada e admite que esteja cansada, mas que ao mesmo tempo vai retirando todo o seu cansaço. A voz de quem você ama.
Você sente porque você fala, não pelo que você sente.

Para alguns demora a perceber o quanto a voz é importante. A voz que te cala, que te repreende, que te humilha, que te amaldiçoa, que te prende ao círculo vicioso da vida. Nascer, crescer, reproduzir e morrer.
Última coisa que vai ouvir e primeira coisa que irá escutar ao acordar.

Forma mínima e medíocre de falar: "Escrever"
Escrever é simplório perto da voz. Escrever é tentar expressar com pares de coisinhas escritas em papel vagabundo o quanto se sente. Na maioria das vezes, culpar a sociedade, falar do sujeito fragmentado, dizer que é manifestação apostólica de alguma entidade divina. Ela tem voz, você não.
Então você escreve, eu faço isso também. E sou exatamente medíocre por essa razão. Eu escrevo pra não admitir que sinto, que falo, que quero ter razão de viver.
Eu escrevo. E faço isso bem. e vou fazer isso sempre quando puder para o resto da minha vida.
Nascer, crescer, escrever, reproduzir o que escrevo e morrer escrevendo.
Ponha os meus livros e escritos no meu caixão, feche e beije.  Daqui pra eternidade morrerei com livros debaixo da terra.
(E eu desisto de poesia, mas ainda desistirei de escrever.)

Vozes dos sonhos que me dizem como agir.
Foi meu subconsciente inconsciente em estado de semi-servidão. Posso culpar a sociedade, posso dizer que é o sujeito fragmentado, posso até dizer que é manifestação de Nienna em meus sonhos, mas não irei ouvir a voz dela em meus sonhos.
A 1ª voz que você acorda, a última voz que você pensa ao dormir.
(A música chega perto, mas agora prefiro que as notas falem por si só, elas sim falam de verdade, parecido com as vozes que ouço quase todos os dias da minha quase vida.)

De todas que escutei apenas poucas deram importância ao meu silêncio, ao meu escrever, a minha mediocridade de escrever tão escondida do sentir. Poucas que nem ouviram o que eu escrevia, mas leram e acharam que seria bom eu falar mais delas. Mas ainda tenho vergonha e provavelmente morrerei com elas só escritas.

A voz.
A sua voz principalmente.
A voz que me obriga a admitir quando estou errada, quando sou fraca, quando tenho medo. A sua voz e a de mais ninguém. Até a de quem eu achava que conseguiria extrair o meu eu de mim mesma não consegue chegar perto da sua entonação.
A sua voz. A de mais ninguém.
As palavras escritas complicam muito a nossa vida não é?
Olha só o que escrevi em menos de 20 minutos. Para falar eu demoraria uns 20 anos no mínimo.
Escrever é um ato vil contra os sentimentos. Palavras não sentem, elas incitam o sentimento, mas nunca a vontade.

Vozes.
De todas a sua eu prefiro anteriormente da gente se conhecer.
A sua voz que está cansada em uma noite de quarta-feira em algum canto do seu quarto e eu aqui no meu exercício de sentir.
Queria ter palavras escritas para definir o que é sentir a sua voz, mas ainda não inventaram algumas palavras para essa finalidade. Eu posso culpar a sociedade, falar que é o meu sujeito fragmentado, dizer que é uma manifestação de Mandos vingativo sobre minha vidinha de escrever, posso escrever sobre tudo isso, mas a cada dia que passa eu percebo o quanto é difícil falar a frase mais singela do mundo.

Não, não é a famosa: "Eu te amo"
É "Ammë" mesmo...

Aliás... A 1ª fala que a gente tem depois de nascer e provavelmente a última que ficará no fundo da nossa mente quando morrermos.
(E cada dia que passa é mais dificil ainda dizer a outra frase, mesmo que seja o que a gente sente de verdade, mas não tem coragem de dizer.)

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